Capítulo 13. Peter

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"Sua memória é um monstro; aparece por vontade própria. Você acha que tem uma memória, mas ela tem você."

John Irving

Aimée Bowen

As vezes tudo que precisamos é colocar  uma venda em nosso passado. E eu que tento afastar todas a lembranças de Peter, me vejo diante da pessoa que mais sofreu com sua perda, até mais que eu.

Quando vi William subindo para ver seu filho, esperei alguns minutos e subi atrás dele. Estava no quarto e olhava para Harry com ternura, perdido em seus pensamentos. Adentro o quarto forçando a garganta para chamar sua atenção. Ele se vira para mim e não fala nada apenas me encara com tristeza em seu olhar.

- Se veio me pedir para não contar nada sobre você, saiba que já me decidi e falarei tudo que sei sobre você a JJ.

- William, por favor. Deixe as coisas como estão. Iremos embora amanhã. Eu sinto muito por tudo que aconteceu. Eu nunca faria mal a Peter, eu o amava..

- Você não o matou, mas a partir do momento que protege a pessoa que fez isso com ele, te torna tão imunda quanto.

- Eu não sei de nada, William.

- Não? As pessoas querem sua desgraça, Aimée. E machucam pessoas para isso, e você sabe quem.

- Eu já tentei te provar o contrário, não insistirei nisso novamente. Hoje eu só te peço que não fale nada.

- Não vou mentir por você, Aimée.

- Não minta só não diga nada, e aqui sou Amália.

- Não me importo com o nome que usa. Sempre será a mesma causadora de estragos. Não vou olhar para minha esposa e amigos e fingir que não te conheço, só observando você destruir a vida do Reid assim como destruir a de meu irmão. – iria respondê-lo até ouvimos uma batida na porta e Reid entrar dizendo que David nos chamava. Will lança um último olhar para mim e sai do quarto. Reid me olhava e eu não o encarava.

- Vamos jantar? – falo passando por ele até o mesmo pegar em meu braço. Me fazendo virar.

- Não fuja de mim – diz passando a mão sobre meu rosto – Quando quiser me contar, saiba que estarei aqui para te ouvir. Fala e deposita um beijo em minha testa, e descemos para jantar. Enquanto eu esperava que Will não tivesse contado nada se não essa farsa acabaria.

Tem vezes que o que precisamos é parar por um momento e respirar, tentar ver o que a vida ainda tem a nos oferecer. Foi o que tentei fazer com os amigos de Reid, eles eram pessoas incríveis, e me sentia extremamente confortável perto deles. O jantar desenrolou bem e Will não disse nada, apenas passou a agir naturalmente. Depois de uma longa noite de papos eu e Reid subimos para dormir. Já passava das duas da manhã e não conseguia dormir. O doutor se mantinha imóvel ao meu lado, mas sabia que não dormia.

- Will é irmão de Peter, era.. O vi poucas vezes umas três situações. Depois só após a morte de Peter. – começo e Reid que estava de lado vira olhando para o teto, como eu.

- Não tive a oportunidade de conhecê-lo melhor, a família que ele formou, mas conhecia pelo o que Peter me contava. O pequeno Harry, sua esposa que também trabalhava para o FBI, enfim... Eu te contarei desde o início.

- Consegui uma oportunidade para liderar a equipe de missões especiais, onde Antony era chefe, mas por consideração a ele, eu tomei seu lugar enquanto ele ficou com o cargo que cabia a mim. Um dos integrantes da equipe era Peter Érden LaMontegne. Não acredito em amor a primeira vista, mas sendo sincera acho que isso é a melhor definição para o que senti quando o vi. Não demorou muito para nos envolvemos. Eu o amava tanto, e ele adorava me dizer o quanto me amava, já eu tinha medo te dizer o que sentia. Alguns meses depois eu tentei ligar para ele e não atendia. Procurei em todos lugares possíveis e nada. Até que recebi uma mensagem para encontrar com alguém que sabia onde ele estava. Sem nomes, apenas o endereço, pedindo para eu ir sozinha. Nem cogitei a ideia de chamar alguém. Apenas fui. E num deslize meu, fui pega. Só me recordo de acordar em um lugar escuro, com grades e na sela ao lado estava Peter. Ninguém apareceu, mas uma voz modificada ecoava pelo local. Em uma mesa a frente havia uma arma assim como havia uma a frente de Peter. Era loucura. Uma estava carregada a outra não. A ordem era precisa. Assim que escolhêssemos tínhamos que apontar para nossa própria cabeça, e atirar. Quem não o fizesse, veria o outro morrer a sua frente e nenhum dos dois seriam poupados. E...... Eu queria que a minha fosse a certa. Sequer hesitei em pegar a arma primeiro e aperta o gatilho contra mim mesma. Não importava a minha vida, Peter sempre seria mais importante. Eu sou um ser vazio que não merecia viver. Mas não..... Peter me pedia calma nós dois sabíamos o que estava por vir. Eu gritei o máximo que pude, me debati sobre as grades enferrujadas daquele lugar. Não precisava ser daquele jeito. Mas ele estava decidido a dar a vida dele pela minha. Eu deveria ter morrido, não ele. Eu nunca disse que o amava, por que achei que teríamos todo tempo do mundo. E quando finalmente disse, seu corpo estava jogado sem vida num chão sujo de um lugar qualquer ....– eu já me derramava em lágrimas e tinha a cabeça sobre o peito de Reid que passava a mão sobre meus cabelos.

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