Capítulo 38 - Ciúmes!

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— Tá... O que foi isso? — perguntou Gio. Ela estava com a voz um pouco trêmula, desconfiada e nervosa, de forma que eu nunca tinha visto.

— Isso o quê, amor? — fiz esta pergunta retórica, enquanto me preparava para projetar a melhor resposta.

— A Manu — disse o nome com desdém — que estava te comendo com os olhos. Qual a dela?

— Você está ciumenta? — tentei quebrar o gelo, provocando-a.

— Não me venha com brincadeiras, Bárbara. Eu vi a forma como você ficou toda desconcertada perto dela, e o jeito que ela te olhava não era nada normal também. — agora ela já estava um pouco ríspida.

Eu estava completamente perdida, porque qualquer atitude minha traria uma reação negativa. A verdade a incomodaria e eu não seria capaz de mentir nem ocultar nada dela.

— Gio... — falei, estendendo minha mão até sua coxa, mas ela desviou, afastando-a, me fazendo engolir em seco.

Quase que simultaneamente ouvimos passos se aproximando, Gui e Pedro tinham voltado atrás de alguma bebida na caixa térmica que levamos, eles falavam algo mas não consegui me concentrar, quando dei por mim, os dois estavam nos encarando assustados. Ao olha-los, desviaram o olhar e disfarçaram.

Imagino que a cena não era muito amigável: eu e Gio que estávamos sempre tão grudadas e amorosas, estávamos, provavelmente, com a maior cara de enterro. Gio com seus óculos escuros encarava o nada e chacoalhava suas pernas, mostrando seu incômodo. Eu estava com meus olhos arregalados e perdida no mundo da lua também.

— Amor, tô a fim de caminhar um pouquinho, vamos? — disse, tentando tirar Gio dali para podermos conversar.

— Não quero, mas fica a vontade pra ir sozinha andar por aí! — respondeu sem nem olhar pra mim.

Eu estava ficando cada vez mais assustada. Por nunca ter vivenciado aquele humor dela, eu não sabia como reagir. Por sorte, o Gui meio que entendeu a situação e disse:

— Pê, agora eu é quem fiquei com vontade de dar umas voltas à beira-mar, vamos?

Sem nem responder, Pedro levantou-se puxando a mão de Gui e saíram. Quando se afastaram suficientemente eu tentei de novo:

— Amor, deixa eu te explicar...

— Explica! — me disse, ainda com rispidez, voltando seu rosto na minha direção — Eu tô esperando.

Como uma estrondosa e inconveniente ironia do destino, vimos Manuela atravessar em nossa frente, um pouco afastada, mas perto o suficiente para irritar, acenando com as mãos. Por trás dos óculos, pude ver Giovana revirando seus olhos.

— Olha, eu preciso ir lá pra casa, sério, não vou aguentar ficar aqui. — ela me disse, levantando-se

— Não! — pela primeira vez, eu fui ríspida também, mas logo abaixei o tom — Se você for, eu vou com você. — toquei levemente um de seus braços, para que ela não se afastasse.

— Quer saber, Bárbara? — ela respirou fundo e voltou a sentar — Eu não gosto de estar assim, não sou de ter crise de ciúmes, mas você não está ajudando. Por favor, me fala o que está acontecendo.

— Tá, amor, eu te falo tudo. Mas, por favor, fica calma e não me trate desta forma.

Ela tirou seus óculos, esfregou seus olhos por um segundo e olhou profundamente nos meus, refletindo sobre a reação dela, mas não disse nada.

— Eu conheço a Manu há muito tempo, os pais dela frequentam esta praia aqui e foram muito amigos dos meus, durante muitos anos.

— Sim, e aí? — continuou me instigando — Eu sei que não é só isso. Se fosse, você já teria aberto o jogo faz tempo. E não ficaria tão nervosa ao vê-la aqui.

— E aí que nós passávamos as férias todas juntas. Ela é filha única e viajava só com os pais, eu também era, praticamente, já que meu único irmão, por parte de pai, tinha uma grande diferença de idade e nunca viajava com a gente.

Ela seguia me olhando, com os olhos famintos pela conclusão da história.

— Gio... — falei, desviando o olhar, por estar um pouco envergonhada ao falar sobre isso e, cá entre nós, foi a pior escolha que eu fiz — A gente teve um romance, mas éramos praticamente duas crianças, não tem nada a ver hoje em dia.

Giovana nada disse, vi que seus olhos marejaram e ela virou seu rosto para a frente, talvez para conseguir controlar as lágrimas. Chamei por ela várias vezes, mas nenhuma resposta...

— Ah, Giovana... — eu perdi a paciência — Não acredito que você está desta forma por causa de um romance meu de 5 anos atrás.

Ela seguia sem me responder.

— Sinceramente... — eu falei, levantando-me, mesmo sem saber pra onde iria — E eu ainda ficava insegura, achando que, por ser 6 anos mais nova, a imatura da relação seria eu. Mas já vi que idade não significa muita coisa, né?

— Eu não estou desta forma por causa de seu pequeno romance de 5 anos atrás, Bárbara. E se você fosse um pouquinho mais esperta, saberia disso.

Ouch! Depois dessa eu visualizei meu ego como um balão rasgado que ia se afastando e desinflando.

— Então fala aí, Giovana. Mas seja bem clara, porque minha inteligência, aparentemente, não é das melhores, né?

Ela apenas ignorou meu segundo comentário e começou a desvencilhar as palavras, quase sem respirar, me fazendo baixar a bola completamente:

— Sabe por que eu fiquei assim? Porque quando esta menina chamou seu nome, eu vi você praticamente perder o chão. Porque sua feição ao ve-la mudou completamente. Porque ela te abraçou e aproveitou para abusar da situação e passar as mãos pelo seu corpo. Porque você não teve o bom senso de me apresentar como sua namorada.

Eu simplesmente não tinha o que responder. Fiquei mirando o chão, constrangida, por no máximo 3 segundos, até que ela concluiu:

— Eu estou assim porque, claramente, esta mulher ainda mexe com você. Então não vem me falar que é imaturidade, Bárbara, eu tenho certeza que você também não gostaria nada se me visse caidinha assim por outra mulher.

Avistei Pedro e Gui se aproximando e sugeri:

— Os meninos estão voltando, podemos avisar que vamos pra casa, pra conversarmos melhor?

Ela deu de ombros, me autorizando a tomar a iniciativa. Me levantei, juntando algumas coisas e fiz sinal com a mão para que viessem até nós.

— Gente, nós duas vamos lá pra casa, tá? Não estou me sentindo bem.

— Claro, amiga. — respondeu Pedro — Pode deixar que a gente toma conta aqui.

— Se melhorar, voltem, meninas! — complementou Pedro, dando um beijo em nossas testas.

— Pode deixar, estendi minha mão para Giovana que ainda estava sentada.

Ela hesitou, mas logo aceitou segura-la e saímos de mãos dadas.

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