Capítulo 20

67 9 4
                                    

Eduardo

Estava mais do que ansioso, meu coração palpitava ainda mais forte, de uma maneira que eu com certeza acharia que logo ele poderia parar. Consequentemente minhas mãos suavam e todo meu corpo tremia de nervoso. Tudo isso por conta do jantar romântico que havia preparado para minha esposa e eu. Há muito tempo não tínhamos tempo para nós dois e meu velho coração sentia falta do calor de seu corpo, mais do que tudo.
Olhei mais uma vez para a tela do celular, já faziam exatos 14 minutos que ela respondera minha última mensagem, me informando que estava a caminho de casa e curiosa pelo meu comportamento carinhoso e cavalheiro. Pensei em lhe enviar mais uma mensagem, já que a ansiedade já havia me enlouquecido e meus pés reclamavam doloridos, de tanto que andei de um lado para o outro, na angustiante espera. Comecei a digitar rapidamente, mas logo desisti e enfiei o celular no bolso, ou do contrário, Diana poderia se zangar com tanta pressão.
Caminhei até de frente a janela do cozinha e vi meu reflexo no vidro, ajeitei a gravata e o cabelo que teimava em permanecer desgrenhado.
Pude ouvir o som do carro estacionando e o motor sendo desligado, dei uma olhada rápida na mesa e corri para acender as velas que iluminariam nosso jantar.
Quando Diana abriu a porta da frente, eu fui recebê-la com um lindo buquê de rosas champagne, que eram suas favoritas, ela me deu um belo sorriso, tão encantador como quando era mais jovem.
- Uau, são lindas - Diana fechou a porta atrás de si e cheirou as flores - Obrigada querido! - E gentilmente selou nossos lábios, num beijo rápido.
- Não tanto quanto você minha flor! - Acariciei seu rosto e coloquei uma mecha de seu cabelo detrás de sua orelha - Venha! - Tomei sua bolsa de sua mão e deixei na poltrona ao lado e entrelaçando meus dedos aos seus, caminhamos juntos até a cozinha.
- Amor - Diana ficou boquiaberta e seus olhos se encheram d'água quando viu a mesa preparada para termos um jantar a dois, daquele jeito bem romântico - Você fez tudo isso?
- Sim! Quer dizer...  - Peguei seu buquê e coloquei em um vaso com água que eu já havia preparado e depois puxei a cadeira para que ela se sentasse - Joana deixou algumas coisas prontas, eu confesso!
- Nossa menina é de ouro! - E meu coração se encheu de amor, afinal eu amava ouvir Diana chamar minha filha de "Nossa".
Depois da minha esposa estar perfeitamente acomodada, tomei meu lugar e começamos a desfrutar do nosso jantar, e por falar nele, estava divino. Minha Joana, tem mãos de fada para cozinhar, ela é muito talentosa em tudo que faz na verdade e eu como pai, sou suspeito em elogiá-la.
- E então como foi o seu dia? - Perguntei enquanto fatiava um pedaço de lasanha de abobrinha.
- Foi cansativo! Mas não quero falar sobre isso...  - Diana respondeu bebendo um gole do suco sem tirar os olhos de mim.
- E sobre o que vamos conversar? - Nesse momento, eu voltei aos meus 20 e tantos anos. Me sentia um jovem loucamente apaixonado, entretanto eu ainda estremecia sob o olhar sedutor de Diana, e sem querer eu ruborizava.
Minha esposa limpou a boca no guardanapo e pegou seu prato, se colocando de pé. Quando achei que mais uma vez, ela me deixaria terminar o jantar sozinho, ela me surpreendeu. Diana veio se sentar ao meu lado e propositalmente deixou seu guardanapo cair ao chão, onde ela se encurvou para pegá-lo, me dando uma boa visão do que sua blusa escondia.
Fiquei paralisado diante de tanta beleza e meu queixo quase batia no peito, Diana então se endireitou na cadeira e me olhou tímida. Eu realmente amava esse jeito dela, ao mesmo tempo que era sedutora, sabia envolver e encantar, ela era tímida e ficava com as maçãs do rosto bem avermelhadas. Ela era minha menina-mulher.

