Capítulo 42 - Desassossego

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Saí do café sem ao menos olhar pra trás. Manuela, de fato, aumentava minha frequência cardíaca, fazia minhas mãos suarem e minha respiração descompassar. Manuela, de fato, causava uma perturbação em meu sistema nervoso.

Não era por ser bonita, atraente. Não era por conquistar a atenção de qualquer pessoa que a visse. Não era nem pelo nosso passado, pelos sentimentos que costumam vir à tona a alguém quando se encontra um ex-amor. Não era nada disso.

Ela me deixava nervosa. Alvoroçada. E era por ela ainda ser uma incógnita, que ela me fazia transpirar o nervosismo. Era por eu não saber seus planos, suas intenções. Ela me dava algum tipo de medo. Medo do desconhecido.

Respirei fundo e caminhei até o outro lado, onde estavam sentados os três.

— Que cara é essa? Foi tão assustador assim? — minha namorada perguntava enquanto puxava uma cadeira para que eu me sentasse com eles.

Permaneci em silêncio enquanto me sentava. Depois, dando importância ao comentário de Giovana, respondi:

— Prefiro estar com vocês. — sorri.

— Ah, não. Não pode ficar um minuto longe que já morre de saudades? Sei que me ama, mas não é para tanto — brincou Gui, arrancando de mim nada mais que outro sorriso curto.

— Agora, conta... Alguma outra investida da Senhorita "Ninguém-resiste-aos-meus-encantos"? — indagou Giovana

— Não. — menti, já que meu psicológico agora não tinha mais forças para aquele assunto. Eu só queria desviar minha mente de todo aquele distúrbio.

— Tem certeza? Eu notei quando você quase ia saindo, meio sem paciência, mas ela te fez ficar. — insistiu ela.

— Na verdade, aquilo foi porque ela estava achando super engraçado o fato de que a namorada, super segura e madura, como eu falava, estava aqui ao lado nos vigiando. — falei sarcasticamente, talvez descontando meu nervosismo na pessoa que menos merecia isso.

Depois deste meu comentário, instaurou-se um silêncio naquela mesa, por alguns longos e constrangedores segundos. Até que o silêncio foi quebrado por um dos garotos, e o assunto foi mudado de vez, e não retornou. Agradeci mentalmente por isso.

O clima continuou um pouco pesado, — não tanto quanto minha consciência — mas acabamos conversando um pouco mais e decidimos que era hora de ir para a casa aprontarmo-nos para, depois, irmos até um barzinho que havíamos passado em frente e parecia ser agradável. Então, fomos embora.

No caminho conversávamos todos os quatro, sem nenhum problema, o que me deixou mais tranquila com relação aos efeitos do meu comentário à minha namorada. Mas, ao chegarmos ao quarto, antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, Giovana adiantou-se:

— Bárbara, peço desculpas se te incomodou o fato de eu ter "ficado vigiando" — usou os dedos das duas mãos para colocar, fisicamente, este termo entre as aspas — a conversa de vocês.

— Não é isso, é só que... — fui interrompida.

— Se quer saber, foram os meninos que insistiram para que ficássemos lá. Se fosse por minha vontade, eu faria questão de ir para o mais longe possível e não ter que presenciar aquilo. Mas, como eu estava lá, não tive como ficar completamente alheia à situação e, vez ou outra, eu acabava por dar uma olhada em sua direção.

— Eu te entendo, e está tudo bem. Confesso que foi uma situação chata. Afinal, eu só fui me encontrar com ela por insistência sua, lembra? E, justamente, porque você queria provar que não se sentia ameaçada por ela. No fim das contas, acabou tendo o efeito contrário, não acha?

— Não era a minha intenção. Talvez seja automático, eu sabia que você estava ali, tão perto, e naturalmente meu instinto era te procurar com os olhos, meus olhos buscam os seus. Mas, de qualquer forma, tentarei controlar meus instintos daqui pra frente.

Giovana proferiu estas últimas palavras pouco antes de fechar a porta do banheiro, deixando-me sem direito de resposta. Saí do quarto e banhei-me em outro chuveiro, na esperança de que a água corrente em minha pele levasse consigo todo aquele dissabor que impregnava meu corpo.

Ao voltar ao nosso quarto, ela já se vestia. Como era linda aquela mulher...

— Se há algo de que tenho certeza, é que este assunto não tem importância o suficiente para nos deixar neste clima estranho uma com a outra... — tentei acalmar os ânimos.

Giovana ateve-se em dar de ombros e não tocar mais no assunto. Honestamente, ela tocou em nenhum assunto enquanto estávamos a sós, nós duas, envolvendo-nos em um silêncio desconfortável e quase agonizante.

**********

Já acomodados no barzinho, aproveitávamos um comecinho de noite muito bonito. E o ambiente do bar era mesmo muito gostoso, sentamo-nos em uma mesa de canto, um pouco afastada da entrada, mas bem localizada próximo a um palquinho pequeno que havia ali.

No momento em que chegamos, já tínhamos percebido alguma aglomeração e movimentação ao redor dos equipamentos de som e microfone, e agora percebíamos o porquê: um rapaz com um violão e uma harmônica começava a se preparar para tocar algumas músicas para o pequeno público que o aguardava.

Eu não sei como seria o andamento desta noite, não fosse o bem escolhido repertório do rapaz. Mas posso afirmar, com veemência, que as escolhas de músicas que ele apresentou-nos naquele início de noite serviram como uma luva em meus pensamentos conturbados.

E, com certeza, aquelas canções bem escolhidas pelo artista — e pelo destino — deram uma guinada significativa para que o fim daquela sexta-feira fosse diferente do esperado.

No meio de tudo, Você!Onde histórias criam vida. Descubra agora