Capítulo 49

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Pedro

Eu estava no fim da história de fantoches, quando ela apareceu e no momento que seus olhos me viram, Joana paralisou e eu posso jurar que a vi corar levemente. Podia me atrever a dizer que quase consegui ouvir as batidas de seu coração e confesso, o meu batia tão acelerado quanto.
Ela estava ainda mais linda do que a última vez que nos vimos.
- Oi! - Disse sem som algum e sorri.
- Oi! - Ela respondeu, fechando a porta e se sentando junto com as demais crianças para ouvir minha história, o que eu agradecia mentalmente já estar no fim, seria um pouco embaraçoso eu prosseguir inventando sobre a princesa em perigo que foi salva pelo príncipe encantado, tendo ela como ouvinte.
- E foi assim que eles viveram felizes para sempre! - Dei fim ao teatrinho e todas as crianças bateram palmas contentes.
Joana também me aplaudia empolgada e tinha um sorriso amplo nos lábios.
Quando pensei me levantar e ir até ela, Evellyne veio até mim se sentando no meu colo e encostando a cabeça no meu ombro. Estranhei, já que a mesma havia se mantido afastada até o momento. Foi quando percebi a maneira como seus olhinhos pousaram em Joana e logo depois agarraram meu pescoço e então me lembrei de nossa primeira e única conversa. Lembrei dela ter dito o quanto Joana a tratava de maneira diferente e por isso, Evellyne não se sentia bem perto dela.
- Tudo bem - Afaguei seu cabelo e falei somente para ela ouvir - Eu estou aqui!
O que eu ouvi pareceu mais um suspiro irônico, do que de alívio, porém resolvi ignorar, com certeza era minha mente que estava muito fértil hoje.
Joana por sua vez, estava rodeada pelas crianças e ela se esforçava para dar a devida atenção a todas e por um breve segundo a imaginei cuidando de nossos filhos, mas tão rápido quanto o pensamento surgiu eu o espantei.
Namoro até vai, agora filhos? Não pira Pedro! Meu subconsciente me criticou e ele nunca esteve tão certo, eu já estava indo longe demais com esses pensamentos.
Me levantei e depois de mais um abraço em Evellyne, ela voltou a sua mesa isolada para brincar com alguns bloquinhos coloridos. A fiquei observando por algum tempo, até que senti um olhar queimar sob a minha pele e respirei profundamente o bom perfume de canela. Me virei e Joana estava ao meu lado, com os braços cruzados sob o peito, não por frio, mas para ocultar as mãos que se estivessem como as minhas estavam suando e tremendo levemente.
- Parece que ela gosta de você! - Ela pousou os olhos em Evellyne.
- É! Parece que sim! - Respondi sem desgrudar meus olhos de seus longos cabelos castanhos, sua boca pequena e todo seu rosto que parecia ter sido pintado pelos anjos.
Joana com certeza sentiu meu olhar e baixou os olhos para seus pés e percebi que eu precisava dizer algo e rápido.
- Que tal se formos tomar um café? - Perguntei num último fio de coragem.
- Seria ótimo... - Ela respirou fundo e me olhou fundo nos olhos.
- Mais...? - Disse já sabendo que teria um porém.
- Eu preciso trabalhar! - Sua boca dizia uma coisa, mas seu olhar dizia outra coisa, por isso me aproximei mais um passo e a vi prender a respiração.
- Eu prometo que vai ser rápido... - Enquanto falava, tentava de alguma forma controlar meus batimentos cardíacos - Só um café! - Eu estava mesmo implorando para sair com uma garota? É Pedro você está mudado!
Joana pensou um instante e depois abriu um sorriso convencido.
- Certo! - Ela concordou com a cabeça - É sempre bom tomar um café com um amigo! - E aquela última palavra me acertou como um soco no estômago, mais eu soube disfarçar bem sorrindo.
Estendi o braço para ela e rindo Joana o segurou.
- A tia Joana e tio Pedro estão namorando! - Uma das crianças gritou com ambas as mãozinhas na bochecha e as demais gritaram e batiam palmas.
- Comportem-se crianças! - Joana pedia com doçura - Nós somos só amigos! Certo Pedro?
Vai lá galã diga o que pensa! Meu subconsciente me desafiava com os braços cruzados e um sorriso irônico nos lábios.
- Certo... Só amigos! - Garanti.
COVARDE! Era o que meu eu interior gritava e me vaiava.
Eu sabia o quanto isso soava medroso, mas eu realmente tinha medo. Medo de ser muito apressado e acabar perdendo ela. Tentar algo e descobrir que ela poderia não sentir o mesmo e isso acabar abalando as estruturas da nossa amizade. Poxa, eu acabei de me reencontrar com ela, depois de tanto tempo... Não estou pronto para perdê-la. Posso nunca estar! Então prefiro manter tudo como está e deixar o tempo cuidar do resto.
Caminhamos juntos até a cafeteria que havia do outro lado da rua e escolhemos uma mesa do canto. Fizemos nosso pedido e enquanto aguardávamos, começamos uma conversa tranquila.
- Como tem sido trabalhar voluntariamente no hospital? - Perguntei notando o quanto ela relaxou instantaneamente ao poder falar sobre algo não tão pessoal.
- Difícil! - Joana admitiu - Todas as vezes que eu venho, vejo pessoas sofrendo, morrendo, sem esperança...
A garçonete se aproximou trazendo nossas bebidas. Escolhi um copão de Coca com muito gelo, enquanto Joana preferiu uma xícara de chá.
Permaneci atento ao que ela dizia, demonstrando minha total atenção.

Um Anoitecer (Livro lll - TRILOGIA FASES DO DIA)Onde histórias criam vida. Descubra agora