25 - O jantar

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Sempre vejo as pessoas procurando metáforas com as quais comparar a vida. A vida é uma caixinha de surpresas. A vida é um sopro. A vida é uma roda gigante, carrossel. As pessoas buscam alguma coisa que as ajude a dar sentido para as grandes loucuras que acontecem todos os dias, como se entender nos fizesse sentir melhores. Como se dar sentido fosse o suficiente para não surtarmos diante de tudo que a vida nos impõe. A verdade é a que vida não é nada disso. Ela não é uma caixinha de surpresas, um sopro ou um brinquedo de parque de diversões. A vida só é. Sem mais, nem menos. Ela joga as coisas em nossa cara sem dar maiores explicações e a gente torce para encontrar sentido, a gente luta para dar significado ao que pode não ter.

E durante toda minha semana, procurei sentidos, respostas e significados para o fato de ter conhecido Derek naquela biblioteca tantos anos antes e depois o reencontrado de maneira tão idiota. Mas a verdade é que não encontrei nada que fosse bom o suficiente para que tudo fizesse sentido. Para que meu coração partido fosse parte de algum plano maior.

Estava me olhando no espelho enquanto Nanda terminava de me maquiar. Ela passou o batom e me olhou através do reflexo.

—Você não precisa ir — disse.

—Preciso. Porque não importa o quanto eu fuja ou esteja longe, isso não muda o que sinto.

Minha amiga segurou minha mão, fazendo-me olhar em sua direção.

—Prometi que não te encheria de perguntas ou conselhos — falou com carinho. — Mas me permite apenas um?

Assenti, com medo de que minha voz saísse embargada demais e causasse uma onda de lágrimas que estragariam todo trabalho de maquiagem que minha amiga havia feito.

—Uma hora você vai precisar pensar primeiro em você, Lucy.

Fitei-a, ainda incapaz de falar, mas sentindo o nó em minha garganta se apertar.

—Agora se você tem certeza de que precisa ir — continuou. — Então coloque um belo sorriso neste belo rosto e vá em frente, garota!

Ela se levantou e segurou minha mão até que eu me levantasse também. Olhei-me no espelho, os cabelos volumosos e ondulados emolduravam meu rosto perfeitamente maquiado, com olhos marcantes e delineados. Meu vestido era azul em um tom turquesa que, em contraste com minha pele clara, me realçava. O vestido tinha um decote em V e era justo até minha cintura, se abrindo em uma saia evasê que tinha o balanço perfeito, de modo que quando eu andava, era como se o vestido se animasse a cada passo. Fazia eu me sentir bonita e confiante, como precisaria naquela noite.

Nanda me olhou e sorriu.

—Está linda.

—Obrigada.

Ela me abraçou e nos despedimos. Tinha feito do apartamento dela o meu salão particular, já que precisaria de todas as forças possíveis para passar por aquela noite. Um ensaio para como seria o casamento, dentro de uma semana. Pensar em como os dias tinham voado, fez eu me sentir estranha. Quantas coisas haviam acontecido desde aquela noite de reencontro. Eu havia me envolvido e me apaixonado pelo noivo da minha prima, sem qualquer possibilidade de volta. Estava feito.

Respirei fundo, entrando no elevador e sentindo o celular vibrar. Era uma mensagem de Talita que já estava em frente ao prédio me esperando.

Cheguei à portaria e avistei o carro da minha amiga, que buzinou quando me viu. Sorri, caminhei e abri a porta do carona, entrando em seguida.

—Nossa! Como você está gata! — elogiou. — Meu irmão vai ficar babando.

—Isso não é por ele, Tali — afirmei, enquanto colocava o cinto de segurança.

O estranho da bibliotecaOnde histórias criam vida. Descubra agora