51 - Uma proposta

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Não voltei a falar com Derek pelos dias seguintes. Talvez ele estivesse me deixando pensar, ou só tivesse cansado de tanta complicação. Pensei em ligar diversas vezes, mas nunca concluía a ligação, sempre deixando pra depois.

A relação com meu pai se normalizou, depois que abri meu coração durante um jogo de basquete. Ele também falou tudo que sentia e pudemos recuperar a ligação tranquila que sempre tivemos. Os dias na casa deles se resumiam a ajudar minha mãe nas tarefas, sair para caminhar com ela e trabalhar. Nanda e eu trocávamos e-mails constantemente e a Feira de livro de Berlim acabaria naquele dia, mas minha amiga tinha decidido esticar sua estadia na Europa, indo para Espanha, depois Portugal e Itália. Só retornaria depois de dez dias.

Talita sempre me mantinha informada sobre tudo da editora e eu repassava orientações para todos através dela. Soube também que seus pais já estavam em casa e se recuperando bem. Mas nunca falávamos sobre Derek.

Na manhã de domingo, resolvi ir até a lagoa a fim de caminhar e nadar um pouco. Meus pais resolveram dormir até mais tarde, então peguei o carro deles emprestado e segui para ter uma manhã diferente.

Eu sentia paz naquele lugar. Rodeado por uma linda floresta, cheia de flores diferentes e muito bem cuidada. Todos respeitavam o espaço que apenas no verão era aberto para banhos, como era o caso. Primeiro caminhei ao redor da lagoa até me sentir suada e cansada, depois tirei a roupa, ficando apenas de maiô e me joguei na água refrescante. Nadei por um bom tempo, alternando os estilos e sentindo meu corpo se renovar pela energia da água. Eu sempre me sentia daquela maneira quando nadava.

Quando saí, peguei a pequena sacola que tinha deixado no carro e montei um piquenique que seria meu almoço. Enquanto comia, admirei a natureza ao meu redor e pensei que Derek amaria aquele lugar. Estava sem celular, então não poderia tirar nenhuma foto. Inspirei o ar profundamente e deixei que a paz me invadisse.

Uma semana já tinha se passado desde que tudo acontecera e a cada dia eu me libertava mais da dor e da culpa. É claro que ainda reconhecia que tinha agido muito errado, mas as palavras de minha mãe sempre me ajudavam a recuperar um pouco da paz. No dia anterior tinha escrito um longo e-mail e enviado para Bárbara. Ela não respondeu, como eu sabia que seria. Mas me senti aliviada por ter colocado tudo para fora de algum jeito, além de reforçar meu pedido de perdão. Não poderia forçá-la a me perdoar, porém tinha feito o que era possível, que a vida e o tempo se encarregassem do resto.

Depois de comer, peguei o livro que tinha levado e me deitei no lençol estendido para começar a ler. Fiquei ali por algum tempo, experimentando a tranquilidade depois de muito tempo. Quando a tarde começava a findar, reuni todas as coisas e fui embora.

No caminho para casa recebi uma ligação de minha mãe.

— Oi, mãe. Já estou voltando.

— Querida, será que pode passar no restaurante do Juno e pegar um pedido que fiz? Ah, compre também duas garrafas de vinho e uma de espumante.

— Teremos visitas para jantar?

— Sim. Então não demore.

— Tudo bem.

O restaurante italiano já era nosso velho conhecido. Juno, o dono do lugar, era amigo de infância dos meus pais, então quando eles voltaram para cidade, logo se tornaram frequentadores assíduos do local.

Senti o cheiro de boa comida e sorri quando Juno veio me abraçar.

— Buona notte, bella!

— Buana notte, Juno!

O estranho da bibliotecaOnde histórias criam vida. Descubra agora