24 - Mais do que posso

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Não consegui dormir. Passei toda a noite jogada na frente da TV assistindo um filme atrás do outro, incapaz de prestar atenção em qualquer coisa. Queria apenas ter a sensação de que não estava tão sozinha quanto me sentia.

Quando o dia amanheceu, levantei, fiz café e tomei suas xícaras para me sentir mais desperta. Depois tomei um banho frio, coloquei a primeira roupa confortável que vi, peguei minha bolsa e saí. Estava com os olhos ardendo e com a cabeça doendo pela falta de sono, então optei por chamar um táxi ao invés de dirigir.

Já dentro do elevador meu celular vibrou em sinal de mensagem. Era Nanda avisando que chegaria um pouco atrasada. Observei que não tinha nenhuma ligação ou mensagem dele, meu estômago se contorceu e respirei fundo, tentando não sucumbir à dor em meu peito. Precisava focar no trabalho para esquecer aquela sensação nauseante que tinha me tomado desde a noite passada, quando deixei que ele fosse, mesmo querendo que ficasse.

Pela milésima vez, me questionei se tinha feito a coisa certa. Gostaria que houvesse um manual de respostas certas quando o assunto fosse o coração.

Cheguei à editora e Diná já estava na recepção.

—Bom dia, Lu.

—Bom dia.

—Que cara é essa?

—Insônia.

—Ah! É horrível mesmo. Quer um café?

—Aceito.

—Logo levo na sua sala — disse.

—Obrigada

Entrei e ainda não havia ninguém em suas mesas. Chequei as horas e estava quarenta minutos adiantada do meu horário normal. Melhor assim. Poderia entrar na minha sala sem ter que confraternizar com ninguém, me trancaria o resto do dia e evitaria qualquer contato humano.

Diná levou uma xícara de café com alguns biscoitos de goma, mas minha garganta estava travada e não passaria nenhuma comida naquele dia. Tomei um analgésico junto com o café e iniciei meu trabalho de copidesque de um livro.

Os livros sempre tiveram o poder de me levar a outros lugares e por pior que fosse o que me rodeava, sempre que eu estava lendo, tudo voltava a ficar bem. Eu passava a me preocupar com os dilemas dos mais variados personagens e me esquecia de mim. Graças a isso, a manhã transcorreu rápida e produtiva. Tinha conseguido avançar em três capítulos longos e estava gostando do resultado.

—Licença? —Talita colocou a cabeça para dentro da sala. — Posso entrar?

—Claro, Tali.

Estiquei os braços acima da cabeça, alongando meus músculos. Retirei os óculos e peguei o colírio, enquanto minha amiga sentava e me observava, quieta demais.

—Então, veio começar? — perguntei.

—Sim. Quis vir hoje pra sentir o clima de trabalhar aqui, conhecer mais o pessoal — explicou.

—Isso é ótimo.

—E você? Como está?

Parei e a encarei, os olhos lacrimejando pelo colírio.

—Bem.

Ela assentiu devagar e notei que ela já sabia de tudo.

—Você mente muito mal, sabia?

—Por que diz isso?

—Porque está na sua cara que essa noite foi uma droga.

Arriei os ombros e peguei um lenço de papel para secar os olhos.

O estranho da bibliotecaOnde histórias criam vida. Descubra agora