Capítulo 12

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Melinda

A meu pedido, Maya pegou algumas mudas de roupas e alguns produtos de higiene pessoal, que estava na mansão, enfiou numa mala de pequeno porte e me trouxe ao meu antigo apartamento. Resolvi ficar aqui, já que não pretendia dividir o mesmo teto que Henrique e ao menos, aqui eu ficaria mais próximo ao hospital, em que meu filho seguia em coma.
Foi um verdadeiro sacrifício, tê-lo deixado lá sozinho e ter vindo para casa, tomar um banho e trocar a roupa, que trazia em si, algumas manchas do sangue de Pedro.
- Como ele está mãe? - Maya perguntava sentada na cama. Ela estava com o semblante entristecido e sinceramente preocupava-se com o irmão.
- Ainda não despertou! - Disse me sentando em frente ao espelho, vestida num roupão e tendo uma toalha na cabeça. Suspirei pesadamente - Mas tenho certeza que logo ele sairá dessa! Pedro é bem forte, ele precisa acordar!
Puxei a toalha, fazendo meu cabelos molhados caírem pelas costas e só percebi que chorava, quando minha filha se aproximou e enxugou uma lágrima que escorria por meu rosto.
- Ele vai ficar bem! - Ela me disse sorrindo e se colocou detrás de mim, pegando uma escova e penteando meus cabelos.
A olhei pelo espelho e uma pergunta me veio até a ponta da língua, porém a engoli em seco, afinal não pressionaria Maya, de forma alguma. Entretanto, nossa ligação era forte demais, e mesmo que não intencionalmente,  nos comunicávamos pelo olhar.
- Eu permanecerei morando com o papai - Ela respondeu a minha pergunta não feita em alta voz - Não quero que ele fique sozinho!
Abri a boca para começar um protesto, mas ela me interrompeu.
- Eu sei a gravidade do que ele fez mãe... Mas mesmo assim ele não deixa de ser meu pai! - Maya tinha uma ponta de razão, quase no mesmo nível em que estava errada, mas não me opus a sua decisão, era livre para fazê-lo.
Apenas assenti com a cabeça, demonstrando respeitar sua escolha e a mesma caminhou até a cama e pegando seu celular em mãos, digitando uma mensagem rápida e me lançando um olhar culpado, porém logo se aproximou e me deu um beijo no alto da cabeça.
- Tenho que resolver umas coisas, a senhora ficará bem?? - Maya pergunta já se afastando.
- Sim! - Garanti me colocando de pé e cruzando os braços sob o peito, ficando de frente a ela - Vou ficar bem!
Vi minha filha, pegar sua bolsa, me jogar um beijo no ar, antes de sair pela porta e me deixar sozinha com meus pensamentos, que estavam presos a feição culpada que Maya me olhou, pode ser coisa da minha cabeça, mas a intuição de mãe estava falando mais alto, dizendo-me que algo estava errado, que Maya me escondia algo.
Fui tirada de meus pensamentos, com o som do meu celular tocando. Andei até a cabeceira da cama e ao pegar o aparelho na mão, vi o nome de Maria Clara na tela. Ela havia se tornado uma ótima amiga e ela era a dona dos melhores conselhos, sempre sabia a coisa certa a dizer, e sempre parecia saber quando eu tinha a necessidade de desabafar.
- Oi, minha amiga! - Atendi a cumprimentando, já segurando as lágrimas que se acumulavam em meus olhos e a voz embargada pelo choro contido.
- Oi, onde você está? - Sua voz doce e alegre era contagiante - Estou na porta da mansão e sua mãe disse que você se mudou! Como assim??
- Sim! - Respondi esfregando as têmporas e me sentando na beirada da cama - É uma história longa... Que tal almoçarmos juntas? Assim te conto tudo! - Comecei a estralar os dedos de uma mão, indicando meu estado de nervosismo.
- Agora estou preocupada! - Maria Clara falou num tom mais sério - Onde quer me encontrar?
- Você pode vir aqui para o meu apartamento, e comemos aqui se não se importa!? - Disse, torcendo para que ela concordasse, já que eu não estava com um pingo de coragem de sair de casa e gostaria de estar perto do hospital, caso recebesse alguma ligação com notícias do meu filho.
- Me fala o endereço e eu corro o mais rápido possível até você amiga! - Ouvi Maria Clara pegar um papel e lhe informei meu novo endereço, depois nos despedimos e encerramos a ligação.
Resolvo interfonar para o porteiro e lhe informar que minha amiga logo chegará, e está permitido a entrada dela.
Após isso, me troco colocando um conjunto de moletom, bem confortável e vou para a cozinha preparar o almoço para esperar Maria Clara.
Ligo o som para tentar espairecer a mente enquanto cozinho, porém está tocando uma música lenta e muito bonita e acaba fazendo o contrário do que esperava, me trazendo diversas memórias que me fizeram cair no choro.

