A Filha do Diretor

Último capítulo

Saio de casa correndo. Logo chego na escola, a reunião já deve ter começado. Vou em direção ao auditório e subo no palco.
Meu pai estava falando, me aproximo dele.

- Acho que eu também tenho o direito de falar, não tenho? - pergunto baixo.

- O que faz aqui, Isabella? Já decidimos que o Ruan vai ser demitido e ponto final. - diz.

- Não. Vocês ainda não me ouviram. - aumento o tom de voz.

- Tudo bem, mas vai ser difícil mudar nossa decisão. - me entrega o microfone.

Olho para Ruan sentando em uma das cadeiras no palco, sorrio para ele e viro em direção aos pais e alunos.

- Bom... Acho que vocês devem imaginar quem eu sou... Sou a garota da foto. Meu nome é Isabella Mendes e muitos de vocês acham que eu fui assediada por um dos meus professores, o que não é verdade. Eu e Ruan temos uma relação que vem de antes de eu começar a estudar nessa escola, nossas famílias são amigas, nos conhecemos desde crianças. Realmente, começamos a namorar faz pouco tempo, mas nunca deixamos que nossa vida pessoal interferir na nossa relação aluno e professor. Sei que falar essas coisas não vai adiantar muito, vocês vão inventar qualquer coisa que não seja a verdade, mas eu vou dividir com vocês um pouco da minha vida, já está mais que na hora. - suspiro - À oito anos atrás eu vi, com meus olhos de criança inocente, minha mãe ser... - faço uma pausa - É difícil, perdão. Bem... Eu vi tirarem a vida da minha mãe, e eu seria morta também, mas o pai de Ruan chegou antes e me tirou daquele lugar. Ele, a esposa e Ruan me acolheram o tempo que eu precisei e me ajudaram demais nessa época difícil da minha vida. Mas logo eu tive que voltar para casa. Passei todos esses anos morando na mesma casa que vi aquela tragédia acontecer, com meu pai me culpando e eu nem sei porque. Bloqueei minhas memórias, quis esquecer tudo que aconteceu, esqueci quem foram as pessoas que me ajudaram, esqueci do rosto das pessoas que fizeram isso com minha mãe... Me tornei uma garota insuportável, meus colegas tem certeza disso. - sorrio de lado - Nesses últimos anos, fui uma adolescente problemática e infeliz, até que reencontrei o Ruan. Ele me criticava, me dava conselhos, me ajudava, me entendia... Foi a melhor pessoa que tive por perto durante todo esse tempo. O que fizemos foi errado, sei disso. Mas foi por livre e espontânea vontade minha, ele não me obrigou a nada e... a gente se ama. Vocês podem não entender isso, ainda querer que ele seja demitido, só que vão ter que passar o resto de suas vidas carregando na consciência a destruição de duas vidas. A de Ruan e a minha. E, quanto ao meu pai... Ele está aqui, e queria aproveitar o momento que ele está me ouvindo, o que não acontece muito, para dizer que... Eu o amo, independente de ter sido, ou não, um bom pai e isso não vai mudar nunca, posso até perdoá-lo por me afastar da pessoa que eu amo, mas nunca seremos, de fato, pai e filha. Se você ainda quer isso, se ainda tem algum pingo de amor por mim, pela primeira vez, eu te peço que não me tire a alegria que Ruan me traz. - enxugo as lágrimas que caíram e respiro fundo - Eu sinto muito por tudo isso, não irá se repetir. Obrigada pela atenção de vocês. - entrego o microfone ao meu pai e saio o mais rápido possível.

- Isabella. - viro para trás e vejo meu pai me olhando de cima do palco, ele estava com os olhos cheios de lágrimas - Eu também te amo. - ele diz e meu coração acelera. Volto devagar para o palco e me aproximo dele.

- Está falando sério? - pergunto um pouco receosa.

- Nunca falei tão sério com você. - o abraço com força e o mesmo retribue chorando - Quanto tempo perdi da sua vida, minha filha.

- Não fala nisso agora, por favor. - peço - Só não me deixa mais.

- Nunca mais. - beija minha testa e me olha sorrindo. Leva o microfone até a boca e fala: - Sinto muito, mas ninguém será demitido. Se quiserem tirar seus filhos da escola, podem vir amanhã. A felicidade da minha filha é mais importante que toda essa escola. - sorrio emocionada.

Todos se levantam e batem palmas. Eu e meu pai nos abraçamos mais uma vez.