Capítulo 9

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Acordo com menos dor que no dia anterior, mas tomo um remédio mesmo assim. Depois de me arrumar para a escola, tomo café da manhã e vou caminhando devagar até lá.

- Por que não veio para a aula ontem? - Natanael pergunta assim que me ver.

- Tive um contratempo. - respondo tentando não me irritar com ele. Detesto que me façam perguntas.

- Hum...como conseguiu esse machucado na boca?

- Como? - pergunto parando de andar.

- No canto da boca, está machucado. Mas só dá para ver de perto. - ele explica.

- Ah... - volto a andar - Eu não gosto muito de perguntas, então se puder evitá-las eu agradeço. - falo.

- Tudo bem. - ele suspira.

Continuo andando calada até que Brenda passa por mim e bate o braço na minha barriga, de propósito.

- Foi mal, Belinha. Eu sinto muito mesmo, soube que machucou a barriga, espero que não tenha perdido o bebê. - ela sorri venenosa e sai antes que eu fale qualquer coisa. Até porque eu não conseguia falar, a dor volta com tudo.

- Está tudo bem, Isabella? - Natanael pergunta e afirmo com a cabeça - Eu não acredito em você. - ele fala e levanta a minha blusa.

Tento evitar, mas ele segura minhas mãos com uma das suas enquanto a outra segura minha blusa. Natanael analisa minha barriga por alguns segundos.

- O que aconteceu? - ele quis saber.

- Não te interessa, estúpido. - me solto dele e vou para minha sala.

Durante os primeiros minutos de aula, Natanael não aparece. Começo a estranhar sua ausência, mas logo ele entra na sala acompanhado pela secretária.

- Isabella, o diretor quer conversar com você. Agora. - ela diz.

Olho para Natanael e sigo a secretária.
Entro na sala do meu pai.

- A secretária disse que quer conversar comigo. Fiquei bastante surpresa, essa é uma baita novidade. - falo.

- Tira a blusa. - ele manda.

- Não. - falo.

- Eu estou mandando, Isabella. Tira a blusa. - ele diz aumentando o tom de voz.

- Eu não vou tirar nada, não confio em você. - digo no mesmo tom que ele.

- Isabella... não me faça tirar à força. - respiro fundo e tiro minha blusa, ficando apenas com a calça e o sutiã, deixando o roxo na minha barriga à mostra.

Meu pai me olha por alguns minutos e começo a me incomodar. Ele levanta e se aproxima de mim. Analisa meu rosto e suponho que esteja vendo o machucado no canto da boca.
Ele olha os meus braços e costas, à procura de mais algum machucado. Também tem um roxo enorme nas costas, causado pelo chute que levei.
Meu pai passa as mãos pelos cabelos e continua me olhando com uma expressão indecifrável.

Me deixando totalmente surpresa, ele me abraça.
Fico em choque e acabo não retribuindo o abraço.

- Quen fez isso com você? - ele sussurra a pergunta.

- Não foi ninguém... - respondo.

Meu pai se afasta de mim e me manda sentar. Sento na cadeira de frente para a mesa enquanto visto minha blusa. Ele senta na cadeira ao lado da minha e me olha atento.

- Quem fez isso? Não esconda isso de mim, Isabella. Essa pessoa tem que pagar pelo que fez com você. - ele estava irritado, mas não comigo. Pela primeira vez em anos, ele estava irritado com alguém que me fez mal.

- Ele já está preso, não se preocupe com isso. - falo séria.

- Por que não me contou? - ele quis saber.

- Está brincando? À oito anos eu não te conto nada da minha vida. Você, simplesmente, não se interessa. - falo fria.

- Não dá para falar com você... - ele diz e levanta se afastando - Pode voltar para a sua sala. - ele diz de costas para mim.

- É sério isso, Rogério? Você não aguenta ouvir a verdade, você sabe que o que eu falo é verdade. - levanto e saio da sala dele.

Volto para minha sala e encaro o Natanael com raiva enquanto sento no meu lugar.

- Você me paga. - falo baixo.

- O diretor pode te ajudar. Ele pode falar com seus pais e saber o que está acontecendo com você... - o interrompo.

- Você não tem que se meter na minha vida. - ele dá de ombros.

- Pelo menos, eu tentei te ajudar. - reviro os olhos e começo a prestar atenção na aula.

As aulas passam rápido. Não vou para casa depois que saio da escola. Passo no mercado e compro uns lanches. Depois vou para o parque mais longe da minha casa que conheço. Sento na grama e faço meio que um piquenique sozinha.

Observo as poucas pessoas ali. A maioria acompanhada.
Meu celular começa a tocar e vejo que é a Vânia. Desligo o aparelho e jogo dentro da bolsa.
Não quero falar com ninguém, não quero ver ninguém. Só quero ter o resto da minha tarde de paz.

A Filha do DiretorOnde histórias criam vida. Descubra agora