12 - Eletricidade

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Fiquei observando o celular tocar, enquanto o frio percorria meu corpo, se misturando ao calor das memórias do que tinha acontecido naquela madrugada e manhã. Era a terceira vez que Derek me ligava e eu me recusava a atender. Não porque não quisesse, longe disso! Era simplesmente minha maneira de resistir, pois sabia que se atendesse, provavelmente aceitaria qualquer proposta que ele fizesse, por mais louca e inconsequente que fosse. E eu não podia, não de novo.

O aparelho parou de vibrar e soltei o ar, sentindo a frustração percorrer todo meu corpo. E é claro que o desejo continuava ali, quase palpável de tão forte.

Ele parecia ter desistido, então voltei minha atenção para o arquivo aberto em meu computador. Já tinha lido o mesmo parágrafo cinco vezes e estava começando a sexta quando Nanda entrou na sala, fechando a porta atrás de si.

—Pode me dar um minuto? — pediu.

—Sim.

Estendeu dois modelos de capa em cima da mesa. Era o nosso próximo lançamento, um romance de época de uma das nossas mais queridas autoras, que escrevia maravilhosamente bem. Analisei os aspectos da capa, as fontes, as cores e defini minha preferida.

—Também gostei mais desta — contou. — Vamos enviar pra Julie dar a opinião, depois passarei pra o Eduardo fazer qualquer ajuste necessário, estou programando pra divulgar na sexta.

—Ok.

Meu olhar ficou perdido entre a tela do computador e minha amiga.

—Lu? Você está bem?

—Não sei, amiga. Está difícil de definir o que estou sentindo, como estou.

—Por isso passou a manhã inteira trancada aqui?

Assenti.

—Não estava querendo falar sobre o que aconteceu.

Nanda abriu um pouco os olhos, visivelmente curiosa.

—Você sabe que nasci com a semente da curiosidade implantada em mim — brincou. — Mas se você não quer falar, tudo bem.

—Não queria, mas diante das ligações, acho que preciso.

—Ligações? Como assim? Volta um pouco a fita!

—Transei com o Derek — contei.

Ela me olhou por alguns instantes.

—Tá, ok. Pelo telefone? — perguntou.

—Não, amiga. Foi beeeeeeem presencial, aliás.

Minha amiga abriu a boca em O.

—Ok. Então, como? Quando? Onde? Por quê?

—Como, eu não preciso explicar, além do fato de que ele é perfeito, ou seja, tudo foi incrível. Poderia ter sido horrível, uma desilusão, já que na biblioteca havia espetacular, eu poderia ter imaginado coisas, não sei... — considerei. — Maaaas foi surreal de bom! Foi... Ai... FOI!

—Ok, isso está na cara! — Riu. — Não precisa esfregar na cara da sua amiga carente que você teve orgasmos múltiplos.

Ri.

—Bom, continuando, foi ontem, na minha casa e o motivo: muito tesão, amiga. Como se só por estar perto, ele me puxasse em sua direção. Não sei explicar, não sei dizer os motivos exatos, ou numerá-los, é diferente.

—E como ele foi parar em seu apartamento ontem?

—A pergunta de um milhão de dólares! — Apertei meus ombros tensos. — Ele disse que precisava de companhia e que me levaria uma torta de limão com doce de leite.

O estranho da bibliotecaOnde histórias criam vida. Descubra agora