Eduardo
Estava terminando de preparar o almoço, o que não era tão divertido quando Joana não estava aqui, ela fazia qualquer coisa se tornar incrível, acho que por ela ser exatamente assim.
Desliguei o fogo e nesse momento ouvi um carro parar do lado de fora, mas permaneceu ligado. Caminhei até a janela da frente e observei, notando ser um táxi, cheguei a imaginar que Joana estivesse de volta, porém me assustei quando percebi uma criança descer do mesmo e fechar a porta, vindo em direção a minha varanda. Vi o táxi dar meia volta e partir, demonstrando que não havia ninguém acompanhando aquela garotinha.
Me afastei da janela de modo que ela nem me notou, esperei alguns segundos e ouvi a campainha soar, e de novo e de novo.
Respirei fundo e caminhei a porta, girando a maçaneta e dando de cara com uma menininha que não poderia ter mais do que 10 anos.
- Hã... Pois não? - Falei a olhando e vendo que ela tinha uma feição furiosa, talvez seja uma criança mimada que não ganhou o que queria. Mas isso não explica o que ela faz parada na minha porta.
- Sr. Vidal? - Ela perguntou e eu assenti com a cabeça positivamente, completamente pasmo que uma criança conseguia ser tão formal e se comportar como uma adulta - Precisamos conversar, será que eu posso entrar?
- Onde está a sua mãe? - Cruzei os braços sob o peito, olhando para a fora a procura de mais alguém que eu sabia que não estaria ali.
- É exatamente sobre ela que eu vim conversar! - Ela imitou minha atitude de cruzar os braços e eu garanto que a vi bufar impaciente.
Decidi que era melhor deixar ela entrar, assim estaria sob meu olhar enquanto eu faria uma rápida ligação a uma assistente social.
A garotinha entrou e nossa então conversa seria ali na sala mesmo, mas a vi parar e fungar profundamente, e devagar, passo a passo, ela foi caminhando até a cozinha e parou na porta olhando as panelas em cima do fogão. Me aproximei e a olhei com carinho.
- Tá com fome? - Perguntei já podendo ouvir seu estômago roncando.
- O que? - Ela balançou a cabeça e me olhou - Não, não... O que tenho a lhe dizer é mais importante!
- Pequena.. - Comecei mas ela me interrompeu.
- Evellyne! - Falou me encarando feio.
- O que disse? - Perguntei.
- Meu nome é Evellyne! - Ela respondeu.
- Certo, Evellyne - Prossegui dessa vez a chamando pelo nome - Não importa o que seja o assunto, teremos tempo de falar sobre ele depois.. - Percebi que ela ainda me olhava feio, sem se render, mesmo que esteja obviamente claro o quanto estava com fome, ela permanecia irredutível - Olha vamos fazer um acordo!
- Que tipo de acordo? - O tom de desconfiança era notório em sua voz.
- Você dá uma pausa nessa conversa importante, para comer - Eu tinha sua total atenção. Ponto pra mim! - E depois, eu serei todo ouvidos ao que veio me contar!
Evellyne pareceu pensar um pouco e depois me olhou com ar de negociadora profissional. Essa menina era um barato.
- Quero acrescentar algo a esse acordo! - Ela pediu e eu estava pronto a concordar com o que quer que fosse, até que ela revelou o que queria - Você não vai ligar para nenhuma autoridade!
Ela era mesmo muito esperta. Coloquei a mão no queixo demonstrando estar pensando no que ela pediu. Afinal depois que tudo acabasse o que eu faria com ela? Obviamente não poderia ficar com ela, os pais poderiam estar preocupados com ela e a sua procura, e se a encontrassem aqui, eu poderia até ser preso por sequestro. Mas parece que eu não teria escolha a não ser aceitar.
- Certo! - Estendi a mão para ela e a mesma a apertou brevemente - Mas vai ter que me contar de onde você veio! - Falei já indo até o armário e pegando um prato para servir o almoço para Evellyne, que andou até a pia lavando ambas as mãos e depois, tomando um dos lugares a mesa.
- Não importa de onde eu vim - Ela falou num tom firme - Só sei que para lá não volto!
- Mas seus pais devem estar preocupados com você - Coloquei o prato a sua frente e caminhei até a geladeira para pegar o suco de laranja, que servi num copo para ela que já comia com gosto.
- Eu duvido muito! - Evellyne respondeu, tomando um longo gole do suco.
- Que tipo de pais não se preocupariam com uma criança linda como você? - Estava tentando entender o que houve para que ela desacreditasse no amor deles.
