Capítulo 20. "Compaixão não te torna melhor"

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"O homem é cruel sobretudo em relação ao homem, porque somos os únicos capazes de humilhar, de torturar e fazemos isto com uma coisa que deveria ser o contrário, que é a razão humana. ( La Voz de Lanzarote) - José Saramago."


Aimée Bowen


As luzes azul e vermelha eram fortes e o barulho das sirenes já estava me irritando. Estava sentada em uma ambulância enquanto um paramédico fazia um curativo em meu braço. Não sentia nenhuma dor, apenas raiva. Maldito hora que fui atender ao pedido de Swarbrick e deixar Smith entrar conosco.

Uma oportunidade foi o que ele pediu, já que o me só diz que eu subestimo demais ela. Deveria ter seguido o meu instinto e a deixado junto com Thompson na van. E não precisaria estar passando por Isso. Mas ao fim creio eu, que tenha dado tudo certo. Abro um sorriso ao lembrar que finalmente peguei Phelps, mas desfaço ao lembrar que não acabei com ele como deveria, por culpa dela.

- Pronto. - o homem termina o que estava fazendo e saí. Fico encarando a minha frente onde algumas pessoas eram levadas algemadas e alguma garotas eram levadas enroladas em uma manta, provavelmente seriam levadas para o hospital para serem atendidas devidamente. Mas e Reid? Droga, será que ele está bem? Me levanto e  passo pelas pessoas, até ouvir meu nome ser chamado.

- Aimée, você está bem? – Reid se aproxima ofegante me abraçando e retribuo, mas logo me afasto.

- Por que não estaria?

- Smith ela...ela estava com sangue e disse que havia tentado, tentado o que? E o que houve com seu braço? - pergunta aflito.

- Phelps me acertou com uma faca, mas eu estou bem. E se acalme, por favor todos estão aqui. Onde estão Swarbrick e..Smith?

- Estão bem. Aimée, essas moças estão salvas. – diz dando um longo suspiro.

- Sim. Mas quem sabe não é mesmo, quantas outras não estão.

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- Bowen? Roslton disse que queria falar comigo. – Smith entra. E eu a encaro como se fosse uma de minhas pressas.

- Sim. Serei clara, falou para alguém o que aconteceu?

- Não.

- Ótimo!

- Ótimo? Ótimo Bowen?. – diz alterando a voz.

- Primeiro, abaixe o tom de voz, segundo sente-se. – ela puxa  cadeira a minha frente e se sente.

- Eu tenho uma proposta a te fazer. Mas antes, diga. Fale tudo que tem a me dizer, aproveite pois será sua única oportunidade. – Ela fica um tempo calada.

- Quando eu entrei para essa equipe, eu me senti acolhida. Pronta para exercer tudo que eu tinha aprendido e praticado. E quando te conheci eu vi uma mulher forte, determinada e alguém que eu poderia me espelhar. Mas você não depositava confiança em mim. Eu entendo eu ocupei o lugar de alguém que você perdeu e..

- Por favor não. – peço para que ela não mencione Peter.

- Enfim, Pensei que ia passar, mas eu percebi como você ficou ao saber de mim e James.

- Do que está falando?

- Eu não acho que tenha sentimentos por ele, só que que talvez você não aceite isso, não sei por que.

- O que que Swarbrick tem haver com isso?

- Olha, de qualquer forma você me inspirou, mas o que aconteceu nessa noite, destruiu a imagem que eu tinha de você, Bowen.

- Você quer me admirar? Saiba que tenha que me ver como sou. Aceite todas as manchas de sangue em minhas mãos. Aceite que não sou a mocinha por ser uma agente, mas sim a vilã por tudo que já fiz. Agora não venha com essa de que eu te inspirei ou essa merda toda.  Quer saber por que não te aturo? Porque você é fraca! Pior, é alguém que tem tudo para ser forte mas vive a sombra dos seus medos, quer alguém para admirar? – rio amarga – Não existe pessoa no mundo que irá suprir suas expectativas.

- Você não é a pessoa que eu achei que era.

- Deixe de drama. E mais uma coisa, quer saber porque não aprovo você e James? Por você não é suficiente para ele. Eu sei muito bem a pessoa que ele ama e não é você. James ainda ama Alex e eu sei disso, Alex é o cara perfeito para ele!

- Alex? Cara perfeito? – Ela me olhava confusa e.. Droga. Swarbrick ainda não tinha contado. Como se eu tivesse levado um choque volto novamente para a realidade. James não me desculparia, porém a vontade de feri-la por ter me atrapalhado era maior.

- Swarbrick não te contou? Mas afinal você realmente não deve ser uma boa agente, para sequer perceber que seu namorado é gay.

- James não é gay!

- É verdade desculpa, ele é bi né. Mas porque o susto, sua religião não permite, você não aceita? Porque foi o que ele me disse uma vez.

- Isso é...

- Repugnante? Pode falar eu deixo isso entre nós. Tudo bem, eu não vejo o menor problema eu o amo assim mesmo, já você o ama o bastante?

- Levítico 18:22 "Não te deitarás com homem, como se fosse mulher; é abominação". - fala encarando o chão.

- Sério? Não me interesse suas crenças folclóricas. - céus, ela não podia ficar ainda mais patética.

- Posso me retirar? – diz se levantando.

- Não, sente-se. Não foi pra essas baboseiras que te chamei. A unidade de Nova York está com uma vaga. E eu adoraria te recomendar, uma oportunidade incrível não acha? Nova York!

- O que? Você não me tiraria dessa equipe, não pode me obrigar.

- Obrigar? Quem falou nisso? Estou te oferecendo uma oportunidade incrível Smith.

- Eu não posso... - ela aperta os dedos.

