Capítulo 11

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- Isabella, Isabella. Isabella, fala alguma coisa. - escuto a voz impaciente do meu pai e acordo.

Olho em volta assustada e percebo que estou no chão da cozinha, apenas eu e meu pai no cômodo. Observo o meu pai abaixado perto de mim. Ele estava confuso, preocupado, impaciente, sei lá. Ele estava de preto.
Como eu não o reconheci de costas?
Suspiro num misto de alívio e cansaço. Levanto do chão e sento numa cadeira enquanto meu pai me observa.

- O que aconteceu com você? Quando virei você estava paralisada e desmaiou. - ele vai até a geladeira e tira uma jarra de água - Fiquei quase cinco minutos te chamando. - ele coloca água em um copo e me entrega.

- Eu não sei... - sussurro e bebo um pouco de água.

- Deveria está dormindo, ainda são 3:45 da madrugada. Vai dormir, Isabella. - ele se afasta de mim. Pois é, esse é o Rogério que eu conheço.

Eu preciso dele, da ajuda dele. Mas meu pai não quer nem saber. Levanto devagar e volto para meu quarto sem dizer mais nada. Quando ia fechar a porta, meu pai aparece no corredor e vem em minha direção.

- Pesadelos? - ele pergunta e penso um pouco antes de responder.

- Pesadelos... - repito um pouco mais baixo do que pretendia.

- Quer que eu fique com você? - me surpreendo com sua pergunta.

- Sério? Agora? Quando eu era uma criança de sete anos e tinha pesadelos, você nem ao menos saía da cama quando ouvia os meus gritos de desespero. - sorrio amargamente e ele abaixa a cabeça.

- Você é bem difícil, sabia? - ele se vira e abre a porta do seu quarto.

- Sou igual a você. - meu pai me olha e sorri de lado. Entro no meu quarto e deito na cama.

Fico virando de um lado para outro, mas tenho medo de fechar os olhos e o pesadelo voltar. Passo o resto da madrugada acordada e levanto da cama quando o despertador toca.
Depois de me arrumar, saio do quarto sem a menor animação possível. Ainda bem que hoje é Sexta-feira. Vou até a cozinha e pego qualquer coisa para comer.

- Já vai, Isabella? - Vânia pergunta entrando na cozinha. Afirmo com a cabeça e sorrio forçado.

- Até mais, Vânia. - falo saindo. Ao chegar na escola, vou direto para minha sala e sento no meu lugar sem falar com ninguém, o que não é nenhum novidade.

- Bom dia, Isabella. - Natanael cumprimenta sentado ao meu lado, como todos os dias.

- Só se for para você. - respondo grossa.

- Acordou com o pé esquerdo hoje, foi? - ele pergunta.

- Na verdade, eu tenho certeza que acordei com os dois. - respondo e ele não diz mais nada.

Deito a cabeça na mesma e fecho os olhos com força. Eu estou com sono, queria está na minha casa. Por que vim para a escola hoje?

- Isabella, a escola é para estudar, não para dormir. - escuto a professora dizer e levanto a cabeça.

- Sério mesmo? Porque a aula está tão chata que achei que fosse para dormir. - ela, simplesmente, aponta para a porta da sala. Levanto tranquilamente e saio. Essa é a professora de geografia, conhecida por não ter a menor paciência com nenhum dos alunos.

- É para ir para a sala do diretor. - ela diz antes de eu sair. Sigo para a sala do meu pai e entro sem bater.

- Esqueceu a educação em casa? - ele pergunta sem me olhar.

- Acho que foi debaixo da minha cama, não tenho certeza. - meu pai suspira irritado e me olha.

- O que foi dessa vez? - ele quis saber.

- A professora de geografia me tirou da sala de aula. - respondo dando de ombros.

- Posso saber o motivo?

- Ela é doida. - digo apenas.

- Tudo bem... Vou pedir para a doida vir me explicar o que aconteceu. - ele fala e levanta da sua cadeira. Minutos depois, ele volta e senta novamente - Pode esperar lá fora? Por favor. - pede e saio sem dizer nada.

Sento no banco ao lado da porta e vejo a professora entrar na secretaria. Logo depois ela sai e fala que o diretor quer falar comigo.

- Está com sono? - ele pergunta.

- Um pouco. - respondo.

- Não conseguiu dormir ontem depois do pesadelo? - ele pergunta.

- Não. - respondo apenas.

- Quer ir para casa dormir um pouco? Talvez te faça bem... - nego com a cabeça - Tem certeza?

- Não preciso, estou bem assim. - falo.

- Tudo bem... Quer dormir aqui um pouco? O sofá é confortável, nada comparado à sua cama, mas pode dormir um pouco, pelo menos. - estou, realmente, estranhando toda essa sua preocupação.

- Já disse que estou bem. - falo mais uma vez.

- Você não vai poder entrar na sala antes do terceiro horário, deveria aproveitar. - meu pai levanta da sua cadeira e se aproxima de mim - Eu vou está lá fora, pode ficar à vontade. - sai da sala.

Isso está muito estranho, não é nada normal essa preocupação do meu pai comigo. Mas resolvo não questionar e aproveitar a oportunidade. Levanto da cadeira e tranco a porta da sala. Deito no sofá e encaro o teto por um tempo até pegar no sono.

Acordo assustada e sento no sofá rapidamente. Aquele mesmo pesadelo veio atormentar meu sono mais uma vez. Pego meu celular no bolso e vejo que já está no horário do intervalo.
Suspiro e levanto. Abro a porta da sala e saio à procura do meu pai. O encontro no refeitório observando os alunos e me aproximo ficando ao seu lado.

- Me deixou dormir demais. - falo.

- Você parecia bem cansada. Está melhor? - afirmo com a cabeça - Vai aproveitar o resto do intervalo, come alguma coisa. - me afasto dele sem falar nada.

Vou para a biblioteca e fico lá até que o sinal toque. Depois de enfrentar as últimas aulas, vou para minha casa e almoço sozinha na sala de jantar.

- O que você tem, Isabella? Você não está bem. - fala Vânia sentando numa cadeira vazia na minha frente e a olho.

- Por que ainda está aqui? - ela me olha confusa - Por que continua trabalhado nessa casa? Por que ainda me atura? Por que, Vânia? Eu sou uma péssima pessoa, sempre te tratando com ignorância e você continua aqui...

- Você é uma filha para mim, Isabella. Eu nunca vou te deixar. - abro um sorriso sincero.

- Obrigada. - sussurro.

- Agora, me conta o que está acontecendo com você. - pede.

- Não está acontecendo nada. - falo e continuo comendo.

- Se não quiser falar, tudo bem. Mas saiba que eu estou aqui para o que precisar. - ela diz.

- Eu sei disso. - falo.

- Eu estou na cozinha, qualquer coisa é só me chamar. - ela levanta e sai.

A Filha do DiretorOnde histórias criam vida. Descubra agora