Joana

A ficha da Evellyne, não tinha muito conteúdo, apenas informações médicas sobre os exames feitos e como ela estava reagindo de modo positivo aos remédios, porém não havia nenhuma outra informação pessoal, além do seu nome no alto da ficha. Não sabia explicar o motivo, mas comecei a pensar que havia mais sobre ela que não estava escrito aqui e que talvez estivessem ocultando. Pode ser até que o nome seja falso! Mas porquê?  Qual o motivo de tanto mistério em cima dessa garotinha? Voltei a olhar a ficha a procura de respostas, mas só encontrei as mesmas das quais eu já tinha conhecimento. Olhei as demais e notei serem mais completas, havia nomes dos pais, data de nascimento e endereços, como também telefones para contato, caso necessário. Mas o da Evellyne estava em branco, e isso aumentou em 1000% a minha curiosidade sobre a história por trás da menininha solitária e mal compreendida, pois para mim era isso que ela era, mal compreendida. Mesmo que ela tentasse demonstrar que se virava muito bem sozinha, e que não fazia questão da companhia de ninguém, eu sabia a verdade. A verdade em que ela não passava de uma criança, e como qualquer outra, desejava ser amada, acolhida, mesmo que se esforçasse para manter isso guardado a sete chaves, bem fundo, eu conseguia ouvir um pedido de socorro vindo dela e eu faria o possível para ajudá-la, já que o impossível sei que Deus já está fazendo por essa pequenina.
Quase que de modo imperceptível, minha cabeça começou a latejar, resultado de muita pesquisa e pouco descanso, sem contar que não comi nada até agora. Peguei meu celular e notei que já passava das 23h00, deixei as fichas de lado e andei até a janela, e através das persianas pude contemplar o céu, que agora estava negro de uma forma assombrosa, nenhuma estrela podia ser vista, o que significava que logo ia chover.
Que ótimo dia escolheu para passar a noite em um hospital! Meu subconsciente reclamou e eu suspirei em concordância, desde pequena jamais gostei de noites chuvosas, me causavam insônia e me sentia um tanto quanto amedrontada.
Logo, pude ouvir as poucas gotas de chuva cair lá fora, que rapidamente se transformaram numa tempestade violenta, com raios e trovões. Me afastei prontamente da janela e recolhi tudo, com a intenção de passar a noite na recepção na boa companhia do Lucas, afinal ele era bem engraçado e me distrairia do meu pavor de tempestade. Entretanto ouvi um gemido de dor, e me virei pousando meu olhar sob Pedro, que ainda dormia. Me aproximei lentamente e com delicadeza acariciei seu rosto e então vi uma expressão de dor se formar em sua face e outro gemido de dor escapar do fundo de sua garganta, pensei em sair e chamar uma enfermeira, mas aí teria de explicar o que estava fazendo aqui, o que não seria nada legal, afinal mesmo sendo filha da médica chefe e ter direito a algumas regalias, eu tinha de obedecer algumas regras e um delas era: Respeitar o horário de visitas. Isso significa que eu não deveria estar aqui.
Pedro gemeu outra vez e meu coração acelerou preocupada. O que eu devia fazer?
Então, segurei sua mão e fechei meus olhos.
- Senhor, podes me ouvir? - Comecei uma oração respirando fundo tentando acalmar os meus batimentos cardíacos que estavam acelerados - Pai, nesse momento estou aqui, diante da Sua Presença, para interceder pela vida do Pedro! Deus eu não sei o que aconteceu com ele, não sei o quão ferido ele está, mais te peço, Senhor, derrame sobre ele teu azeite misericordioso e restaurador, faça aquilo que a medicina não pode fazer, pois Tu és O Deus que tudo vê, tudo sabe e tem poder sobre tudo! Cuida dele Pai! Em Nome de Jesus, eu peço...amém! - Abri meus olhos inundados pelas lágrimas, já que toda vez que eu conversava com O Pai eu me derramava em lágrimas. Baixei meu olhar até Pedro, que dormia tranquilo e reparei um sorriso que se formou no canto de seus lábios, me convidando a sorrir também.
Então sequei minhas lágrimas com a mão livre e tentei me afastar para deixá-lo descansar, mas algo me prendia ao seu lado, por mais que eu devesse sair do quarto, soltar sua mão, eu não conseguia. Eu não queria sair dali. Então me sentei na cadeira ao lado de sua cama e fiquei observando enquanto ele dormia.

Um Anoitecer (Livro lll - TRILOGIA FASES DO DIA)Onde histórias criam vida. Descubra agora