35 - Chega!

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Voltei ao quarto e minha mãe estava na mesma posição, olhando pela janela. Dei a volta na cama e sentei na cadeira perto dela.

—Era a Babi? — perguntou, me fitando.

—Era. Mandou lembranças — menti.

—Ela é uma boa garota — disse e seu olhar mudou para algo que eu não saberia definir, mas que parecia me ler, como se eu fosse um livro aberto diante dela. — Só que talvez não seja o que você precisa.

Fitei-a aturdido.

—Além de se preocupar, as mães aprendem a conhecer detalhes de seus filhos — disse com calma. —E você não me parece um homem que está prestes a se casar com a mulher que ama. Aliás, faz algum tempo que percebo isso.

—Mãe, não é hora de falarmos sobre isso, a senhora passou por um acidente, uma cirurgia, meu pai está na UTI, não precisa se preocupar comigo agora e...

—Derek — ela me interrompeu. — Talvez esse seja o melhor momento. O instante em que nos deparamos com as perdas, com os acasos e as tragédias podem nos mudar, nos fazer perceber que podemos não estar vivendo o melhor da vida. E não quero isso pra você, meu filho.

Engoli em seco, incapaz de me pronunciar diante das palavras dela.

—Você não precisa me dizer o que está acontecendo, nem me confidenciar nada, eu só quero que você saiba que nunca é tarde para se desistir do que não vai te fazer feliz — afirmou. — E se esse casamento não é o que você quer. Se a Bárbara não é a mulher da sua vida. Se não é por ela que seu coração bate descompassado, se ela não é a mulher do seu discurso no dia do chá de cozinha...

—A senhora se lembra do que eu falei naquele dia?

—Como poderia esquecer palavras tão sinceras e profundas? Aquilo foi uma declaração e meu sexto sentido de mãe me diz que não foi para Bárbara.

Assenti devagar.

—É, não foi.

—Então existe alguém.

—Sim.

—E o que você pretende fazer?

Não havia qualquer resquício de julgamento em sua voz.

—Não sei, mãe. Estou tentando focar em vocês, em ver meu pai bem e recuperado.

—Mas seu casamento será no sábado.

—Não, desse jeito não tem como ter casamento — afirmei resoluto.

—Desse jeito por causa do acidente, ou desse jeito por causa dessa outra mulher?

Olhei-a por alguns instantes.

—Os dois.

Minha mãe balançou a cabeça afirmativamente e sorriu.

—Deve ser alguém bem especial.

—Muito.

Fomos interrompidos pelo barulho da porta se abrindo e Talita entrando com Lucy atrás. Cada uma segurando uma bolsa grande. Levantei e enfiei as mãos nos bolsos, tentando não olhar para Lucy, mas falhando terrivelmente.

—Voltamos! — Talita anunciou erguendo a bolsa. — E trouxe tudo que vamos precisar.

—Pelo visto vão precisar da casa toda — falei e fitei minha mãe que me observava.

—Minha filha sempre exagerada!

Talita colocou a bolsa em cima do sofá que tinha no quarto, Lucy fez o mesmo.

O estranho da bibliotecaOnde histórias criam vida. Descubra agora