Capítulo 31

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Pedro

Permaneci imóvel parado junto a porta, enquanto o meu sangue fervendo pulsava de puro ódio, dentro de cada veia do meu corpo.
Eu definitivamente não podia, não era capaz, de acreditar que minha irmã tivesse ingressado nesse mundo, e descido a um nível tão baixo.
- Não sei se você sabe, mais esse é meu quarto e tem algo chamado privacidade! Então - Maya levantou e caminhou até a porta, a segurando aberta, num pedido bem direto que eu me retirasse - Fora!
Não me contive e soltei uma risada, que mais era meu nervosismo querendo tomar conta de todo meu eu do que realmente achar graça em algo. Me aproximei, o suficiente para apertar a porta entre meus dedos, não forte o suficiente para quebrá-la, como se fosse um castelo de areia, e então a fechei e me encostei na mesma, encarando minha irmã.
- Eu não saio daqui até que me responda que palhaçada é essa? - Meu semblante deu a entender que eu não deixaria para lá esse assunto. Não até ter todas as respostas - Onde você estava com a cabeça?
Maya revirou os olhos e bufou se afastando de mim e voltando a sentar na ponta da cama.
Acompanhando-a com os olhos, notei que a ligação numa chamada de vídeo, ainda estava conectada e sua amiga nos observava enquanto bebia algo num copo enorme piscante. Pensei em pedir educadamente que Maya terminasse aquela maldita ligação e pudéssemos ter nossa conversa em particular, mais minha irmã interrompeu meus pensamentos quando começou a falar.
- Você vai sair daqui se eu disser que foi só uma brincadeira de mal gosto e que eu não sou uma prostituta? - Maya apertava o pingente de lua que pendia em seu pescoço, num colar lindo que nosso pai havia dado a ela, antes do seu aniversário de 19 anos e ela nunca tirou desde então.
Me contive a cruzar os braços e a encarar com as sobrancelhas arqueadas.
- É claro que não! - Maya revirou os olhos novamente e voltou a baixar a cabeça.
Vendo que ela não se abriria tão facilmente comigo, sendo que nunca fomos assim tão próximos. Mais ser gentil com ela não estava em meus planos, eu então decidi pressioná-la.
Peguei meu celular e digitei o nome da tal Madame Suzanne, que a loirinha que ainda nos observava atenta do outro lado da tela do notebook, havia citado. E como esperado, o mecanismo de busca me levou até um site de "acompanhantes de luxo", um nome bem menos degradante a esse estilo de vida. Percorrendo a página com diversas mulheres belas, de diversos países, para os mais variados gostos, cheguei ao meu objetivo e clicando na tela, um vídeo se iniciou onde minha irmã se apresentava enquanto se exibia, seguido de muitas fotos suas de maneira provocante. Virei o celular para que ela pudesse visualizar seu vídeo que estava bombando de curtidas e comentários, dos mais clichês aos mais ousados.

- Eu só não consigo entender o por quê? - Falei me aproximando dela e não pude deixar de ouvir sua amiga suspirando pela minha aproximação, então virei seu notebook para a parede, impedindo o contato visual da mesma e me coloquei sentado ao lado d...

