Capítulo 13

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Pedro

Abri os olhos, mais uma vez preso a essa escuridão. Considerei que com o passar do tempo, minha visão se adaptaria a falta de luz, mas nunca estive tão errado em toda minha vida, eu continuava cego com o olhar perfeito.
De repente, eu não estava mais sozinho. Era quase palpável, a outra presença junto a minha ali.
Um cheiro adentrou minhas narinas e foi como um bálsamo a minha alma inquietante, que no mesmo momento se acalmou e pareceu-me que aquele lugar havia perdido a gravidade e eu flutuava. Aquele perfume doce com um toque de canela, era ela. A mulher dos meus sonhos, estava comigo outra vez.
Não sabia dizer se pelo motivo de estar ruborizado, com sua companhia ou qualquer que fosse a razão, mais senti um lado do meu rosto ficar quente. Era bom, era muito bom na verdade, parecia quase um carinho, macio e aveludado.
Porém tão rápido quanto a presença dela surgiu, assim tão depressa sumiu e foi substituída por um frio que me percorria a espinha.
- Acho que está na hora de termos uma conversinha! - Me virei e o que meus olhos viram, causou uma confusão em minha mente, enquanto meu queixo caía incrédulo.
A cena ao meu redor se clareou, somente o necessário para que eu visse o rosto a minha frente. Após retirar uma capa preta, a mesma que eu havia visto alguns dias atrás, o homem diante de mim, me fez ter a certeza de que eu estava oficialmente maluco.

Esfreguei ambos os olhos, pensando na possibilidade daquilo ser fantasia da minha mente

