Joana
Levantei cedo, antes mesmo que o sol começasse a nos iluminar. Hoje era dia de visita no hospital em que minha mãe Diana, trabalhava. Já fazia algumas semanas que eu havia começado esse projeto, de passar o dia no hospital, orando e visitando os enfermos e os próprios médicos, me afirmaram que surtiu bons efeitos no quadro clínico dos pacientes. O que eles chamam de sorte, eu chamo de Deus. A fé no Senhor, sempre nos fará alcançar o inalcansável e conquistar o impossível.
Fui até a cozinha e comecei a preparar o café. Pude ouvir meu pai tossindo no quarto e meu coração se apertou, afinal tem alguns dias que essa tosse vem persistindo, porém ele é teimoso como uma porta e se recusa a ir ao médico. Não deixa nem mesmo, Diana examiná-lo. Fico muito preocupada, tendo em mente que ele já não é mais um homem jovem. Ao menos, ele gosta quando leio algum versículo da Bíblia para ele e depois oramos juntos. Meu pai é falho como todo e qualquer ser humano, porém ele sempre foi cristão, e mesmo tendo seus momentos de fraqueza e tendo se afastado um pouco de Deus, nunca O deixou totalmente. Foi o meu pai que me levou a conhecer Jesus e eu sou eternamente grata a ele por isso.
- Caiu da cama flor do meu jardim? - Era dessa forma que meu pai me chamava. Me virei com um belo sorriso no rosto e o vi parado no batente da porta da cozinha.
- Bom dia pai! - Disse indo até ele e lhe dando um beijo doce no rosto - Hoje é terça! Dia de visita lembra??
- Ah sim! - Ele respondeu, indo até o armário e pegando a toalha para por na mesa - Sua mãe....? - Meu pai perguntou sem me olhar. Faziam dias em que notei que ele e Diana estavam estranhos, mal se falavam e eram raros os momentos que tinham juntos.
- Já foi para o trabalho! - Respondi terminando de coar o café.
- Por que não a esperou para irem juntas? - Sua voz saiu um tanto acusatória, e eu estranhei ainda mais. Afinal ele sempre tinha elogios em relação a esposa, mas ultimamente, se de tocar em seu nome, era motivo de lhe causar mal humor.
- Ela ia esperar! Mas foi chamada com urgência para uma cirurgia! - Peguei o bilhete que ela havia me deixado e o entreguei a meu pai, que leu em silêncio e o jogou de lado, terminando de arrumar a mesa pensativo.
- Pai, tem algo acontecendo? - Coloquei o café sobre a mesa e me sentei, puxando uma cadeira para perto e dando leves tapinhas, indicando que ele devia se sentar próximo a mim.
Meu pai respirou fundo e me olhou pronto a negar, porém suspirou e se sentou. Ele permaneceu alguns segundos em silêncio e eu o deixei ter o seu tempo.
Por fim, ele se aproximou ainda mais e pegou em minha mão, levando seus olhos aos meus.
- Eu sinto tanto a falta dela! - Ele confessou entristecido - Desde que Diana virou médica chefe do hospital, não temos mais tempo para nós! Aquela porcaria daquele bip, não para um segundo... - Mesmo que ele tivesse tentado evitar, uma lágrima desceu por seu rosto e eu a sequei com carinho e muita compaixão. Me doía demais vê-lo dessa forma - Quando ela está no trabalho, está 100% focada nele e quando está em casa.... Só pensa no trabalho! Mais onde eu fico nessa história??
E nesse momento meu pai me puxou para um abraço, daqueles bem apertados e eu pude perceber o quanto ele necessitava de mim agora. Portanto o abracei com toda minha força e todo meu coração, deixei fluir de mim todo amor e conforto que ele precisava.
