Capítulo 34 - Alunos

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Na manhã de quarta-feira, eu dava a última aula enquanto os alunos, assim como eu, estavam com a cabeça já no feriado. Alguns já com o material guardado, só esperando o sinal tocar indicando que o feriado começara.

Diante daquela euforia que tomava conta por meio de conversas paralelas, pernas chacoalhando em sinal de ansiedade, decidi:

— Bom, já que restam só 10 minutos, podem guardar suas coisas e aguardar o sinal conversando com seus colegas — após ouvir gritos de comemoração, tive que aumentar meu tom — DE FORMA CIVILIZADA, por favor. Não querem que a diretora venha aqui checar o que está havendo, né?

— Desculpe, professora! — disse Juliana, uma das alunas.

— É, prof, — completou Felipe — nós só ficamos animados pq você é a melhor professora deste colégio. Você é demais!

Em meio a algumas vozes, ouvi:

— Deixa a prof. Giovana saber que você tá cantando a mulher dela.

Naquela hora, meus olhos ficaram arregalados e eu não sabia como reagir. Alguns alunos começaram a cochichar, outros arregalaram seus olhos em minha direção também, e isso tudo em menos de 1 segundo.

— Quem foi que disse isso? — Perguntei com um tom sério, mas não ríspido. O que fez todos se calarem e voltarem seus olhos para mim.

Depois de alguns segundos de um silêncio constrangedor, fechei minha cara e sentei-me em frente a minha mesa, mexendo em alguns papéis. A situação estava claramente incômoda. Não que eu me importasse que soubessem da minha sexualidade, mas me incomodava saber que estavam fazendo comentários engraçadinhos a respeito da minha vida privada.

Finalmente, o sinal tocou e os alunos foram saindo, um a um, proferindo apenas alguns "tchau, professora", "tenha um bom feriado", "nos vemos na próxima semana", de forma meio tímida e cautelosa.

— Professora? — ouvi de uma aluna parada em minha frente — Posso falar com você?

— Claro, Luiza! — respondi com um sorriso leve no rosto, sendo o mais simpática que podia.

— Prof, eu queria pedir desculpas pelo que você ouviu, foi totalmente inapropriado.

— Por que está me pedindo desculpas? Eu sei que não foi sua voz que eu ouvi. — indaguei.

— Não, não fui eu. Mas eu me senti mal da mesma forma, não quero que isso destrua a amizade que você tem com a nossa turma. — ela respondeu — Olha, não pensa que todos nós ficamos fazendo piadas sobre a sua vida pessoal. Pra falar a verdade, a grande maioria respeita muito a sua vida privada.

Luiza era, realmente, uma das alunas mais maduras com quem eu tinha contato. Ela tinha um gosto musical também similar ao meu e este era, em grande parte das vezes, o tema das nossas não tão raras conversas em sala de aula.

— Tudo bem, minha querida. — eu disse com um sorriso mais sincero — não precisa se sentir culpada e nem se preocupar com perder minha amizade, viu?

— Obrigada, prof, você é muito especial pra gente. E desculpa, de novo. — ela disse enquanto eu terminava de guardar minhas coisas e me levantava.

Saímos da sala e caminhamos pelo corredor juntas. Quando estávamos próximas à sala dos professores e, consequentemente, da saída, eu me dei conta de algo, diminui o passo e toquei levemente o braço da aluna, para que ela parasse em minha frente:

— Luiza, desculpa, mas como foi que o meu relacionamento chegou ao conhecimento de vocês todos?

— Ai, prof, eu não queria ter que te falar, porque tenho medo de você ficar chateada com ela, mas foi na total inocência, eu juro! — Luiza me respondeu, preocupada.

— Quanto a isso você pode ficar tranquila, Lu, eu não vou ficar chateada e muito menos dizer que você me contou.

— Tá bem. Foi a professora Carla, — neste momento, senti cada gota de sangue do meu corpo entrar em ebulição — mas, é sério, ela disse isso sem querer, no meio de uma conversa com a sala. Na verdade, estávamos falando sobre você e o quanto gostamos das suas aulas, e ela, sem intenção alguma, acabou soltando: "e a namorada dela, a de Biologia, não é legal também?", depois colocou as mãos na frente da boca, mostrando que percebeu a gafe, pediu desculpas e nos fez prometer esquecer aquilo, mas, sabe como são os alunos, né?

Respirei fundo ouvindo cada palavra e desejando muita paciência para não sair atrás daquela Carla e acabar com ela ali mesmo. Respirei outra vez, sorri e respondi:

— Entendo, Lu. E fico feliz que a grande maioria trate com normalidade e não ache que seja grande coisa. Muito obrigada por confiar em mim, tá?

Ao terminar de falar, sorri e acariciei o topo de sua cabeça, de forma carinhosa. Percebi que ela ficou ruborizada, ao que me respondeu, com um sorriso tímido:

— Não precisa agradecer, prof. Mas, ah, acho que agora, se me permite comentar, a prof Giovana realmente pode não estar gostando disso — soltou uma pequena gargalhada, antes de ir em direção à saída enquanto me desejava um bom feriado.

De fato, quando olhei em direção a sala dos professores, havia uma Giovana um pouco perdida me observando.

Sorri e caminhei em sua direção.

No meio de tudo, Você!Onde histórias criam vida. Descubra agora