Voltei ao quarto e minha mãe estava na mesma posição, olhando pela janela. Dei a volta na cama e sentei na cadeira perto dela.
—Era a Babi? — perguntou, me fitando.
—Era. Mandou lembranças — menti.
—Ela é uma boa garota — disse e seu olhar mudou para algo que eu não saberia definir, mas que parecia me ler, como se eu fosse um livro aberto diante dela. — Só que talvez não seja o que você precisa.
Fitei-a aturdido.
—Além de se preocupar, as mães aprendem a conhecer detalhes de seus filhos — disse com calma. —E você não me parece um homem que está prestes a se casar com a mulher que ama. Aliás, faz algum tempo que percebo isso.
—Mãe, não é hora de falarmos sobre isso, a senhora passou por um acidente, uma cirurgia, meu pai está na UTI, não precisa se preocupar comigo agora e...
—Derek — ela me interrompeu. — Talvez esse seja o melhor momento. O instante em que nos deparamos com as perdas, com os acasos e as tragédias podem nos mudar, nos fazer perceber que podemos não estar vivendo o melhor da vida. E não quero isso pra você, meu filho.
Engoli em seco, incapaz de me pronunciar diante das palavras dela.
—Você não precisa me dizer o que está acontecendo, nem me confidenciar nada, eu só quero que você saiba que nunca é tarde para se desistir do que não vai te fazer feliz — afirmou. — E se esse casamento não é o que você quer. Se a Bárbara não é a mulher da sua vida. Se não é por ela que seu coração bate descompassado, se ela não é a mulher do seu discurso no dia do chá de cozinha...
—A senhora se lembra do que eu falei naquele dia?
—Como poderia esquecer palavras tão sinceras e profundas? Aquilo foi uma declaração e meu sexto sentido de mãe me diz que não foi para Bárbara.
Assenti devagar.
—É, não foi.
—Então existe alguém.
—Sim.
—E o que você pretende fazer?
Não havia qualquer resquício de julgamento em sua voz.
—Não sei, mãe. Estou tentando focar em vocês, em ver meu pai bem e recuperado.
—Mas seu casamento será no sábado.
—Não, desse jeito não tem como ter casamento — afirmei resoluto.
—Desse jeito por causa do acidente, ou desse jeito por causa dessa outra mulher?
Olhei-a por alguns instantes.
—Os dois.
Minha mãe balançou a cabeça afirmativamente e sorriu.
—Deve ser alguém bem especial.
—Muito.
Fomos interrompidos pelo barulho da porta se abrindo e Talita entrando com Lucy atrás. Cada uma segurando uma bolsa grande. Levantei e enfiei as mãos nos bolsos, tentando não olhar para Lucy, mas falhando terrivelmente.
—Voltamos! — Talita anunciou erguendo a bolsa. — E trouxe tudo que vamos precisar.
—Pelo visto vão precisar da casa toda — falei e fitei minha mãe que me observava.
—Minha filha sempre exagerada!
Talita colocou a bolsa em cima do sofá que tinha no quarto, Lucy fez o mesmo.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O estranho da biblioteca
Любовные романыEm uma noite chuvosa, a luz da biblioteca acabou e dois estranhos tiveram um momento, inesquecível e quente, juntos. Cinco anos se passaram e Lucy reencontra Derek, que agora é noivo de sua prima, Bárbara. Como madrinha do casamento ela não pode se...