1 - Você, não!

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CINCO ANOS DEPOIS

-Você não tem que ir.

-Tenho sim.

-Você nem mesmo gosta dela.

-Claro que gosto! Ela é minha prima! - argumentei, puxando o último pelo da minha sobrancelha.

-Você só diz isso porque é obrigada, essa coisa de sangue e tal. Aposto que você me ama muito mais.

Gargalhei.

-E você nem se acha né?

-Seja sincera por apenas um segundo e diga o motivo de ir a esse encontro? - Nanda perguntou.

-Você está abrindo um pacote de batata frita?

-Não seja chata! - falou, mastigando ao mesmo tempo. - E responda!

Respirei fundo.

-Vou porque não quero ser taxada como a senhorita-chata-que-só-sabe-estudar - imitei a voz de minha mãe.

-Sabia!

Nanda gargalhou e o barulho de mais batatas crocantes me deu água na boca.

-Agora posso terminar de me arrumar?

-Primeiro diga o que vai vestir.

Revirei os olhos. Melhores amigas podem ser insuportáveis quando querem.

-Vestido preto tubinho básico.

-Jura?! - berrou e afastei o celular um pouco.

-Você ainda vai me deixar surda com esses seus surtos ao celular.

-Você vai a uma das baladas mais movimentadas da cidade e me diz que vai usar aquele vestido careta que parece da sua tia?

Sentei na cama bufando de raiva e jogando o fadado vestido ao chão.

-O que sugere então?

-O vermelho com fenda na perna e decote em V nas costas. Você fica gostosa nele!

Franzi a testa e ouvi mais barulho de batata.

-Não tem batata aqui, isso é uma tortura, sabia?

-Ninguém mandou você dizer que ia cortar a gordura trans - falou de boca cheia. - Agora pegue o vestido vermelho e vista! Quem sabe hoje você não encontra o estranho da biblioteca?

Meu corpo estremeceu. Cinco anos haviam se passado desde aquela experiência louca da biblioteca e apenas pensar na história me causava arrepios inesperados. Aquele homem, de quem eu nem sabia o nome, conseguia produzir em mim, sensações inexplicáveis.

-Eita! Só de falar nisso você fica muda?

Engoli em seco.

-Deixe de ser besta! Você sabe que o que aconteceu foi apenas um lapso de comportamento.

Nanda gargalhou de novo. Ela adorava zombar de mim.

-Se é assim que você quer chamar o melhor sexo da sua vida e o fato de que nunca mais conseguiu se firmar com nenhum homem, pois nenhum deles tem aquele cheiro, aquele beijo e aquela pegada... Então, tudo bem. Foi o maior lapso de comportamento da história humana!

Fiquei muda. Droga de amiga que me conhece tão bem.

-Lucy.

-Oi.

-O estranho da biblioteca pode nunca mais aparecer na sua vida, mas garanto que existem milhões de homens bacanas só esperando que você se abra um pouquinho.

O estranho da bibliotecaOnde histórias criam vida. Descubra agora