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- Eu só não consigo entender o por quê? - Falei me aproximando dela e não pude deixar de ouvir sua amiga suspirando pela minha aproximação, então virei seu notebook para a parede, impedindo o contato visual da mesma e me coloquei sentado ao lado de Maya - Ei! - Deixei o celular de lado e peguei em seu queixo erguendo sua cabeça - O que te levou a isso? Maya, você é filha do homem mais rico do país, tem tudo que quiser a hora que quiser... Então... Por que jogar o nome da família nessa lama?
Uma lágrima solitária escorreu de seus olhos e ela fechou os olhos com força, antes de me olhar nos olhos e revelar o que estava acontecendo.
- Lembra da minha última viagem? - Ela me perguntou agora desviando o olhar, como se o que estivesse prestes a me contar fosse ainda mais vergonhoso do que eu já havia descoberto.
Acenei positivamente com a cabeça, sem dizer nada que pudesse fazê-la mudar de idéia em me contar tudo sobre essa escolha errônea.
- Era meu último dia no hotel, antes de voltar para casa - A vi secar as demais lágrimas que nem haviam tido a oportunidade de rolarem face abaixo - E consequentemente meu último dia com o David! - Ao ver meu olhar de confusão, ela se apressou em esclarecer - Ele foi um boy lindo que estava hospedado no mesmo hotel que eu e que depois de um jantar a dois super romântico e algumas taças de vinho, fomos parar na mesma cama e a dividíamos desde então!
- Maya... - Comecei mais sem saber como terminar a frase.
- Eu sei! - Ela se pôs de pé e caminhou até o lado oposto do quarto, de alguma maneira tentando evitar ver meu olhar de decepção e eu a entendo - E somente no penúltimo dia, eu descobri que ele não passava de um assassino a preço fixo, que vivia naquele luxo todo a custo do dinheiro que ganhava para matar pessoas! - Maya puxou o ar e continuou, e eu permiti afinal não sabia nem o que dizer - Só que sua última vítima sobreviveu ao ataque e contou a polícia, que investigando conseguiu chegar aos mandantes e foi aí que eu entro na história!
Precisei de alguns longos minutos para processar tudo que havia acabado de ouvir e assimilar todas as informações, para chegar a uma conclusão.
- Não foi coincidência que ele se hospedou no mesmo hotel que você e lhe proporcionou momentos mágicos! - Falei e notei o quão óbvio pareceu.
- Não! - Maya cruzou os braços e me olhou, encostada em sua escrivaninha - Ele sabe da imensa fortuna dos nossos pais e achou a estratégia perfeita sequestrar a mim para que com o dinheiro do resgate pudesse viver muito bem, a quilômetros e quilômetros de distância da gangue que o procurava para pagar com a vida, por ter falhado numa missão... Ele só estava ganhando minha confiança!
- Mais espera... - Falei a interrompendo, tendo em mente uma pergunta que não encontrava resposta nisso tudo - Como você soube de tudo isso?
- Numa noite que dormimos juntos, David, foi tomar um banho e eu li suas mensagens no celular - Maya me olhou com um sorriso de canto - Fui bancar a mulher ciumenta e acabei descobrindo a furada que eu estava sendo medida! Então terminei aquela noite normalmente para não levantar suspeitas, e então no outro dia enquanto ele havia saído para fazer Deus sabe lá o que, simplesmente arrumei minhas malas e fugi! Tentei antecipar o vôo de volta mais não quiseram! E foi quando olhei para trás e vi que David estava entrando no aeroporto com uma arma nas mãos... Pedro, ele foi até lá para me matar! - Novamente seus olhos se encheram d'água e eu me levantei, me aproximando dela e tocando levemente seu ombro, tentando lhe passar força para prosseguir - E quando seus olhos encontraram os meus, eu nunca vi tanto ódio na minha vida e conforme ele caminhava até mim, senti que ali era o fim... Mais ele foi baleado na cabeça, com a emoção a flor da pele eu perdi a consciência. Acordei num quarto que não era o meu e foi aí que conheci a Madame Suzanne, ela me tranquilizou de que David não mais seria um problema para mim e quando pensei que poderia voltar a viver normalmente ela quis um pagamento por ter me salvado dele, assim como ela faz com todas as garotas que ele usava como escape!
Maya parou de falar e consegui entender que o restante da história eu poderia imaginar e isso explica o que minha irmã fazia nessa vida degradante.
Maya se entregou ao choro e eu a puxei para os meus braços, abraçando-a sem sequer imaginar todo o terror que ela devia ter passado e o quanto estar pagando com o próprio corpo devia ser doloroso.
- E se você a entregar a polícia? Afinal, prostituição é visto como algo ilegal, não é? - Sugeri logo que a soltei e andei pelo quarto passando as mãos pelo cabelo.
- Acha que eu não tentei! - Maya falou secando seu rosto inundado pelas lágrimas - Quem você acha que tentou contra a vida do papai?
A simples menção disso, me fez cambalear e então reparei com a gravidade do perigo que estamos lidando.
- Ela deixou bem claro que enquanto não acabar o prazo de 10 anos sob essa vida, eu tenho somente que fazer o que ela mandar, do contrário minha família pagaria pelo meu erro! - Ela pegou um porta retrato que mantinha sob sua escrivaninha, com uma foto de toda família reunida, tirada a quase 15 anos atrás e delicadamente acariciou o rosto de nosso pai - Eu me sinto culpada pelo acidente que houve com o papai e por isso não consigo ir visitá-lo, não vou conseguir olhar para ele e saber que por minha causa ele está lá todo ferido e sem memória! Tudo por minha culpa! - E então novamente Maya, se entregou ao choro e eu a puxei para perto de mim, beijando o alto da sua cabeça e secando suas lágrimas.
- Olha, a mamãe está esperando a gente lá na cozinha com uma bacia cheia de bolinhos de banana com canela.. Então seque essas lágrimas, coloca um sorriso no rosto e depois conversamos sobre as possibilidades de te tirar disso! - Beijei novamente sua cabeça e meu olhar caiu sob o notebook.
- Obrigada, eu sabia que quando precisasse poderia contar com você - Maya sorriu - Mas não conte nada disso aos nossos pais, você é o único que sabe de tudo isso!
- Eu e sua amiga né - Indiquei o notebook virado de costas para nós.
Maya riu e se aproximou da escrivaninha mostrando o cabo da Internet desconectado.
- Digamos que a Internet passou por alguns probleminhas e a conexão foi comprometida!  - Rimos juntos por breves segundos.
Então me dirigi a porta e a abri, estava prestes a deixar seu quarto, quando minha irmã me chamou e eu virei dando-a total atenção.
- Obrigada! - Ela agradeceu e eu sorri em resposta, e enfim juntos descemos para a cozinha onde nossa mãe nos esperava impaciente.
- Até que enfim, que demora! - Minha mãe falou encostada no balcão com os bolinhos prontos e o chocolate antes quente, agora frio nos esperando.
- Como se a senhora não soubesse o quão difícil é acordar a sua filha preguiçosa! - Falei revirando os olhos e tomando meu lugar, fingindo ainda haver aquela discórdia entre nós e Maya entendeu na mesma hora.
- Cala a boca moleque! - Disse socando de leve meu braço e então começamos a comer juntos, entrando rapidamente num assunto descontraído.

Um Anoitecer (Livro lll - TRILOGIA FASES DO DIA)Onde histórias criam vida. Descubra agora