Saio de casa sem que o meu pai veja. Vou até o shopping e, na praça de alimentação, ligo para Ruan. Ele logo aparece e senta comigo.
- Você, com toda certeza, já sabe a última do Rogério... - falo sem o olhar.
- É... Eu meio que fui o padrinho dele. - suspiro - Você parece não ter reagido bem com a novidade.
- Como você queria que eu reagisse? Pela primeira vez, em oito anos, o meu pai me chama para conversar e me diz que se casou. - olho para ele.
- Eu, realmente, não sei o que dizer.
- Cinema? - pergunto e ele concorda com a cabeça. Assistimos um filme que Ruan escolheu, mas não prestei atenção. Não conseguia tirar da cabeça as palavras de meu pai mais cedo.
- Quer ir para casa? - Ruan pergunta depois que o filme acaba.
- Não... - respondo suspirando e sorrio forçado.
- Podemos dá uma volta de carro, quer?
- Podemos ir à pé? - ele concorda e fomos. Já estava escuro, começamos a caminhar sem direção, sem falar nada até que chegamos em uma praça e sentamos um pouco.
- Está com frio?
- Um pouco. - ele tira seu casaco e me dá. Não tento recusar, eu estava precisando de um pouco de atenção para mim. Começo a brincar com minha mão.
- Lindo o seu anel. - ele diz olhando meus dedos.
- Minha mãe me deu... Ela amava jóia. - sorrio.

Levanto um pouco a manga do casaco deixando minhas pulseiras à mostra.
- Todas escolhidas pela minha mãe... Algumas eram dela. - falo e ele segura minha mão e fica observando uma por uma das pulseiras.

- São lindas... Eu já tinha percebido que seu pai também gosta de pulseira e colar. - comenta.
- Sempre que ela podia, comprava presentes para a gente. Claro, para ela também. - suspiro.
- Faz falta, não é?
- Muita... Mas está tudo bem, eu acho. - Ruan me dá um beijo na testa e me abraça. Depois de algum tempo assim, voltamos a caminhar sem direção - Muito obrigada por isso, Ruan. - falo, do nada.
- Pelo quê? - ele pergunta.
- Por está aqui comigo, nesse momento. Você devia ser apenas o meu professor de matemática e amigo do meu pai, mas tem sido bem mais que isso. Obrigada, de verdade. - ele para de andar e fica na minha frente.
- Não quero ser apenas o seu professor de matemática, você sabe disso. - coloca uma mexa do meu cabelo atrás da orelha.
- É, eu sei. - sorrio e ele me beija. Retribuo, sem pensar duas vezes.

- Isso pode dá merda... - falo sussurrando após nos separamos do beijo e ele rir.
- Eu sei... Mas eu pretendo arriscar. E você? - me olha nos olhos. O beijo.
- Isso responde a sua pergunta? - ele sorri.
Voltamos para o shopping de mãos dadas e fomos de carro até a minha casa.
- Pode parar na esquina. - falo assim que chegamos perto.
- Tudo bem. - ele para onde eu disse. O olho - Vou te ver amanhã? - pergunta.
- Talvez... - sorrio de lado e lhe dou um selinho.
- Fala com seu pai. - ele diz e afirmo com a cabeça.
- Nos vemos. - saio do carro e vou andando até minha casa. Vejo meu pai assistindo na sala, mas o ignoro e vou até a cozinha.
- Assim que Vânia voltar, Fernanda vem morar conosco. - meu pai diz atrás de mim. Finjo que não escutei nada - Quando você se acostumar, os filhos dela vem também. - paro o que estou fazendo.
- Como é que é? - olho para meu pai - Filho de ninguém vai vir morar aqui, já basta essa mulherzinha.
- Não dá para falar com você numa boa. - ele sai da cozinha me deixando só.
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A Filha do Diretor
JugendliteraturIsabella tem uma relação conturbada com seu pai desde a morte da sua mãe e quer distância dele, mas é obrigada a estudar na escola onde ele, além de dono, é diretor.