- O que te prende aqui o seu "abominável " James? Palavra suas, não se esqueça. Afinal não tem escolha.

- E se não aceitar, eu vou contar o que ia fazer para Winters. - eu rio com a ousadia dela em tentar me ameaçar.

- Você é uma jovem agente sem histórico algum, além daqui . Sabe o que eu faria com apenas um telefone? E Winters, vamos concordar que ele não é grande ajuda para você.

- E James?

- Agora se importa? Foi uma decisão sua e ponto final. Ninguém deve saber de nada. Você me atrapalhou e isso me irritou, agora aceite. Essa sem dúvidas foi a melhor proposta da sua vida. - ela se ampara na cadeira e diz por fim convencida:

- Está bem.

- Temos um acordo? Fique longe dessa esquipe, e longe de James. Ele não precisa da sua sujeira cristã.

- Eu aceito.

- Perfeito. – Ela se levanta e vai em direção a porta mas antes para e se vira de volta.

- E isso tudo porque? Porque eu te impedir te matar um homem que já estava rendido? Somos agentes, não justiceiros.

- Ele merecia. Outra dica Elisabeth, não tenha piedade de ninguém, muito menos de vermes como aquele, pois sua compaixão não te torna melhor.

- Adeus Bowen.


Spencer Reid.

Depois de uma ótima noite de sono, eu já estava de volta ao trabalho. Queria ter ficado com Aimée mas ela disse que tinha coisas para resolver. Eu tive tanto medo de perde-la, mas tudo tinha ocorrido bem. Ela estava bem.

Ao chegar vejo meus colegas reunidos e me aproximo.

- O que está havendo? – Swarbrick apenas me olha depois de encarar Smith e saí.

- Smith está saindo doutor. – Thompson responde triste.

- Sério? Porque, para onde? – pergunto me dirigindo à Elisabeth.

- Consegui uma oportunidade em Nova York.

- Nova York? Que legal, nossa boa sorte, sei que nos conhecemos a pouco, mas foi uma honra te conhecer. Boa sorte, afinal sabia que aproximadamente 37% dos moradores de Nova York não nasceram nos Estados Unidos. O que é não é uma surpresa se considerarmos que..

- Obrigada Reid. - ela me corta sorrindo. Não era de sua normalidade. 

- O que vai ser de mim sem minha jovem garota – Rolston diz a abraçando. Me despeço dela e vou a procura de Swarbrick, o encontro sentado próximo à cozinha.

- Você está bem?

- O que você acha? Eu tenho algum tipo de atração por pessoas que apenas me usam e depois vão embora.

- Essa saída de Smith foi repentina.

- Tanto faz. Ela ainda me culpou.

- Pelo o quê?

- Você sabe.

- Sim, só não acho relevante o suficiente ela te julgar por isso.

- Olha, eu não quero ofender, eu sei que você não é bom com sentimentalismo, contato e essa coisas então só me deixa, por favor.

Sai dali o deixando sozinho e sigo pelos corredores até ser barrado por Winters.

- Doutor, estava a sua procura.

- Sim?

- Vamos a minha sala, por favor. – ele diz e o acompanho.

- Sente-se se por favor.

- Então, em que posso ajudar?

- Eis a questão, em mais nada. – diz com falsa lamentação.

- O quê?

- Precisávamos de um agente para ajudar a prender Phelps e você veio, e serviu como um talismã, e fez um excelente trabalho devo confessar. Esses últimos quatro meses que você esteve aqui foram agitados, mas ao fim chegamos ao nosso objetivo. E você era um agente temporário não vejo porque de tamanha surpresa. - Claro que sabia que seria dispensado, só não esperava que fosse tão rápido.

- Com a saída de Smith,eu pensei que..

- Precisaríamos de um agente definitivo? Com certeza, contudo, te pegamos emprestado da UAC, temos que devolvê-lo. Não me leva a mal se pareceu que te tratei como objetivo – diz a última parte sussurrando.

- A agente Bowen sabe?

- Desculpa agente, digo Doutor. Mas não preciso consultar Bowen para tomar minha decisões. Enfim, duas semanas é seu tempo, e voltará para casa. Arrume tudo que tiver para arrumar. E claro, devolva o apartamento inteiro do jeito que te entregamos.

- Não tem outra alternativa?

- Qual, você ficar? Isso que está me pedindo? Porque eu havia conversado com o agente Hotchner e ele me disse que queria o a agente dele de volta o mais rápido possível. Então não compreendo seu pedido. Tem algum motivo extra? Alguma dama? – pergunta sugestivo.

- Não, senhor. – Como este homem me irrita, só de pensar no que ele fez pra Aimée. As vezes chego a pensar que a vontade de vingança de Alex não seja uma ideia tão funesta.

- Então está decidido. Hoje realmente é um dia triste para Swarbrick, Thompson, Rolston e... Aimée. Dois colegas no mesmo dia, uma lástima, mas essas duas semanas serão suficientes para terminar seu trabalho aqui.

Saio da sala de Winters, como eu detesto esse cara, todo seu sarcasmo. E insinuações, como se soubesse de algo e fizesse piada disso. Acabo por encontrar Aimée que me para.

- Ei, o que houve? Não vai me dizer que está assim por causa de Smith.

- Não é isso.

- Então o que foi? – pergunta segurando minha mão, mas a solta rapidamente quando um agente passa por nós.

- Melhor conversarmos depois.

- Passo no seu apartamento mais tarde. - sorri.


" Há momentos em que é preciso escolher entre viver a sua própria vida plenamente, inteiramente, completamente, ou assumir a existência degradante, ignóbil e falsa que o mundo, na sua hipocrisia, nos impõe. - Oscar Wilde "


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