Capítulo 5

3.9K 280 23
                                    

Acordo bem cedo, estou ansiosa para ver a escola. Depois que cheguei em casa ontem, me joguei na cama e não quis ver mais ninguém. Bateu um arrependimento...minha mãe fundou aquele lugar e por raiva do meu pai eu faço uma coisa daquela. Que raiva de mim.

Saio do quarto depois de me arrumar e tomo café da manhã na cozinha.
Vou para a escola a pé, Vânia me disse que meu pai ainda não tinha saído do quarto. Ao chegar no lugar, me deparo com os alunos olhando abismados para as paredes da escola.

Paro na frente da parede com a caricatura do meu pai e leio a pergunta que eu mesma escrevi ontem...
Quais serão os segredos obscuros que esse homem esconde?
Sou eu. Eu sou o seu maior segredo obscuro.
Suspiro e mordo o lábio inferior tentando não me afetar tanto com a resposta que eu mesma dei a minha própria pergunta. Mas nada impediria essa tristeza de invadir o meu peito.

- A pessoa que fez isso é muito talentosa. - escuto o professor de matemática falar ao meu lado.

- Bom...ela foi criativa e fez uma pergunta que merecia uma resposta vindo do homem representado. Não acha?

- Na verdade, acho que todos temos segredos obscuros. Cada um escolhe com quem deve compartilha-los. - ele diz.

- Infelizmente, existem segredos obscuros que necessitam ser revelados...para evitar que eles desapareçam de uma vez. - saio de perto dele e vou para fora da escola.

Observo o carro do meu pai parar perto da escola. Ele desce e faz uma expressão confusa ao ver o alvoroço dos alunos. Ele entra na escola sem me notar e minutos depois vejo todos os alunos caminhando para suas salas.

Depois que todos saem, resolvo entrar. Meu pai me ver entrando e me olha com raiva. Ao seu lado estava o professor de matemática.

- Você fez isso, não foi Isabella? - ele quis saber.

- Qual a diferença se eu dizer sim ou não? -  ele não diz nada.

Vou para minha sala de aula e sento no meu lugar. No intervalo, vou para a biblioteca, mas logo a porteira me chama dizendo que o diretor quer conversar comigo.
Vou até a sala dele e sento na cadeira à sua frente.

- Vânia me disse que você saiu de casa às 13:00 ontem e só voltou às 22:00. Posso saber onde estava? - ele perguntou calmo.

- Fui fazer um trabalho de geografia com Natanael, Paloma e Cristian. - falo.

- Só isso?

- Antes de ir, eu fui no salão de beleza do centro. Mudei um pouco o cabelo, acho que não deve ter percebido. - sorrio forçado -  Depois que saí da casa de Paloma, fui ao shopping. Assisti uma comédia...sozinha, como sempre. - meu pai suspira.

- Gostei do seu novo cabelo, ficou lindo. - eu não estava acreditando. Meu pai me elogiou, pela primeira vez em oito anos.

- Hum...eu vou pintar de novo mês que vem. - falo apenas, tentando não demonstrar a euforia dentro de mim.

- Por que não deixa natural? Você fica lindo com o cabelo natural. - ele sorri - Fica igual a sua mãe.

- Talvez eu pense nisso. - dou um meio sorriso.

Olho para a mesa do meu pai e vejo uma parte da letra "R" escrita em tinta vermelha e lembro da palavra que escrevi na mesa. Traidor.

- Era só isso que você queria? - pergunto e ele hesita um pouco em responder.

- Sim. - diz por fim - Você já pode ir. - levanto e saio da sala.

Paro um pouco no meio do corredor sentindo um pouco de enjôo e fico tonta de repente. Coloco a mão na parede para me apoiar e abaixo a cabeça fechando os olhos. Fico assim por alguns segundos até que a tontura passa. Volto a andar e vou para minha sala. As duas últimas aulas são de matemática.

Depois de um tempo na aula, peço para ir ao banheiro. Ao passar pela sala do diretor, vejo que a porta está entreaberta. Penso em entrar para pedir para sair mais cedo, mas vejo que meu pai está conversando com Natanael.