- Os meus! - Ela continuou comendo - Eles nunca me assumiram publicamente! Tentando esconder a verdadeira paternidade, me internaram num hospital e me mantinham lá como se eu tivesse algum tipo de doença contagiosa! - Enquanto ela falava, me recordei de uma conversa que tive com Joana, no qual ela me contava sobre uma menininha da ala infantil, que se mantinha distante e que carregava muito ódio, mesmo sendo tão nova para conhecer tal sentimento. E que seu nome era... Evellyne. Foi então que a ficha caiu e percebi que essa era a garotinha do hospital.
- Hã... Por acaso esse hospital se chama São Domingos? - Perguntei e a vi concordar com a cabeça já terminando de comer a comida em seu prato, e vendo que seu rosto já estava até mais corado, fiquei feliz sabendo o quanto um prato de comida pode ajudar - Bom, minha esposa é médica chefe desse hospital! Ela deve saber quem são seus pais, afinal eles tiveram de ir até lá para realizar a sua internação!
Evellyne bebeu o último gole do suco e respirou fundo, depois ergueu os olhos para mim quase com pena, e eu a olhava sem entender nada.
- Sim, a Diana conhece meus pais! - Ela começou mas a ausência de sorriso em seu rosto me fez pensar que isso não significava uma boa notícia, portanto permaneci quieto, só ouvindo - No começo eles me visitavam durante a noite e por um momento não me importei deles não gritarem para o mundo que eu era filha deles, afinal o carinho e o amor dos meus pais eu tinha... Mas aos poucos as visitas foram diminuindo, até que cessaram... - Ela fez uma pausa e eu imaginei o quanto aquilo estava sendo difícil para ela, então respeitei seu tempo - Depois, a sua filha começou a fazer as visitas para as crianças e foi então que começou a pesquisar sobre mim, sobre a minha história... Isso deixou meus pais bravos e com medo dela descobrir a verdade! Mais... Mais isso não justifica o que eles fizeram... - Lágrimas começaram a se acumular em seus pequenos olhos, e suas respiração já estava mais forte, então me aproximei mais dela e pousei a mão em seu ombro.
- O que eles fizeram? - Perguntei.
- Contrataram um casal para se passarem por meus pais e fazerem sua filha parar de questionar! - Suas mãozinhas estavam fechadas em punho.
- E por que seus pais não querem que descubram que você é filha deles? - Era um absurdo que fizessem uma criança passar por momentos frustrantes assim, sendo tão nova.
- Porque minha mãe é casada e não quer que o marido descubra sobre mim e meu pai! - Ela falou e me olhou nos olhos, como quem pedia desculpa - Eu jamais faria algo para prejudicar o casamento da minha mãe, mas ela não me deixou escolha quando fez o que fez! Eu não vou perdoar ela nunca!!
Ainda não compreendia onde eu entrava nessa história, ou o que Evellyne esperava que eu fizesse. Procurei palavras de conforto para lhe dizer, mas antes que eu abrisse a boca, ela mexeu no bolso de seu casaco e me estendeu um papel dobrado.
- O que é isso? - Perguntei o pegando em mãos e abrindo.
- Minha certidão de nascimento! - Ela respondeu baixinho.
Continuei desdobrando o papel, até que ele se abriu e comecei a ler, vendo que se tratava mesmo de uma certidão de nascimento. Continha o nome da garotinha, data e hora de nascimento, mas quando cheguei no nome dos pais, meu chão cedeu. Prendi o ar, eu não podia acreditar no que estava diante dos meus olhos.
- Diana Valença Vidal e Leonardo Monteiro Salles! - Li os nomes dos pais, vendo espantado que o nome da minha esposa estava ali como mãe - Pelo...pelo que diz aqui você tem...
- Eu tenho 8! - Ela respondeu com sinceridade.
- 8 anos....? - Me levantei da mesa e andei de um lado para o outro, voltando no tempo e relembrando - Claro! A tal viagem de negócios, Diana ficou 1 ano fora! Como eu fui burro! - Comecei a bater na testa. Percebi que aquilo estava assustando Evellyne então tratei de me acalmar e me aproximei dela - Leonardo... Esse nome me é familiar! - Falei a olhando nos olhos, querendo que ela me dê uma luz que me faça lembrar de onde já ouvi esse nome.
- Parece que minha mãe já foi casada com ele no passado! - Ela respondeu.
- Então ela voltou com aquele babaca do ex? - Me virei e com lágrimas nos olhos, soquei a parede. Depois andei até o telefone sendo seguido por Evellyne. Disquei os números com força. Diana tinha muito que me explicar.
Enquanto chamava meu coração endurecia como pedra e meu sangue corria fervente nas veias, eu daria um basta nessa palhaçada e era hoje!
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Um Anoitecer (Livro lll - TRILOGIA FASES DO DIA)
RomantiekAgora Pedro, não era mais uma criança que vivia debaixo das asas protetoras dos pais. Ele havia completado 24 anos de idade e bad boy era quase seu sobrenome. Universitário e um verdadeiro conquistador, Pedro tem mais mulheres em sua cama do que cue...