Capítulo 25

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Joana

- JOANA! - Despertei assustada ao ouvir meu nome ser gritado em alto e bom som. Meus olhos ainda meio sonolentos, pousaram sobre Hugo, que estava parado na porta, ao lado daquela mulher que esbarrei no corredor no dia anterior. Esfreguei meus olhos e vi que Hugo me olhava com os olhos ardentes de raiva e os punhos cerrados, tão forte, de maneira que seus dedos estavam esbranquiçados.
Foi então que senti o quão confortável eu estava e me permiti, olhar a cena que causara tanta revolta e pude compreender. Eu estava deitada na cama de Pedro e o mesmo se encontrava sentado na cadeira ao meu lado, enquanto nossas mãos estavam entrelaçadas uma a outra. Prontamente eu o soltei e desci da cama, rapidamente pegando minha bolsa e as fichas das crianças no grande sofá branco, no canto oposto do quarto e saí pela porta sem dizer uma única palavra ou olhar para trás.
Ouvi passos apressados vindos detrás de mim. Era óbvio que Hugo não deixaria aquilo sem uma explicação, e a pior parte é que eu não tinha uma, pois nada havia acontecido, mesmo que a cena presenciada dissesse totalmente o contrário de tudo que eu pudesse dizer para me explicar.
- Joana, espera... - Hugo me segurou pelo braço me fazendo parar e olhá-lo nos olhos. O que me causou muita dor, pois além da raiva estampada com clareza em seu olhar, havia decepção e eu não o culparia de se sentir assim, já que eu por estar num compromisso com ele jamais deveria ter me aproximado tanto de Pedro - Precisamos conversar... O...o que foi aquilo que eu acabei de ver? - Ele respirava fundo e travou ao fazer a pergunta, prova de que estava se controlando para não se exaltar ainda mais.
Respirei fundo e virei as costas, de modo que ele voltou a me puxar para junto dele e todos que passavam lançavam olhares questionadores sobre nós.
- Me responda! - Ele exigiu, levantando um pouco a voz.
Me aproximei mais dele, assim eu poderia falar tendo somente ele como ouvinte e não metade de um hospital, que nos assistia como que um programa de televisão.
- Aqui não! - Pedi e ele ao olhar ao redor e ver tantos olhares curiosos, suspirou e me olhou sério, assentindo com a cabeça.
Juntos caminhamos até a recepção, onde eu devolvi as fichas para Lucas, que erguendo a cabeça com o intuito de agradecer pelo cuidado que tomei com elas, seu olhar pousou sob Hugo e no mesmo instante vi Lucas ficar tenso e sério.
- Você ainda está por aqui? - Ele falou isso quase rosnando e eu não pude entender o que se passava ali, mais não poderia esperar para ver o que aconteceria, precisava tomar a frente já.
- Tudo bem Lucas, ele tá comigo! - Falei conseguindo trazer a atenção dele para mim que me olhava também decepcionado. O motivo eu desconheço, mais aquilo também me partiu o coração. Será que hoje era o dia de magoar todos que eu amo?
Sorri meio sem jeito e me afastei do balcão, indo em direção a porta, exatamente no mesmo momento que a ambulância parou ali e os paramédicos adentraram trazendo um homem muito ferido, deitado sob a maca. Havia sangue e vidro em seu rosto e ele estava desacordado, mas mesmo assim pude reconhecê-lo.
- Tio Henrique? - Levei a mão a boca ao vê-lo naquele estado.
Dois dos paramédicos levaram ele para dentro, enquanto o outro fazia sua ficha com base na identidade que ele tinha em mãos. Sem perceber deu um passo de volta ao balcão de recepção, mas fui imediatamente impedida por Hugo, que me segurou.
- Onde vai? Temos que conversar! - Ele me olhava de uma maneira que me arrepiava o corpo todo.
Antes que eu pudesse responder, Diana adentrou pelas portas apressada e essa foi minha deixa, para me afastar um pouco de Hugo, que estava muito transtornado e precisava se acalmar um pouco.
- Mãe! - Me aproximei dela e a mesma me lançou aquele olhar examinador, coisa de médica.
- Joana? Você está bem minha filha? - Ela beijou o alto da minha cabeça - Como passou a noite aqui?.... Bom, conversamos depois, me chamaram com urgência sobre um paciente que sofreu um acidente de carro e foi trazido as pressas para cá, parece grave!
- Eu conheço ele... - Ao dizer isso, ela me olhou nos olhos um tanto quanto preocupada - É o tio Henrique mãe! Por favor, faça tudo que puder para salvá-lo! - E uma lágrima se formou em meus olhos.
- Eu prometo! - Ela me puxou para um abraço e depois correu para dentro do hospital.
Permaneci ali parada, sabendo que eu não teria o que fazer para ajudar.
Deveria avisar o Pedro sobre o pai dele! Meu subconsciente falou e eu descartei esse pensamento tão rápido quanto a luz se propaga na escuridão. O estado de Pedro poderia piorar com a preocupação que ele certamente sentiria pelo pai e eu também não queria ver aquela mulher novamente. A energia pesada que vinha dela, me causava tontura. E para completar eu estar perto dele já havia me causado um mal entendido que eu não me livraria em explicar.
Como que lendo meus pensamentos, Hugo se aproximou e tocou meu ombro.
- Joana? - Sua voz agora tinha um tom mais calmo, porém os sentimentos ruins estavam ali presentes ainda e era por minha culpa, então tinha de fazer algo para não permitir que isso adentrasse o coração dele.
Me virei e o olhei nos olhos.
