Capítulo 15 - Um certo alívio

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O caminho até lá pareceu nem existir. Quando pisquei, já estava lá. Fiquei pensando se não tinha passado em nenhum semáforo fechado, algum radar... Tão distraída em minha mente que eu estava.

Toquei o interfone e entrei no elevador. Minha cabeça doía muito.

Ao abrir a porta, Giovana me recebeu com um selinho e um abraço rápido.

- Oi, Bá. Finalmente estamos juntas - ela disse.

Bom, não estava tão ruim quanto pensei. Mas ainda assim, era uma incógnita pra mim. Eu ainda estava muito nervosa, e acho que estava deixando transparecer isso. Então ela pegou na minha mão e me puxou para sentar.

- Bá, - pausou, como se estivesse escolhendo como me abordar - você percebe que o que a gente tem tá muito confuso?

Eu não conseguia responder. Fiquei apenas fitando-a.

- Eu digo... Eu estou uma bagunça, a culpa é toda minha. Eu é que sou essa confusão. - ela disse e esperou eu reagir .

Continuei fitando-a mas, desta vez, resolvi falar:

- Tudo bem, Gio. Eu te entendo. Não concordo, mas entendo. - pausei brevemente - Eu acho que a gente poderia tentar fazer funcionar, eu realmente queria isso, mas - fui interrompida:

- Ei, Bá! - me chamou a atenção - Como não concorda? Quem disse que eu não quero que funcione?

- Você! Você está dizendo que é tudo muito confuso, que não dá certo. Aquele mesmo papo de "não é você, sou eu".

Ela soltou um riso vendo a minha revolta, o que me deixou mais furiosa. Depois, segurou minha mão, e disse:

- Linda, eu quero que as coisas funcionem, tá? Então pode se acalmar. O que eu estou dizendo é que não dá pra ficar assim. Eu sou comprometida, e eu não sou do tipo de pessoa que tem uma vida dupla. Eu só acho que preciso resolver isso.

Eu Confesso que saiu um suspiro de alívio. Não era exatamente o terror que eu estava pensando.

Ela continuou:

- Hoje, quando você falou comigo no intervalo, eu estava falando com o Patrick. Ele me chamou para perguntar como eu estava, e eu não conseguia conversar com ele normalmente. Eu não sou essa pessoa! - reforçou.

- Eu te entendo, Gio. - falei enquanto tocava sua mão sobre a sua coxa - Entendo de verdade. O que você vai fazer?

- Primeiro, eu queria deixar claro que eu vou terminar com ele, porque você me abriu os olhos pra ver que este relacionamento está falido, morto. -hesitou um pouco - Mas eu não quero que você pense que, só por isso, você é responsável.

- Gio...

- Bá, deixa eu terminar - disse, me causando um constrangimento, como se eu fosse uma criança levando bronca da professora. E continuou:

- Eu não quero que você ache que tem a obrigação de ficar comigo, só porque eu terminei meu noivado.

Espero ela continuar, para não ser cortada de novo:

- Eu não quero que, uma vez que eu termine com o Patrick, eu acabe apressando, ou então pressionando, o que a gente tem.

Depois de ter certeza de que ela havia acabado, começo a tocar seus cabelos, colocando uma mecha atrás da orelha, enquanto falo:

- Minha linda, eu quero ficar contigo e eu duvido que essa vontade vá passar, ainda mais quando você estiver livre, for só minha. - ela não tira os olhos dos meus - Mas eu prometo. Prometo que não vou me sentir pressionada, nem apressada, nem responsável.

- Isso é muito importante pra mim. - disse enquanto tocava minhas mãos - Só tem mais uma coisa.

- Me diz o que é...

- Ele vem pra cá este fim de semana.

O quê?? Ele nunca tinha pisado aqui nesta cidade, e nesta altura do campeonato ele resolve vir?

- Quem teve essa ideia? - perguntei.

- Eu disse que iria pra lá este fim de semana, pra gente poder conversar. Eu acho que ele sentiu que o assunto era sério, e disse que ia arranjar um tempinho e tentar vir pra cá, "pra gente aproveitar melhor". Você acha que eu devo negar e insistir em ir?

- Eu não sei, Gio. Acho um pouco estranho ele resolver vir pra cá justo quando você tá planejando terminar, não acha? Mas eu não sei o que pensar.

- Hoje, quando saí pra almoçar com o Pepê, contei tudo pra ele. Ele também estranhou, ainda mais porque ele sabe o quanto eu já insisti, no passado, pra ele passar um fim de semana aqui. - ela entristeceu o olhar - Eu queria mesmo era poder apenas mandar uma mensagem e acabar com isso, mas eu não posso.

- Não, Gio. Apesar de tudo, ele merece ouvir de você. Você tem que falar com ele. Mas, sei lá, é meio estranho ele vir passar um fim de semana todo em sua casa. O que vai acontecer quando você falar pra ele? Ele vai continuar aqui?

- É nisso que eu estou pensando. - ela disse - Talvez eu já deixe um hotel reservado pra ele. Ou sei lá, nem sei como ele vai reagir.

- Isso deve ser complicado, né? - falei puxando sua cabeça pra próximo do meu ombro, encostando-a - Mas saiba que eu estou aqui pra tudo que você precisar, ouviu?

- Você me faz muito bem, sabia? - ela soltou essas palavras enquanto brincava passando seus dedos em meu braço

- Eu só estou retribuindo, meu bem, toda a felicidade que você me causa.

As palavras fluíram naturalmente, o que me fez pensar: aquela mulher realmente estava me fazendo feliz. Como eu nunca havia estado antes.

No meio de tudo, Você!Onde histórias criam vida. Descubra agora