Manuela era uma garota que passou a frequentar aquela praia há uns 8 anos, seus pais compraram a casa ao lado da nossa. Como tínhamos a mesma idade — e 15 anos era uma fase complicada para uma garota estar sozinha com seus pais numa casa de praia — nossos pais começaram a nutrir uma amizade e tentar forçar uma entre nós duas também.No primeiro ano, nós demoramos um pouco para criar uma amizade, coisa de adolescente orgulhosa. Basicamente, ficávamos trancadas no quarto em silêncio em nossos celulares, na maioria das vezes. Quando enfim nos entregamos e descobrimos que poderíamos ser grandes amigas, já estavam acabando as férias e teríamos que ir cada uma para sua respectiva cidade.
E assim aconteceu, passamos o ano todo trocando mensagens, ansiosas pelo fim de ano para nos encontrarmos de novo. Nos feriados durante o ano, minha família costumava viajar para outros lugares e acabávamos não nos encontrando, ela sempre ia pra praia e dizia o quanto estava entediante e eu respondia que também estava no tédio, mesmo que estivesse me divertindo muito, não queria que ela se sentisse sozinha.
Eu preciso confessar que me sentia atraída por ela, apesar de ter certeza de que isso nunca sairia da minha cabeça. Nós, às vezes, trocávamos algumas mensagens mais conotativas no MSN. Lembro-me de uma vez que me despedi mandando beijos e ela me respondeu indagando se o beijo poderia ser onde ela quisesse.
Naquele momento, eu amaldiçoei a hora em que resolvi chamar minha amiga do colégio pra ir lá pra casa. Se eu pudesse, ficaria estendendo aquela conversa com a Manu por horas, mas já ouvi de novo minha mãe gritando "Báaaaarbara, a Letícia está te esperando, filha, desce logo". Portanto, só pude afirmar "onde você quiser!" e desconectar-me antes que algo continuasse a me prender ali.
Depois disso, foi inevitável que algumas outras mensagens neste contexto acontecessem, o que fazia meu peito pulsar mais forte e me dava uma sensação incrível. Mesmo assim, eu acreditava realmente que esta atração nunca sairia do virtual para o real.
Finalmente dezembro chegou e nós duas estávamos muito animadas. No primeiro momento, estava super nervosa e constrangida, não sabia como agir na frente dela, mas depois de poucos segundos, quando percebi que ela estava agindo normalmente, aquele nervosismo todo passou e pude ficar na boa.
Nós duas não nos desgrudávamos, ficávamos praticamente todo o tempo sozinhas, conversávamos sobre tudo, amigos, paixões... Todos os dias alternávamos e uma dormia na casa da outra. Éramos, de fato, melhores amigas. Mas...
Bom, uma certa noite estávamos no meu quarto, deitadas em minha cama assistindo algum dos filmes da saga Crepúsculo — antes de me julgar, tenham em mente que eu tinha 16 anos. Além disso, naquela época não existia Netflix e essa imensidão de séries pra acompanhar, a gente se apegava ao que tinha. E o que tinha era Crepúsculo.
Até que, no meio do filme, simplesmente do nada, — nenhuma cena mais romântica, nem nada do tipo — a Manu criou coragem e segurou minha mão, fitei-a e notei que ela não tirou os olhos da tela. Voltei meus olhos para o filme e entrelacei nossos dedos.
O som das nossas respirações ofegantes era tudo que eu conseguia ouvir, chamavam mais atenção que o áudio do filme, que não estava baixo. Depois de alguns minutos, ela quebrou o nosso silêncio, perguntando:
— Bá, você acha que devemos conversar?
— Eu acho que não precisamos — respondi virando meu corpo pra ela, e tocando seu rosto com uma das minhas mãos.
Percebi quando ela fechou seus olhos e lentamente foi se aproximando dos meus lábios. Me deu apenas um selinho e voltou para o seu lugar.
— Eu gosto de você, Manu. — resolvi confessar.
— Eu amo você, Bá!
Aquilo não me pareceu tão significativo, já que nós éramos amigas e "te amo" era algo recorrente.
— Não. Quero dizer, eu gosto gosto de você, sabe? — cerrei por um momento os olhos — Tipo como você me contou que gosta do seu colega de classe.
— Ah, então eu também gosto gosto de você — me respondeu com um sorriso.
