3 - Sonhei aquilo de novo

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—Pausa para o almoço?

A cabeça da minha amiga apareceu na fresta da minha porta entreaberta, depois veio o pacote gigante de batata frita e um sorriso enorme. Aquela era Nanda, a que adorava manhãs de segunda-feira e me entupia de porcarias alimentares.

—Entra.

Tirei meus óculos e esfreguei o rosto, depois massageei meus ombros um pouco. Estava cansada. A manhã tinha voado e não havia conseguido revisar nem um capítulo inteiro.

Nanda entrou, fechando a porta atrás de si e afastou meus papéis colocando um banquete de coisas gostosas e nada nutritivas para nos fartarmos.

—Prometi a batata frita e você sabe que sempre cumpro minhas promessas.

Peguei o pacote e abri. Vinha tentando uma dieta em dias de semana, mas aquele dia estava tão esquisito que decidi me liberar um pouco. Mordi o petisco crocante e fechei os olhos relaxando meu corpo na cadeira.

—Obrigada — falei e peguei mais duas enchendo a boca.

—Como anda a revisão?

Soltei o ar e terminei de mastigar a batata, tomando um gole do refrigerante em seguida.

—Péssima... Quatro horas de trabalho e não consegui terminar o oitavo capítulo.

—Quantas páginas o capítulo tem?

Olhei rapidamente meu cronograma de revisão.

—Doze.

—Uau! Isso que é ressaca! A festinha no sábado deve ter rendido, afinal não consegui falar com você ontem e hoje nesse ritmo de lesma.

Meu corpo retesou ao me lembrar do meu domingo. Basicamente sonolento, recheado de flashback de um encontro da biblioteca e um reencontro nada promissor no sábado.

—Terra chamando Lucy!

Voltei a olhar para minha amiga.

—Oi?

—Não vai me dizer como foi o teste da despedida de solteira da Barbie-sem-nada-na-cabeça?

Enchi minha boca de mais batata, seguido por outro gole de refrigerante.

—Nanda.

—Oi.

—Sonhei aquilo de novo.

Ela revirou os olhos, mordeu o hambúrguer e limpou a boca.

—Novidade. Você sonha com aquela biblioteca pelo menos uma vez por mês.

—Mas dessa vez ele estava diferente do que sempre vi e tinha um nome.

Ela arregalou os olhos e chegou para frente.

—Aiiiiii!!! Vamos procurar no facebook!

—Na verdade nem precisa, amiga.

Ela franziu a testa.

—Vai me dizer que você desistiu dele?

Engoli em seco.

—Acho que sim. Quer dizer, nunca achei que fosse reencontrá-lo ou ter qualquer coisa com ele, então não podemos dizer que desisti. Não é como se eu estivesse procurando por ele em cada esquina.

—Ahhh! Nem vem com essa! Você esperava encontrar seu gato da biblioteca a qualquer momento, sim! Não foi por acaso que seus dois namoros não deram certo.

—Estava focada no trabalho. Aliás, nós duas estávamos, quer dizer, estamos. Nossa editora é nova no mercado editorial e precisamos trabalhar muito pra fazer dar certo.

O estranho da bibliotecaOnde histórias criam vida. Descubra agora