Capítulo 45 - A volta

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Despertei bem cedo naquela manhã, estava difícil mesmo conseguir descansar por muito tempo com todo aquele turbilhão que vagava pela minha cabeça. Decidi por levantar-me e fui preparar o café da manhã. Giovana parecia estar dormindo e nem me viu sair. Usei mais este tempo sozinha para pensar um pouco mais. E pensei, pensei muito. Revivi aquela cena milhares de vezes, até perceber que havia parado de machucar.

A verdade era que eu acreditava em Giovana. Acreditava mesmo, confiava nela. E eu sabia que toda a minha raiva recaia apenas em uma pessoa, aquela que estava, por algum motivo, tentando destruir meu relacionamento.

Manuela parecia estar usando todas as táticas possíveis para isso. Primeiro tentou a sorte apostando em me seduzir, pensou que talvez eu realmente fosse trair minha namorada, por algo que já passou. Depois vieram as provocações, mensagens, para causar brigas, mas também não conseguiu o que queria. E agora, por último, resolveu atacar da forma mais covarde e inesperada possível.

O que eu não entendia, na verdade, era porque isso? "Manu, você sempre foi uma garota incrível, um sonho de namorada, se não fosse a distância que nos atrapalhava e a vida dando conta de nos separar, você poderia até ser o amor da minha vida. Você realmente me fazia bem. E agora? Onde está aquela Manu carismática, sensível e tão doce que eu conheci aqui, neste mesmo balneário, alguns anos atrás?"  Eu pensava enquanto colocava as coisas no balcão da cozinha.

Eram perguntas que eu sabia que jamais obteria respostas. Isso me entristecia, um pouco. Não há nada mais digno de pena e tristeza do que observar o corrompimento do caráter e dos princípios de alguém que, antes, costumava ser uma boa pessoa. Era uma grande pena tudo aquilo que estava acontecendo.

Saí dos meus devaneios quando algo me chamou a atenção para fora deles:

— Bom dia! — ouvi a voz um pouco trêmula de Giovana vindo da escada. Seria o sono, o nervosismo, ou um misto dos dois?

Respondi com um leve sorriso — Bom dia!

— Você está bem? — ela me perguntou com um pouco de cautela.

— Estou bem, sim. Você está? — retribui a pergunta.

— Não muito. Olha...

— Não precisa, Gio. — interrompi — Eu vou falar.

Ela me olhou com uma feição um pouco espantada. Talvez tivesse passado vários minutos ensaiando o que me dizer, talvez horas, talvez até a noite toda. E agora, eu a impedi de se expressar.

— Eu sei. — continuei — Eu sei que não foi você, eu sei que você não deu sinais pra ela fazer isso, eu sei. Fiquei chocada? Óbvio! Acabou comigo! Mas agora já deu pra digerir, um pouco mais. Não é fácil assimilar que encontrei minha namorada aos beijos com a minha ex, não mesmo, mas a maturidade já me visitou para mostrar que de nada vale deixar minha raiva dominar e a descontar em quem não tem culpa. Então, tá tudo bem entre nós.

Giovana me encarou por poucos instantes, com um olhar terno, antes de me envolver em seus braços. Como eu amava o aconchego daquele abraço, o toque daquelas palmas passando pelas minhas costelas, eu amava tudo naquela mulher.

Após soltar-nos, Gio concluiu:

— Acho que sua ex tem algum problema sério de caráter, talvez seja até uma condição psiquiátrica, viu. Fico feliz que estejamos indo embora daqui.

Ainda trocamos algumas palavras sobre Manuela, mas poucas. Tratamos de mudar o assunto e tentar esquecer o ocorrido. Não tardou muito, os meninos também apareceram na cozinha. Conversamos um pouco e decidimos ir embora antes mesmo do almoço, e aproveitar para comer em um restaurante que todos nós ouvíamos falar muito bem e ficava em uma das cidades que passaríamos no meio do caminho.

E assim fizemos. Terminamos de arrumar tudo, bagagens no carro e seguimos viagem. O clima estava gostoso, as músicas, as conversas... Acabamos por almoçar um pouco tarde, mas valeu a pena a espera. A comida era, realmente, muito boa como diziam. Ainda demos algumas voltas pela cidade, fomos até um parque, depois um shopping. Compramos coisas, muitas coisas, e só aí decidimos continuar na estrada. Já ao entardecer, a vista que tínhamos em uma das serras era linda, um fim de viagem perfeito para uma viagem cheia de defeitos.

No meio de tudo, Você!Onde histórias criam vida. Descubra agora