- ...2:00 na sorveteria aqui perto. Eu tive que ir encontrar com Cristian, então somente a Paloma veio encontrar com ela e as duas foram lá para casa. Isabella já tinha mudado o cabelo. Quando a gente terminou o trabalho, ela foi embora. Não sei para onde foi. - Natanael diz.

- Hum... é que a Isabella é uma aluna complicada... - saio irritada voltando para a minha sala.

Eu não sou apenas uma aluna complicada, eu sou uma adolescente complicada, eu sou uma filha complicada...
Sento no meu lugar e começo a me sentir mal novamente. Apoio os braços na mesa e a cabeça nos braços.
Fico algum tempo assim até que alguém coloca a mão no meu ombro. Levanto a cabeça e vejo o professor Ruan.

- Você está bem, Isabella? - ele pergunta.

- Estou. - respondo suspirando.

Ele coloca a mão no meu pescoço.

- Você está queimando em febre. - ele diz preocupado.

- Eu já falei que estou bem. - falo irritada.

- Você não está bem, Isabella. - afirma - Vem comigo. - bufo irritada e levanto o seguindo - Turma, eu vou ali e volto já. - diz e saímos da sala.

Fomos para a sala do diretor. Eu deitei no banco ao lado da porta e o professor Ruan entrou na sala. Minutos depois, vejo o professor Ruan sair com Natanael. O professor sorri para mim.

- Se cuida. - fala antes de voltar a andar junto com Natanael.

Meu pai aparece ao meu lado.

- Está sentindo algo, Isabella? - ele pergunta.

- Eu estou bem, já falei. Que saco, por que vocês não me deixam em paz? - falo um pouco alto.

- Pensei que minha filha tinha 15 anos, não 5. - suspiro irritada - Vamos.

- Vamos onde? - pergunto confusa.

- Hospital. Você está com muita febre, não vou te deixar assim.

- A oito anos eu fico doente e você não está nem aí. - falo baixinho enquanto levanto. Ouço meu pai suspirar - Detesto hospital. - falo o olhando - Aqui tem enfermaria, perto da quadra.

- Sei disso, mas você vai para o hospital. - desisto de lutar.

Não estou cabeça para discutir no momento. Minha cabeça, assim como meu corpo, doe muito.
Ando em silêncio até o seu carro e fomos para o hospital. Sinto um calafrio ao colocar o pé naquele lugar.
Tenho pavor de hospital. Nunca venho aqui, sempre consigo que Vânia chame um médico de sua confiança lá em casa quando estou doente. Mas duvido muito que meu pai saiba disso, fiquei bem surpresa por ele saber a minha idade.

Meu pai fala com a recepcionista enquanto eu observo o interior do hospital. Eu não devia ter vindo aqui, preferia ter discutido com meu pai ao invés de está nesse lugar.

- O médico está com um paciente, mas já, já ele vai nos atender. - diz meu pai me tirando dos meus pensamentos - Quer sentar? Enquanto eu resolvo tudo. - sento numa cadeira ali perto. Pelo menos é confortável.

Minhas mãos começam a soar e eu tento secar na calça. Minha respiração acelera, sinto meu coração quase pulando do peito, começo a soar mais que o normal e a tremer.
Eu não posso ficar aqui, não posso continuar nesse lugar por mais nenhum segundo...sinto que vou enlouquecer se continuar aqui.

Procuro pelo meu pai com o olhar, vejo ele conversar com a recepcionista enquanto preenche um papel. Queria gritar por ele, chamá-lo de pai como não faço à anos, queria dizer que preciso dele comigo, que só ele pode me ajudar, mas eu simplesmente não consigo.

Tento acalmar minha respiração, parar de tremer... só que isso é quase impossível... não consigo.
Levanto rapidamente e saio correndo do hospital. Corro o mais rápido que posso para longe desse lugar.
Minhas pernas começam a fraquejar, mas não quero parar de correr. Quero ficar o mais distante possível desse lugar, o mais rápido que eu puder.

A Filha do DiretorOnde histórias criam vida. Descubra agora