- Pai... - Comecei a dizer e ele se afastou para me olhar e vi que seus olhos estavam vermelhos. Era incrível a capacidade que ele tinha de se acabar de chorar sem que ninguém notasse - Esse amor que há entre vocês dois, ainda existe, e está mais vivo do que nunca! E quer saber? Vocês são o casal mais lindo que já vi em toda minha vida... Não digo isso por serem meus pais, mais porque desde pequena os vi felizes na presença um do outro! - Tendo dito isso, acariciei seu rosto e ele deu um breve sorriso, com toda certeza resultado de uma boa lembrança e isso me fez ter uma boa idéia - Que tal se vocês tivessem hoje a casa só para vocês? Assim, podem sentar, conversar e viver bons momentos a dois! Recriar novas lembranças!
Vi em seu rosto um brilho se acender, mas logo se apagar e ele negar com a cabeça.
- Não! - Respondeu firme - E onde você vai ficar??
- Provavelmente passarei o dia todo no hospital e talvez eu durma lá! Os médicos me conhecem e tenho acesso livre a sala particular deles! - Sorri toda cheia de mim por esse tratamento vip que tenho por ser enteada da médica chefe. E também os médicos lá são todos uns amores, rapidamente fiz amizade com eles.
- Não sei não, flor do meu jardim... Hospital não é um lugar confortável e eu nem sei o que fazer para agradar sua mãe! - Meu pai se pôs de pé e ficou andando de um lado para o outro coçando a cabeça.
- Pai! - Me levantei e fui até ele o parando - Fica calmo! Primeiro: eu nunca liguei para conforto e o senhor sabe disso - Falei e o vi ter que concordar - Segundo: agradar a mamãe é ser você mesmo! E não precisa se preocupar com o que vão comer, tá tudo pronto na geladeira!
Novamente o vi relutar com essa idéia, mas logo seu semblante suavizou e ele me puxou para um abraço beijando o alto da minha cabeça.
- O que eu faria sem você? - Ele perguntou e eu me aninhei dentro do seu abraço.
Ficamos assim por longos minutos, até que senti o sol entrar pela janela da cozinha e percebi o quanto de tempo já havia se passado.
- Uau, o tempo voa! Tenho que ir pai! - Peguei minha bolsa que já estava arrumada sob a bancada da cozinha, uma maçã e dei um beijo na bochecha de meu pai.
- Quer uma carona? - Ele perguntou preocupado demais, como sempre.
- Não! Tudo bem! - O garanti - Eu vou de táxi! Fique e ajeite tudo para sua noite romântica e não se apavore, vai dar tudo certo! - Lhe joguei um beijo no ar, que ele agarrou e colocou no coração e então eu saí pela porta da frente.
Coloquei meus fones de ouvido e logo Fernanda Brum começou a cantar com toda sua voz potente. Andei um pouco até o centro da cidade e então pedi um táxi que me levou até a porta do hospital.
Após, adentrar o mesmo, já fui recepcionada pelo doutor Marcos, que me estendeu o braço para que eu pegasse e me deu um copo de chocolate quente e uma barrinha de cereal.
- Olha só quem veio nos ver! - Ele anunciou quando chegamos na sala que todos os médicos e enfermeiros tomavam café. Na mesma hora todos vieram, me abraçar e me cumprimentar.
- É muito bom ver todos vocês! - Disse sorridente - E minha mãe?
- Ainda na cirurgia! - A doutora Luciana me informou sobre o ocorrido. Um rapaz havia sofrido um acidente de moto e a vida dele estava nas mãos habilidosas de Diana. Em minha mente, fiz uma oração a Deus pedindo pela vida do rapaz que provavelmente ainda tinha muito que viver e tinha uma família para voltar.
- Bom, se me dão licença vou começar a visita! Vejo vocês depois - E então deixei a sala e já comecei meu trabalho, pela área dos recém nascidos e por mim ficaria ali o dia todo. Eram tão pequenininhos e tão lindos.
Depois, fui para a ala infantil, onde tive que contar 3 historinhas e brincar de monta monta com as diversas crianças que haviam ali. Umas em tratamento intensivo, outras recém operadas, mas todas com aquele brilho inocente e aquela felicidade contagiosa.
