17 - Fogueira e violão

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Chegamos em casa já era noite, mas o movimento por lá continuava ativo. Pessoas na piscina, refletores ligados, um grupo jogando vôlei, outro perto da churrasqueira que continuava a todo vapor. O plano de Barbie para aquela noite era uma fogueira e uma roda de violão, além de um barman que faria drinques tropicais, mesa de frutas e churrascos de palito. Eu até estava animada para encerrar o dia com um luau daqueles.

Assim que entramos na casa, Tales nos interceptou.

—Gata! Achei que tinha perdido você! — falou, se aproximando o suficiente para colocar a mão em minha cintura. — E aí, parceiro?

—Beleza — Derek quase rosnou.

—Perdeu o espetáculo do sol se pondo — disse, sorrindo pra mim.

—Pois é, tivemos que resolver esse problema pra Barbie e ficamos presos no cais — expliquei.

Observei o peito de Derek se inflando pela respiração profunda e a falta de paciência evidente.

—Mas agora que está de volta, vai curtir o luau ao meu lado — Tales afirmou, me puxando em direção à casa.

Lancei um olhar rápido para Derek, que continuava com a cara emburrada, mirando seu assistente que se apoderava da minha cintura. Tales falava algo sobre o luau, mas me limitei a assentir. Minha cabeça estava cheia de outras coisas, muito mais espetaculares e confusas. Alguma coisa havia mudado entre eu e Derek depois daquele dia juntos. Este era o fato que tinha ficado no ar e que nossos olhares denunciavam quando se cruzavam. Algo tinha mudado, mas o que?

—Lucyyy!

Barbie falou correndo em minha direção e percebi que tinha bebido um pouquinho além da conta. Abraçou-me forte, interrompendo a proximidade que Tales insistia em provocar.

—As molduras ficaram lindaaaaaaaaaaaas! — disse. — Obrigada por ter ido buscar! Sei que atrapalhei todo seu dia, mas não sabe como me ajudou! Agora, vá se arrumar que logo o luau começará! A fogueira já está acesa!

—Claro. — Virei para Tales. — Te vejo daqui a pouco.

—Vou esperar.

Subi as escadas, sentindo-me estranha, culpada e errada, mas também muito feliz. Eu havia me tornado um paradoxo de sensações e pensamentos. Nada fácil de entender.

Abri a porta do quarto e Talita estava deitada lendo.

—Finalmente! — falou, sentando e colocando o livro de lado. — Como foi o dia dos pombinhos?

Fechei a porta e corri até a cama.

—Para de falar essas coisas! — pedi. — A casa está cheia e se alguém ouvir, já imagina a guerra!

—Você é sempre tão paranoica?

—Nunca fui a outra pra me sentir paranoica com cada palavra, olhar ou atitude.

Queria me jogar na cama, mas meu corpo estava sujo de água do mar, então precisava tomar um banho primeiro.

—Você não é a outra — argumentou.

—Tem razão, porque isso não vai continuar.

Talita gargalhou. Riu tanto que ficou vermelha.

—Qual a graça? — perguntei, cruzando os braços.

—Você já disse isso tantas vezes só de ontem pra hoje, que estou achando engraçado que ainda acredite — respondeu, secando o rosto das lágrimas provocadas pela risada.

O estranho da bibliotecaOnde histórias criam vida. Descubra agora