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Esfreguei ambos os olhos, pensando na possibilidade daquilo ser fantasia da minha mente. Entretanto, ao voltar a olhar, ele permanecia parado diante de mim e tinha um sorriso irônico nos lábios.
- Eu sei que deve estar pensando que ficou louco, posso te adiantar... - O segundo eu dizia emburrado, demonstrando não ter muita paciência -... Você não está louco! Eu sou você! Ou melhor, você sou eu!
- O...que...? - Eu ainda não estava conseguindo compreender nada daquilo.
- Digamos que sou a melhor versão de Pedro Camargo Bragança! - Vendo que eu mantinha minha cara de interrogação, o segundo eu, bufou e revirou os olhos - Venha, vou te mostrar alguns dos meus feitos! - E saiu andando, parando apenas para me olhar feio e dizer - Desaprendeu a andar?
Receando ser fisicamente ferido, caso não o seguisse, resolvi ir atrás dele notando que pouco a pouco o lugar foi ganhando luz e formas. Formas essas que eu conhecia bem, aquele era meu apartamento.
- Por aqui! - O segundo eu disse apontando para a sala, onde nos sentamos no amplo sofa, que havia custado a demissão de Elizabeth, a senhora que cuidava dos serviços de casa para mim. Era a empregada ou o sofá novo, já sabem qual foi minha escolha - Vamos ver o que fizemos! - Ele falou pegando o controle e ligando a TV.
- Fizemos?? - Repeti sua última palavra, o olhando confuso.
- Sim, eu mando, você obedece! Fizemos! - Ele tinha um ar arrogante e presunçoso, no fundo eu sabia que devia parecer assim as pessoas.
Voltei minha atenção a TV e lá estava eu, com meus 7 anos de idade, diante de todos meus amigos e Maria parada a minha frente, estendendo a mim um desenho que ela havia feito. Podia ouvir claramente, as piadinhas feito num sussurro não tão baixo por meus amigos ao nosso redor. Eu estava virando motivo de chacota. Então rasguei o desenho de Maria e a empurrei, lhe dando as costas e rindo.
- E foi assim que eu surgi! Pode me agradecer depois! - O outro eu, estava com os pés cruzados sob a mesinha de centro e mantinha uma das mãos detrás da cabeça.
Olhei novamente para a tela, dessa vez dando mais atenção a Maria, que secava as lágrimas e sacudia a poeira de seu uniforme escolar, então ela levou uma das mãos ao pescoço e puxou de dentro da blusa, um pingente de sereia que eu havia dado a ela. Aquilo me fez ver o quanto eu havia sido idiota com uma garotinha que só enxergava qualidades em mim, enquanto eu preferia andar com garotos que sempre me zoavam, porém eu aceitava, apenas para ser popular.
- PRÓXIMO! - Ouvi o segundo eu gritar e apertar o controle remoto. Dessa vez mudando para o baile de formatura, onde eu saí com Caroline e mais 4 amigos. Todos estávamos bêbados e decidimos deixar o salão de festa, antes do fim e fomos de carro até uma praia deserta. Eu e os rapazes queríamos dar um mergulho. E rapidamente estávamos só de cueca, nos jogando no mar. Caroline por sua vez, ficou na beirada com seu longo vestido cor de rosa, molhando apenas os pés. Eu não queria nada com ela, mais fui desafiado a conseguir transar com ela ali mesmo e pra mim não há desafio que eu não aceite. Deixei o mar e fui até ela, logo a puxando pela cintura e atacando seus lábios num beijo feroz, ela tentava retribuir mas recuava ao mesmo tempo, já que ela entendeu minha intenção. Não deixei ela escapar e joguei todo meu charme em cima dela, conseguindo levá-la até uma caverna que tinha ali próximo e transar com ela, concluindo assim meu desafio. Então, me vesti e a deixei ali dormindo, e fui embora. O que eu nunca soube, só descobri agora, é que meus amigos a estupraram, após eu ter saído.
- Não acredito que perdemos essa suruba! - O segundo eu, ajeitava sua calça, onde sua ereção pulsava. Enquanto eu sentia cada vez, mais ódio de mim mesmo.
Após essa cena, vimos diversas outras, cada uma do seu jeito, porém todas para alimentar meu ego e aumentar minha pose de garanhão.
"Jamais maltrate uma mulher! Seja física ou mentalmente!" , o ensinamento da minha mãe ecoou por toda sala, já que aqui os pensamentos não são particulares.
- É muito bom que você nunca tenha dado ouvidos a ela! - O segundo eu riu debochado, e se fosse outros tempos eu teria rido com ele e feito talvez até uma piada sobre homens que seguem conselhos das mães, mas hoje eu estava de saco cheio. De saco cheio de ser tão fodedor de mulheres, de saco cheio de ser um fracasso como filho, de saco cheio de fazer minha mãe sofrer. Por isso, me coloquei de pé e saí andando, mas é claro que isso não passaria despercebido pelo meu segundo eu, que também se levantou e pigarreou, me fazendo parar e me virar, para encará-lo.
- Onde pensa que vai parceiro, a sessão mal começou! - E com um sorriso irônico, ele me deu mais força ainda para fazer o que eu estava louco para fazer.
Me aproximei dele em poucos passos e o encarei, logo depois o acertei no maxilar, num soco bem dado. Fazendo com que o mesmo caísse ao chão boquiaberto com minha atitude.
Andei depressa até a porta da frente, já que a escuridão voltava a tomar conta de tudo. Logo estava de volta aquela floresta fechada, e assim que parei para tomar ar, a escuridão já havia retornado, novamente me lançando na solidão obscura.
E quando eu achei que teria que me acostumar a estar aqui sozinho, aquele perfume voltou e uma de minhas mãos ficou quente.
- Pedro.... - Ouvi uma voz doce, perfeita como de um anjo me chamar e eu olhei ao redor, querendo encontrá-la.
Foi quando aquele brilho que ela trazia consigo, me guiou até mais fundo na floresta e eu pude ver ela correndo.

 Foi quando aquele brilho que ela trazia consigo, me guiou até mais fundo na floresta e eu pude ver ela correndo

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Não me contive e a segui, ansiando por poder tê-la envolvida em meus braços, poder ver seu rosto.
Quanto mais eu corria, mais claro ficava. A luz forte batia em meu rosto, a ponto de me fazer tampar os olhos com o braço, até que cai.
Lentamente fui abrindo os olhos e percebi, que estava deitado numa maca de hospital. Pisquei algumas vezes para adaptar meus olhos a claridade.
Senti um calor em minha mão e baixei meus olhos até a mesma, que estava sendo segurada por uma mão delicada.
- Pedro? - A voz do meu sonho me chamou e quando eu ergui a cabeça tive a melhor visão que poderia ter. Ela era tão bela que eu me peguei implorando para que fosse real, e não só um sonho.

Um Anoitecer (Livro lll - TRILOGIA FASES DO DIA)Onde histórias criam vida. Descubra agora