Só depois de prometer voltar antes de ir embora, consegui sair da ala infantil. Eu amo aquelas crianças, tinha pra mm mesma que eram meus filhos emprestados e sempre me doía ter que dizer tchau.
Após fechar a porta, eu ia para a parte das gestantes, mas fui conduzida sem perceber a UTI. Particularmente ao corredor onde haviam os pacientes em coma.
Conforme passava pelas portas dos quartos, podia ver os rostos das pessoas. Haviam homens, mulheres, idosos. Todos ligados à diversos aparelhos e conectados à muitos tubos, era de verdade algo muito triste de se ver. Quantos sonhos, quantos planos, estavam ali presos? Estavam sendo impedidos de serem conquistados?
Caminhei até o final do corredor e me encontrei diante da última porta, e mesmo sem olhar seu interior, senti dentro de mim, uma necessidade sufocante de entrar. Meu coração palpitava acelerado, e eu queria, mesmo que se tratasse de um quarto vazio, eu precisava orar naquele lugar.
Lentamente estendi a mão a maçaneta e a girei, abrindo a porta, notando a ausência do barulho estrondoso que eu estava acostumada as portas da minha casa.
Você está num hospital particular sua lélé! Meu subconsciente me alertou e eu ri de mim mesma, por esperar rangidos de porta, num lugar tão luxuoso quanto esse.
Adentrei o quarto e ao ver o homem deitado sob a cama, meu coração pareceu parar por breves segundos e eu prendi a respiração. Ele era muito bonito e diferente dos outros pacientes em coma, ele parecia estar apenas coxilando, de maneira que parecia poder despertar com o mínimo barulho. Percorri todo seu rosto com os olhos, encantada com a sua beleza, porém tinha algo familiar naquele rosto, algo que eu reconhecia.
Fechei a porta detrás de mim e me aproximei, e ao ler o nome do paciente na ficha perto da cama, levei ambas as mãos a boca. Não conseguia acreditar que era ele. Não conseguia acreditar que nos encontramos depois de tanto tempo. É claro que eu sabia que um dia nos veríamos de novo, mais jamais pensei que fosse nessas circunstâncias.
Lembro-me perfeitamente de uma tarde que tia Melinda foi em casa nos visitar com o tio Henrique, e eu me peguei ansiosa por ver Pedro, mas ele não fora. Éramos melhores amigos quando crianças, mas a maior idade chegou e cada um seguiu seu próprio caminho, foi viver sua própria vida, se esquecendo um do outro e agora aqui estamos um diante do outro.
Me aproximei mais um pouco e ergui a mão, acariciando seu rosto e uma lágrima escapou de meus olhos. Lágrima essa que sequei rapidamente e imediatamente comecei uma oração sincera a Deus, pedindo por ele, não sabia o que o tinha levado até ali, no estado de coma, mas confiava num Deus que levanta mortos, e que moveria céus e terra pela saúde de Pedro.
Quando a oração acabou, percebi que estava segurando sua mão e tentei soltá-la, porém não quis, portanto, me mantive daquele jeito. Novamente o olhei e muitas lembranças do passado, me vieram a mente.
- Pedro... - Sem intenção seu nome saiu de meus labios, como uma súplica, para que ele acordasse. E fiquei o olhando
E foi nesse momento que vi o milagre acontecer diante dos meus olhos, vi Deus responder minha oração e não conseguia conter a gratidão dentro de mim.
Pouco a pouco, os olhos de Pedro foram se abrindo e ele começou a se dar contade que se encontrava no hospital, até que seus olhos baixaram até nossas mãos unidas e antes que eu pensasse em soltá-lo seu olhar me encontrou e ele paralisou. Enquanto por minha vez, só consegui sorrir para ele.
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Um Anoitecer (Livro lll - TRILOGIA FASES DO DIA)
RomanceAgora Pedro, não era mais uma criança que vivia debaixo das asas protetoras dos pais. Ele havia completado 24 anos de idade e bad boy era quase seu sobrenome. Universitário e um verdadeiro conquistador, Pedro tem mais mulheres em sua cama do que cue...