29 - Ele me pediu que cuidasse de você

680 67 1
                                    


Acordei me sentindo estranha. Não apenas pela ressaca que incluía com péssimo gosto da boca e uma forte dor de cabeça, mas por tudo que tinha acontecido na noite anterior. Preferia ter tido amnésia alcoólica, ao invés de me lembrar de cada detalhe, desde as bebidas, o loiro e Derek dando uma de protetor, me arrancando de lá e me trazendo até em casa. Aquela parte era a pior. Pois a proximidade com ele havia rompido todas as minhas barreiras, que eu havia levantado com muito custo e mesmo que frágeis, ainda eram minhas barreiras. Mas bastou estar diante dele, bastou que ele me tocasse, que eu sentisse seu cheiro, para que cada pedaço da muralha fosse abaixo, me deixando soterrada entre os escombros.

E ainda tinha o olhar dele. A decepção, misturada com raiva e ciúme, tudo em um único olhar, depois a esperança quando pedi que se afastasse, quando dei a entender que a presença dele era demais para mim. Porque de fato era. Se Derek tivesse ficado mais um minuto em meu quarto me fitando daquela maneira, eu teria pulado em seu pescoço e esquecido o mundo do lado de fora. Teria habitado em nossa bolha, sem qualquer culpa. Apenas nós dois.

—Boa tarde — Talita estava na porta do meu quarto e segurava duas canecas. — Como você está?

—Você dormiu mesmo aqui?

—Duas noites seguidas velando seu sono, acho que isso pode ser considerado um grande exemplo de amizade — falou, indo até minha cama e me dando uma das canecas. — Não podia te deixar naquele estado e...

Fitei-a, enquanto sorvia um gole do café quente.

—E? — perguntei.

—Ele me pediu que cuidasse de você.

Tomei mais um gole do café, dessa vez queimando minha língua.

—Por que ele faz essas coisas? — questionei.

—Como ser o príncipe que protege a princesa do cara mau?

Dei um sorriso fraco.

—Não pedi pra ser protegida — defendi-me.

—Na verdade foi sua prima quem o chamou — contou. — E nós duas sabemos que todo o resto se deveu ao fato de ser você.

—Não deveria ser assim, Tali — falei com a voz sucumbindo à dor. — Ele não pode ser tudo isso, não pra mim.

—Tem razão.

—Agora estou toda confusa de novo, toda bagunçada.

—E antes não estava? — perguntou com a expressão desafiadora.

—Estava, mas ao mesmo do lado de dentro, tentando me proteger, tentando mantê-lo distante.

—E funcionou?

—Não. Porque só basta vê-lo pra tudo ruir ao meu redor e, pior, dentro de mim.

—Nossa! Fico sem fôlego só de te ouvir falar dele — afirmou, segurando sua caneca com as duas mãos e sentando na cama. — Queria viver algo tão arrebatador assim.

—Não fale bobagem! Ninguém merece passar por algo tão tumultuado e confuso. O amor pode e deve ser mais simples que isso.

Ela me encarou.

—Amor?

Balancei a cabeça, soltando o ar e tornando a inspirar profundamente.

—Não sei.

—Apenas seja sincera com você, Lucy. Prometo que não colocarei no jornal — brincou.

Sorri.

O estranho da bibliotecaOnde histórias criam vida. Descubra agora