Pedro

Abro meus olhos, já sabendo que eles não veriam nada, por eu continuar imerso numa completa escuridão. Porém dessa vez foi diferente. Havia um brilho guiando-me por aquelas trevas que eu estava preso, há vai saber quanto tempo. Esfreguei meus olhos, pensando estar imaginando coisas, mas aquele brilho continuava ali, me chamando, convidando a mim a seguí-lo e assim o fiz. Passo a passo fui caminhando e percebi que o brilho aumentava de intensidade, até que deparei-me diante de algo que me deixou eufórico.

 Passo a passo fui caminhando e percebi que o brilho aumentava de intensidade, até que deparei-me diante de algo que me deixou eufórico

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Havia uma mulher, meio de lado, observando a chuva por uma ampla porta aberta. O cabelo cobria seu rosto e eu não conseguia ver de quem se tratava, mais o calor em meu coração, fez me saber que ela se tratava da mulher dos meus sonhos, aquela era a mulher que diversas vezes vi em diferentes sonhos, porém eu jamais havia conseguido visualizar seu rosto, o que eu ansiava dia e noite.
Me aproximei mais um passo e ao inspirar profundamente, sinto seu cheiro doce, com um toque de canela. Fecho os olhos e me deixo inebriar em seu perfume, quando volto a abrí-la, noto que ela desapareceu levando consigo aquele brilho que iluminava meu mundo obscuro, girei em torno de mim mesmo tentando encontrá-la. Eu sentia que ela estava por perto, porém talvez não nesse mundo que eu estava preso.
O calor que queimava meu coração, com a ansiedade em conhecer aquela mulher, agora ardia em uma de minhas mãos e eu não conseguia entender o que estava acontecendo. Eu sentia o calor corporal dela, mais não sentia o seu toque e muito menos seu cheiro inebriante.
Cai de joelhos no chão e implorei que pudesse estar perto dela novamente, pudesse ter a chance de vê-la, de tocá-la, de conhecê-la. Ela era a luz, a própria esperança em que eu me agarrava com todas as minhas forças.

Melinda

Após termos almoçado, fui para a sala acompanhada de Maria Clara e Mirela, sua filha que alguns anos atrás era apaixonada pelo meu filho, Pedro e acredito que tiveram até um pequeno namoro, mas que logo encontrou o fim, devido a personalidade nada correta de meu filho.
Nos sentamos no amplo sofá, e eu respirei fundo, olhando o celular, esperando que tocasse me dando uma boa notícia.
- Sabe o que não entendi? - Maria Clara indagou me olhando - O que levou Henrique a agir dessa forma? Ele sempre foi um ótimo pai e um ótimo marido! Tô chocada!
- Imagine eu! - Respondi prontamente - Talvez, Henrique nunca foi o que eu pensasse que era...
- Não diga isso! - Maria Clara me interrompeu, se colocando de pé e vindo se sentar mais próximo a mim - De maneira alguma te deixarei acreditar na monstruosidade que não existe em Henrique, ele pode ser falho, mas tenho certeza que ele agiu sem pensar e está muito arrependido!
A olhei nos olhos e entendi o que havia acontecido.
- Você já sabia de tudo isso né? - Perguntei já sabendo a resposta e tive a certeza quando vi Maria Clara, ficar sem resposta - Henrique esteve na sua casa?? O que ele falou?? - Estava começando a me alterar e não aguentava ficar sentada, portanto me coloquei de pé e fiquei andando de um lado para o outro.
- Sim, ele esteve em casa - Ouvi minha amiga confessar - Ele foi se aconselhar com Heitor e contou tudo que havia feito e o quanto estava arrependido, disse que quando deu por si já estava em cima de Pedro e ele estava coberto de sangue.
- Aquele... Aquele... - Não encontrava sequer palavras para descrever o ódio que eu estava de Henrique naquele instante, só vi tudo girar e depois escurecer e então o silêncio tomou conta de tudo e eu apaguei.

Um Anoitecer (Livro lll - TRILOGIA FASES DO DIA)Onde histórias criam vida. Descubra agora