— Mas...
— Eu disse aquilo porque estava tentando analisar sua reação. Sei lá, na verdade nem sei porque o fiz. — ela riu — A verdade é que já tem um tempo que a única pessoa que eu gosto gosto é você.
Isso foi o bastante para me encorajar a, num ato de impulso, envolver seus lábios nos meus, em um beijo — de verdade, desta vez — terno e confortante.
Aquelas férias foram intensas, nós não tínhamos muito juízo e acabávamos quase sendo pegas aos beijos várias vezes. Mas, apesar de todas as oportunidades, nunca fomos além disso — não naquelas férias.
Ao longo do ano seguinte, nos vimos envolvidas em um relacionamento à distância. E dessa vez nos encontramos algumas vezes a mais, ela insistiu aos seus pais para que fossem até minha cidade passar o fim de semana da festa do meu aniversário. Dois meses depois, eu é que estava indo ao dela.
Antes de seu aniversário, que era em maio, o teor de nossas conversas começou a ficar ligeiramente mais quente, nos fazendo crer que no primeiro momento em que ficássemos sozinhas, iria rolar algo a mais.
Meus pais e eu chegaríamos à casa dela no sábado, dia da festa, e a noite com certeza prometia... Prometeria, se não fosse uma amiga dela, cujos pais provavelmente esqueceram de busca-la e a mãe da Manu a fez convida-la para passar a noite lá. Foi bem frustrante.
Tivemos que ficar até dezembro trocando mensagens, cada vez mais libidinosas, até o dia em que, finalmente, passamos uma noite juntas sozinhas e pudemos matar nossa vontade uma da outra.
Depois da primeira vez, fizemos quase todos os dias — e noites — e nos víamos cada vez mais apaixonadas. No ano seguinte, passamos a nos ver com mais frequência. Como tínhamos recém-completados 18 anos, fizemos algumas viagens juntas. Às vezes, apenas nos encontrávamos em alguma cidade pequena no meio do caminho das nossas. Afinal, tudo que precisávamos era um quarto de hotel para ficarmos juntas o tempo todo.
E, então, mais um período de férias natalinas juntas o mês todo. Aquilo era a melhor coisa da minha vida, eu passava o ano esperando pelo fim dele, apesar de sempre ter sido contra querer apressar o tempo, mas por ela eu esquecia até o Carpe Diem.
Em dado momento do ano seguinte, começamos a discutir com mais frequentemente, crises de ciúme ocorriam com frequência, e se não era pelas festas das nossas faculdades, era por alguma bobagem nas redes sociais. Às vezes, ficávamos dias sem trocar mensagens, e isso me irritava muito.
Certa vez, em uma conversa amigável, decidimos que o mais saudável para nós duas era terminarmos o que tínhamos, e depois, quando conversássemos pessoalmente, decidiríamos o que fazer. Terminamos a conversa dizendo o quanto amávamos uma a outra.
Naquele ano, Manu lamentou muito uma greve em sua faculdade, que a fez ter aulas durante as férias, impedindo-a de ir à praia. Ela me pedia desculpas o tempo todo, mas logo as mensagens cessaram também.
No ano seguinte, marquei uma viagem de fim de ano com meus amigos, e não foi algo terrível de minha parte, pois o sentimento que tínhamos, depois de 1 ano e meio quase sem nos falarmos, já não existia mais. Ficou claro que era apenas aquele calor da paixão entre adolescentes, conhecendo e descobrindo coisas.
Nos anos seguintes, eu mesma deixei de viajar com meus pais, depois de sair de casa pra morar sozinha. Da Manu, eu nuca mais soube, nunca mais nos encontramos, durante todos esses anos. Até hoje...
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Gente, este é um pequeno background da história da Bárbara com a Manu, pra situar vocês no assunto.
Sei que a ansiedade tá forte pra saber qual vai ser a reação da Gio com aquilo que aconteceu na praia... E a curiosidade pra saber onde isso vai dar também.
Mas respirem fundo que logo sai mais um capítulo, hahahaha.
😘😘😘
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No meio de tudo, Você!
RomanceBárbara, recém-formada na universidade, começa sua vida profissional como professora em seu antigo colégio. Lá, ela se aproxima de Giovana, sua colega que, em meio a um pouco de caos em sua vida, encontra na cumplicidade de Bárbara o caminho para su...