Melinda
Depois da primeira visita que fiz a meu marido, junto com meu filho Pedro, não deixei de vê-lo um único dia e dentro de mim eu tinha convicção do quanto isso estava fazendo bem para ambos e o próprio médico me incentivou nas visitas, afinal poderia cooperar para que Henrique recuperasse a memória mais rápido.
Entretanto, foi minha última visita que me encheu de alegria e de esperança, de uma forma que eu não sentia há muito tempo.Lembrança de Melinda
"Terminei de tomar um belo café da manhã, e me dirigi até a sala de segurança a procura de Erick, afinal eu ainda não havia encontrado um motorista pra mim desde que Henrique demitiu o meu, depois de uma briga sem conceito algum.
- Oi! Bom dia! - Disse parando junto a porta e dando duas batidinhas na mesma, vendo Erick atento aos monitores que mostravam toda a mansão e ao ouvir minha voz, ele prontamente se virou e se pôs de pé.
- Bom dia, sra. Bragança! - Sua voz era doce, pois já havíamos criado uma amizade forte desde que nos conhecemos, porém sua expressão era séria e sua postura completamente profissional, uma das partes ruins de trabalhar para meu marido, eles pareciam jamais relaxar, e por um lado até era bom, afinal cuidavam não somente de proteger Henrique, como todos, incluindo nossos maiores amores, nossos filhos - Em que posso ser útil, madame?
- Madame, Erick? - Eu ri fazendo uma careta engraçada - Sabe que pode me chamar de Melinda! - O vi consentir com a cabeça e sorrir brevemente, antes de retomar sua postura e eu prossegui - Bom, quero que me leve ao hospital, pretendo ver Henrique!
Notei que ao dizer o nome do meu marido, Erick ficou um tanto quanto inquieto e duas vezes abriu a boca para dizer algo, mais ambas as vezes se calou e somente assentiu.
- O que quer me dizer? - Perguntei notando que ele não revelaria por si só.
- Não sei se devo... - Erick baixou os olhos para os pés e pela primeira vez o vi assim, de baixa guarda, completamente exposto.
- Ei - O chamei e me aproximei, tocando levemente em seu ombro, trazendo seus olhos aos meus - Pode se abrir comigo, sou sua amiga lembra? - E lhe dei meu melhor sorriso, que não imediatamente foi retribuído.
- Queria saber....se é possível eu também visitar o Sr. Bragança? - Erick perguntou meio sem jeito, como se tivesse me pedindo algo impossível - Sinto falta do patrão! - Ele concluiu.
- Mais é claro! Você tem tanto direito quanto eu - Ao dizer isso segurei uma de suas mãos e apertei com carinho - Você faz parte da nossa família!
- Obrigado mada... Quer dizer, Melinda! - E sorriu.
Então após deixar os demais seguranças atentos sobre a nossa saída e sobre os turnos de vigilância atenta sob a casa, Erick partiu acompanhado de mim até o carro e depois que deixamos os portões da mansão, ele pareceu deslizar sob o asfalto e rapidamente chegamos ao nosso destino. Ambos descemos do carro e juntos caminhamos até a recepção, onde dei meu nome e o nome de Erick, assim ganhamos as etiquetas informando sermos visitantes.
Após passarmos por alguns corredores, chegamos na porta do quarto onde meu marido estava, porém antes de adentrar o mesmo ouvimos uma voz doce vindo de seu interior, cantando uma música que eu bem conhecia. Nos aproximamos um pouco mais e pude ver atrás do vidro da porta, que era Henrique cantando, e meus olhos se encheram d'água no mesmo instante, ele estava cantando a música que ele colocava para tocar toda vez que a gente brigava ( Música no player). Assim que ele acabou de cantar voltava do início e começava tudo de novo, então eu abri a porta e tenho certeza que vi seus olhos brilharem no exato momento que me viu e um sorriso iluminado se instalou em seus lábios, pensei que enfim tivesse me reconhecido.
- Me lembro de você - Henrique falou e eu e Erick nos aproximamos dele - Você é a mulher bonita que vem me ver todos os dias!
- Sim, sou eu! - Sorri ainda com os olhos inundados de lágrimas.
- E quem é ele? - Henrique apontou para Erick.
- Um amigo! - Respondi olhando para Erick e depois de volta para Henrique - Ouvi a música que estava cantando, é muito linda!
- É uma música de perdão! - Ele falou e eu paralisei.
- O que disse? - Não tinha como não conter a emoção, ele estava realmente se lembrando.
- Sei que parece loucura, mais toda vez que canto, sinto que é uma forma de pedir perdão! - Henrique explicou e eu não me contive e acariciei seu rosto sorrindo igual uma boba apaixonada.
- Poderia cantar novamente? - Pedi e ele animado voltou a cantar a música do início."Desde aquele dia, notei que a memória dele estava a um fio de retornar, meu marido logo logo estaria aqui novamente comigo.