- Tem...uma cafeteria do outro lado da rua, podemos conversar lá! - Respondi e saí caminhando, sem esperar pela resposta.
Quando saí na rua, senti o toque quente do sol em minha pele e olhei o imenso céu azul, nenhum vestígio daquela tempestade havia ficado e agora ela e tudo que aconteceu então, parecia ter sido somente um sonho.
Atravessamos a rua e entramos na singela e aconchegante cafeteria, escolhemos uma mesa próximo a janela e a garçonete prontamente veio nos atender. Quer dizer, atender o Hugo, já que seu sorriso engrandeceu e seu decote aumentou ao vê-lo.
- Posso anotar seu pedido? - Ela dizia olhando ele de cima a baixo.
- Um café puro! - Ele pediu sem nem olhar para ela - E você amor? - Ao ouvir ele me chamar de amor, a garçonete murchou na mesma hora e o sorriso desapareceu.
- Quero um cappucino, por favor! - Após fazer meu pedido, vi ela rabiscar no papel e se afastar com metade da alegria e energia que tinha vindo nos atender e sinceramente, tive pena dela. Não pela rejeição do Hugo, mas por ter de se portar assim para ganhar a atenção dos homens, tenho certeza que por dentro era uma mulher de muitos valores e qualidades belas, e merecia mais do que alguém que babaria em seu par de seios.
- Então, quer me explicar o que aconteceu? - Hugo me olhava, com os braços cruzados sob a mesa.
- Nada! - Respondi enfim. Curta, objetiva mas verdadeira.
- Quer dizer, que o que eu vi não era nada? - Ele engolia em seco, retendo sua raiva somente para si.
- O que você viu... - Parei de falar no momento que a garçonete voltou com nossos pedidos e os colocou na nossa frente e então se afastou - Hugo, o que você viu foi eu exausta, depois de uma longa noite de trabalho! - E então adocei minha bebida quente e levei a xícara próximo ao nariz, para me inebriar em seu doce aroma e depois bebi um tímido gole.
- Seu trabalho? - Ele riu debochado repetindo minha última palavra - Seu trabalho agora inclui dormir com os pacientes?
O olhei nos olhos, o que acabei de ouvir foi como uma faca cravada funda no peito e me rasgando de dentro pra fora. Como ele se atrevia em ter esse tipo de pensamento sobre mim?
- O que?
- Você me disse que iria naquele hospital orar pelos pacientes e quando chego lá dou de cara com você deitada na cama de um cara qualquer, como acha que eu me senti? - Ele nem se deu o trabalho de adoçar o café e o bebeu, forte e puro.
- Primeiro; ele não é um qualquer, ele é meu amigo de infância... - Comecei a falar, mais ele me interrompeu.
- Isso devia fazer eu me sentir menos traído?
- Me deixa terminar! - Estava me segurando para não chorar ali na frente de todos que iniciavam sua manhã tranquila e ensolarada - Segundo; eu orei por todos os pacientes, como faço toda quinta feira e Deus é minha testemunha disso! Apenas fiquei preocupada ao ver meu amigo preso numa cama na UTI, então eu peguei umas fichas da ala infantil para estudar sobre uma das crianças que me chamou muita atenção e devo ter pego no sono, de resto...Bom você já sabe! - Larguei minha xícara sob a mesa enquanto meu coração palpitava acelerado.
- Então, não houve nada? - Hugo me olhava agora como quem se desculpa, a raiva e a decepção haviam sumido de seu semblante.
Peguei minha bolsa e me pus de pé, no mesmo instante que ele segurou-me pela mão.
- Espera! Onde vai? - Ele perguntou.
- Para casa! Estou exausta e no momento quero ficar sozinha - Eu precisava sair dali o mais rápido possível, as lágrimas forçavam a sair.
- O que isso quer dizer? - Hugo se aproximou de mim e segurou-me pelo queixo, seus olhos também começavam a se inundar de lágrimas. No fundo ele sabia o que significava aquilo.
- Significa que não posso ficar com alguém que não confia em mim! - O olhei muito machucada interiormente. Eu podia entender claramente, que ele ficou com ciumes e raiva ao me ver deitada ali ao lado de Pedro e ainda de mãos dadas, mas presumir que eu havia me relacionado sexualmente com ele, como uma vagabunda, isso eu realmente não esperava. Não dele, que sabia meu temor em Deus e minha decisão de esperar até o casamento para me entregar a um homem, como manda a lei do Senhor, então sua imaginação fértil, talvez até demais, havia criado um abismo entre nós, além de uma profunda ferida em meu coração.

 Não dele, que sabia meu temor em Deus e minha decisão de esperar até o casamento para me entregar a um homem, como manda a lei do Senhor, então sua imaginação fértil, talvez até demais, havia criado um abismo entre nós, além de uma profunda ferid...

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Me soltei de suas mãos e corri para fora da cafeteria, me afastando o máximo que podia dela e foi neste momento que a represa de lágrimas estourou e eu chorei como uma criança.
Peguei meu celular e liguei para o único que poderia me socorrer e me serviria de abrigo agora.
- Alô? - Ele atendeu no segundo toque.
- Pai, preciso do senhor! - Falei entre lágrimas e soluços, meu coração doía, pois mesmo com todos os defeitos eu gostava muito de Hugo e ter que me afastar assim estava me ferindo de uma maneira que eu não sabia se conseguiria suportar.

Um Anoitecer (Livro lll - TRILOGIA FASES DO DIA)Onde histórias criam vida. Descubra agora