44 - O sábado

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Não falei com Barbie na sexta. Primeiro porque passei toda noite tentando fazer Nanda distrair as ideias do Marcelo. Fomos ao restaurante de táxi a fim de tomarmos drinques à vontade. Voltamos para casa no final da noite, ligeiramente bêbadas, mas ainda sem sono, o que nos fez maratonar séries aleatórias apenas para ter algum barulho enquanto conversávamos e ocasionalmente comentávamos alguma coisa do que estava passando. Só pegamos no sono, no sofá mesmo, quando já passava das três da manhã, o que me fez levantar apenas depois do meio dia.

O segundo motivo que me fez não ligar para Barbie ou atender suas inúmeras ligações, foi que eu não sabia o que dizer ou como me comportar. Mas quando terminei de tomar um copo de suco e comer metade de um pão, meu celular voltou a tocar e não pude mais ignorar.

—Alô — falei com a voz ainda rouca pela ressaca da noite mal dormida.

—Lucy?

—Oi, Barbie.

—Espero que isso não seja uma gripe — falou em um tom seco e diferente do habitual, como se eu ficar gripada pudesse atrapalhar seus planos.

—Não, só dormi tarde.

—Sei... Uma pequena farra de sexta-feira?

—Só saí com Nanda — resumi. — O que você quer falar comigo?

—Desde ontem tentei te ligar.

—Eu sei, mas não pude retornar, tinha muito trabalho na editora e depois precisei dar atenção a Nanda.

—Claro, minha sempre ocupada prima com suas intermináveis ocupações. Tão importante.

A ironia era evidente, mas preferi ignorar.

—Então, diga no que posso te ajudar?

—Quero você aqui em cada por volta das 17h00 — afirmou com tom de quem ordem. O mesmo que sempre havia me tirado do sério.

—Não sei se posso, Barbie, eu...

—Você pode e vem, Lucy.

Diferente das birras habituais havia uma gravidade na forma como ela pronunciava as palavras e aquilo me fez estremecer sem querer.

—Está tudo bem?

—Hoje seria meu grande dia e nada vai acontecer, você acha que estaria tudo bem?

—Desculpe...

—Então, 17h00 aqui e não se atrase, isso é importante.

—Ok, Barbie. Já entendi, vou me organizar para estar aí.

—Perfeito.

E desligou. Fitei o celular com a testa franzida, a confusão em meus pensamentos. Como minha prima conseguia ser tão desmedida em sua forma de tratar as pessoas? Mesmo sofrendo ela conseguia agir de maneira altiva e imponente, o que era bastante exaustivo e me fazia sentir muita raiva por sempre assentir e fazer o que ela queria.

—Só mais dessa vez, Lucy! — murmurei para mim mesma.

—Falando sozinha?

Nanda perguntou da soleira da porta da cozinha.

—Mais ou menos, só estou tentando me acalmar depois da minha priminha ligar me dando ordens.

—Fala sério! Essa criatura ainda acha que manda em todo mundo?

—Vou dar todos os descontos possíveis por causa do dia de hoje, Nanda. Mas será a última vez que Bárbara me liga dando ordens e esperando que o mundo gire em torno dela.

O estranho da bibliotecaOnde histórias criam vida. Descubra agora