Capítulo 27

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Entro em casa logo atrás de Natan e fecho a porta devagar observando Fernanda correr para perto do filho e o abraçar. Um pouco distante, meu pai com sua postura rígida e expressão séria.

- Onde estavam? - ele quis saber. Natan me olha por alguns segundos.

- Por aí. - dou de ombros.

- Assim que voltarmos, os dois estão suspensos por três dias. - avisa.

- Tanto faz. - passo por eles e subo as escadas em direção ao meu quarto. Ruan estava no corredor e entra no quarto junto comigo.

- Isabella, o que fez o dia todo? - ele quis saber.

- Estava passeando. - respondo.

- Com Natanael? - reviro os olhos.

- Sim, com Natanael. - Ruan ficou ainda mais irritado com minha confirmação.

- Eu disse para você ficar longe dele. - me encara transtornado.

- Ei, não precisa disso tudo. Você, com toda certeza, sabe que eu e Natan somos quase irmãos. - falo.

- Não era você que não queria aceitar Fernanda na família dizendo que ela não podia tomar o lugar da sua mãe? Já está considerando os filhos dela como irmãos?

- Para com isso, Ruan. Eu e Natan somos apenas amigos, você sabe bem disso. - cruzo os braços.

- Na verdade, eu não sei. - vira para sair do quarto.

- Você não confia em mim, é isso? - ouço ele suspirar.

- Isabella... - por alguma razão, desiste de falar e abre a porta.

- Se você quer saber, acabei de dizer para Natanael que tenho namorado. - vou até o banheiro do quarto e me tranco no mesmo para tomar banho.

Depois de uma hora na banheira, saio apenas de toalha e me visto. Deito na cama e acabo pegando no sono.

Pouco mais da meia-noite, acordo com os pesadelos de sempre e com minha barriga roncando.
Vou até a cozinha para comer algo, pego uma fatia de pudim na geladeira e sento no balcão.
Minutos depois, alguém aparece. Era meu pai.

- O que faz acordada essa hora? - ele pergunta e reviro os olhos.

- Quase nunca durmo, pensei que pelo menos isso você soubesse.

- Está tentando me irritar mais? Ainda por cima está tentando colocar Natanael no mesmo caminho que você. - me acusa.

- Você não tem noção. - desço do balcão e coloco o prato na pia.

- Por que você é assim? Uma hora está se abrindo comigo e na outra está tentando me tirar do sério. - o olho.

- Aprendi a ser assim. - respondo.

- Bella, eu... - ele para de falar e encara um ponto fixo em mim, o meu colar - Eu também sinto falta dela... Muita falta. - suspiro e desvio o olhar.

- Quando ela se foi, você partiu junto. Com o tempo, me acostumei com a ideia de que nenhum dos dois iria voltar. - apoio as mãos na pia e seguro o choro com todas as minhas forças.

- Você está enganada, Bella. Eu sempre vou está aqui, posso não ser um bom pai, mas eu sempre vou está aqui. - respiro fundo.

- Sabe... o que eu queria? - ouço ele murmurar um não - Queria me sentir amada, amada de verdade. Não sei, parece que as lembranças da minha mãe, as lembranças boas, estão ficando cada vez mais distantes e sinto que estou sozinha nesse mundo. Sem ninguém... ninguém. Eu queria ir embora, queria me ver livre de todo esse sofrimento, mas você me tirou isso, até isso. Me deixar ir, deixar o mar me levar, seria um bom presente de aniversário. - desabafo.

- Presente de aniversário? - perguntou confuso - Segunda foi seu aniversário. - lembra. Me viro para o olhar.

- Pois é... Pelo oitavo ano seguido você esqueceu. - mordo o lábio inferior na tentativa de evitar que as lágrimas caiam.

- Eu sinto muito. - diz baixo.

- Que diferença isso faz? - nos encaramos por alguns segundos, até que ele sai da cozinha me dando a liberdade de chorar.

Saio de casa e sento na varanda observando a escuridão da madrugada.
Se eu estou com medo de ficar aqui sozinha à essa hora? Sim... Mas voltar a dormir é um medo maior que esse.

- Oi. - ouço uma voz masculina e me assusto.

- Aff, Ruan. Quer me matar do coração? - limpo as lágrimas no meu rosto imediatamente.

- Como você está? - quis saber.

- Viva. - ele revira os olhos - O que faz aqui?

- Eu que te pergunto, sou seu professor e responsável. - me olha.

- Se veio brigar mais comigo, pode ir embora. - falo.

- Não foi por isso. Vim te pedir desculpas. - o olho - Eu sei que isso não passa de ciúmes besta, mas só de pensar em você passando o dia inteiro sozinha com outro e saber que pode me trocar por ele, eu... - o interrompo.

- Por que acha que eu te trocaria pelo Natanael? - pergunto.

- Ele gosta de você e um namoro com ele seria bem mais fácil. - suspiro e sento de maneira que fique em sua frente.

- Ruan... Em primeiro lugar, você não é objeto para ser trocado ou substituído, tá? Em segundo lugar, o Natan pode até gostar de mim, mas esse sentimento não é recíproco. E em terceiro lugar, eu não vou me separar de você só porque nossa relação é difícil, isso não faz o menor sentido. Eu gosto de você, coloca na sua cabeça que ninguém pode ocupar seu lugar no meu coração e que eu nunca vou te esquecer. - falo o olhando nos olhos.

- Eu te beijaria agora, mas foi o seu pai quem pediu para eu vir aqui e ele está nos observando pela janela. - diz com um sorriso de lado.

- Fala sério. - sorrio. Levanto e entro em casa seguida por Ruan.

- Seu pai começou a perceber que tem uma filha incrível, que ele ama demais. - Ruan diz enquanto subo as escadas.

- Um pouco tarde, não acha?

- Nunca é tarde. - paro de andar.

- O que acha que devo fazer? - pergunto.

- Dá uma chance para Rogério, mesmo que ele tenha mais erros que acertos, ele merece essa chance. Vocês dois merecem essa chance. - penso um pouco.

- Difícil...

- Difícil, não impossível. - sorrio e volto a andar. Paro em frente à porta do quarto do meu pai. Levanto a mão para bater, mas hesito e olho para Ruan.

- Não sei se consigo. - assumo fraqueza.

- Você consegue. Quando estiver pronta de verdade. - ele diz.

- Daqui alguns anos, quem sabe? - brinco sem humor.

- Quando estiver pronta. - Ruan beija minha testa demoradamente - Boa madrugada, se tiver pesadelos sabe onde me encontrar. - ele diz.

- Valeu. - sussurro. Vejo Ruan entrar em um dos quartos de hóspedes e entro no meu.

Ligo a lâmpada e deito na cama encarando o teto. Pareço uma criança com medo do escuro.
Olho a porta do guarda-roupas aberta. Será que o Sullivan vai sair dali querendo me assustar?
Sorrio com meu pensamento, que besteira!



Perdão a demora, criatividade resolveu tirar uma folga sem aviso prévio.
O livro está acabando, fiz o melhor que pude. Espero que gostem.
Beijos😘

A Filha do DiretorOnde histórias criam vida. Descubra agora