Portanto, hoje despertei alegre, tomei um banho demorado, daqueles que nos renova. Desci e tomei café antes que a mesa fosse tirada, sinal de que Pedro já havia saído para a faculdade. Fico realmente muito feliz que meu filho esteja voltando a fazer o que sempre sonhou fazer, a única diferença é que ele continua morando aqui na mansão ao invés de ir para o seu apartamento, afinal ele diz que a posição de homem da casa agora é dele.
Estava terminando de tomar o café, quando Erick surgiu e ao me ver toda arrumada, ergueu uma sobrancelha.
- Vai sair Melinda? - Perguntou se aproximando e parando ao meu lado, seu rádio chiava com alguém lhe passando alguma informação, e ele prontamente o desligou, focando sua atenção em mim.
- Uhum - Murmurei limpando a boca após dar uma última garfada no bolo de milho e depois me coloquei de pé pegando minha bolsa que estava ao lado - Vou para a Lira Editorial!
- Houve algum problema? - Erick estava estranhando essa minha idéia de querer ir à empresa já que eu tinha quase que por definitivo, que trabalharia somente em casa.
Não contive uma gargalhada e me aproximei dele.
- Não bobo, depois da visita a Henrique ontem e ver que ele começou a se lembrar de algumas coisas - Comecei a falar já sentindo meu coração se derreter emocionado e contente - Vi que já estava mais do que na hora de meus funcionários ter a presença inspiradora da chefe! No caso eu.. - Dei alguns passos sorrindo, mas parei e me virei para Erick que continuava parado no mesmo lugar - Você me acha inspiradora? - Perguntei bem menos confiante do que estava alguns segundos atrás.
Erick riu e caminhou até mim.
- A senhora é um exemplo de mulher! Devia ganhar um prêmio Nobel por ser um ser humano tão incrível! - Ele me elogiou e eu fiquei uns instantes estática, completamente sem fala.
- Agora sim, ninguém estraga meu dia! - Respondi sorridente e me aproximei, beijando a bochecha de Erick - Obrigada, você é o melhor!
Ele sorriu em resposta e juntos partimos rumo a Lira Editorial, no caminho passamos de frente ao hospital e minha vontade incontrolável de pular do carro e correr até Henrique estava demais. Mas meus funcionários precisavam de mim, não que meu marido não precisasse, mais sei que ele não iria a lugar algum e depois do meu expediente, ele estaria lá me esperando e hoje eu planejava levar algumas recordações da nossa família, para estimular ainda mais seu subconsciente a despertar sua memória adormecida.
O sinal abriu e seguimos nosso caminho.
Passamos também de frente a uma cafeteria e imaginei o quanto Alice ia gostar ser surpreendida com um belo chocolate quente e um croissant, pedi que Erick estacionasse e rapidamente desci, adentrando a cafeteria agradecendo por não estar tão cheio. Caminhei até o balcão e fiz meu pedido para a viagem, foi então que pelo olhar periférico, consegui notar que aquela mal amada da Thais, estava sentada numa das mesas acompanhada com um homem que eu não conseguia saber quem se tratava, já que o mesmo estava de costas para mim. Antes que eu virasse o rosto para o outro lado, percebi que eles se colocaram de pé e apertaram as mãos e começaram a andar em minha direção, já que o maldito balcão ficava bem próximo a porta de saída. Procurei de alguma forma me esconder, não por medo, não, nada disso, só não queria ter uma discussão com aquela cobra logo pela manhã.
Ambos pararam próximos a mim e ouvi um estalar, algo parecido com um beijo.
- Nada de beijo até cumprir com a sua parte no acordo! - Thais reclamou com sua voz repleta de veneno.
- Sabe que quando eu conseguir o que você quer, vou querer mais do que seus beijos né? - O homem falou, tentando ser sensual, mais soou repulsivo. Entretanto o tom de sua voz me pareceu familiar, mas eu não conseguia me recordar de onde já havia a ouvido.
Logo a porta da frente se abriu e depois se fechou, no mesmo tempo que meu pedido ficou pronto. O peguei e paguei, tendo a mente questionando o que aquela vagabunda poderia estar aprontando agora? Eu esperava, pelo bem dela, que Pedro não estivesse envolvido nos seus planos maquiavélicos!
Deixei a cafeteria e adentrei o carro, ansiosa para chegar na editora e poder ocupar minha mente com o trabalho e deixar Thais para trás, não perderia mais tempo pensando nela ou no que fazia e deixava de fazer, não era problema meu. Ou era isso que eu imaginava.
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Um Anoitecer (Livro lll - TRILOGIA FASES DO DIA)
RomanceAgora Pedro, não era mais uma criança que vivia debaixo das asas protetoras dos pais. Ele havia completado 24 anos de idade e bad boy era quase seu sobrenome. Universitário e um verdadeiro conquistador, Pedro tem mais mulheres em sua cama do que cue...