Capítulo 38

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Esse capítulo vai para alguém muito especial...
De quem eu sinto muito falta!

Partiu sem me dizer adeus, mais hoje é meu anjo da guarda! 😍😍😍❤❤❤😭😭😭

Preparem os lencinhos

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Henrique

Mais uma noite estou aqui, preso nessa cama de hospital, sem sequer me lembrar de quem eu sou, de onde vim e qual a minha história.
Minha mente tem pregado peças em mim e me deixa sem dizer ao certo, o que é real e o que não passa de fruto da minha imaginação fértil, e devido a falta de companhia e a solidão obscura do quarto, tendo como exceção o som dos aparelhos ligados à mim e o pequeno monitor que marcava meus batimentos cardíacos, eu estava sozinho. Do lado de fora da porta, eu via vez ou outra algum médico ou enfermeiro passar apressado, sem nem ao menos se recordar de que eu estava ali. Estavam me tratando como se o pulso de vida já havia me deixado e eu meio que consigo entender, afinal um homem sem memória é tido como um homem sem valor.
Todos esses pensamentos estavam torturando meu pobre psicológico já tão fodidamente fodido, portanto fechei meus olhos e tratei de descansar, sendo essa, a única coisa que me era permitida aqui. Assim que meus olhos se fecharam, tudo escureceu e eu deixei de sentir meu corpo.

Sonho de Henrique
" Uma luz forte e quente tocou-me como um carinho. Na mesma hora abri os olhos e vi que estava deitado sob uma grama, num tom de verde que eu jamais tinha visto em toda minha vida e exalavam um cheiro tão agradável que eu poderia permanecer aqui toda a tarde.
- Aí está você! - Uma voz melodiosa e ao mesmo tempo estrondosa, me fez sentar rapidamente e olhar em direção de onde ela vinha e eu encontrei um homem, com vestes brancas e um sorriso gentil nos lábios - Sabe me dizer seu nome? - E então ele me estendeu sua mão para que eu pudesse me levantar.
- Henrique... Bragança! - Respondi um pouco desconfiado e exitei em segurar sua mão, até que percebi que ele não a recolheria até que eu a aceitasse, portanto a peguei e pude então ficar de pé.
- Ótimo, ótimo! - O homem disse e começou a caminhar com as mãos para trás e por curiosidade ou por já não querer continuar sozinho, eu o segui.
Caminhamos até um campo enorme de flores, tinha diversas cores, tamanhos e espécies. O céu completamente azul e uma brisa suave tocava nossa pele, tudo era muito......perfeito! A ficha caiu e eu espantado parei.
- Espera, eu morri? - Perguntei quando notei o quão óbvio tudo aquilo me parecia naquele momento.
O homem ao meu lado, caiu na gargalhada. Não sei dizer se o motivo era algo que se passou em sua mente ou era eu mesmo.
Permaneci o olhando, agora de braços cruzados, numa mistura de confusão, medo e raiva.
- Me perdoe - O homem falou secando as lágrimas de seus olhos e me olhou - Você não está morto meu filho! - A maneira como ele falou isso me deixou um pouco desconcertado, mais ignorei - Acredito que pessoas sentiriam sua falta e odiariam te perder sem poder se despedir! - E tendo dito isso, se abaixou e pegou um filhote de passarinho que havia caído do ninho, que ficava num dos galhos da árvore e o recolou de volta, seguro.
- Sim - Respondi automaticamente - Eu também sentiria muita falta da minha esposa e dos meu filhos! Eu não... - Nesse momento paralisei e ao olhar para o homem que me olhava de volta, vi que ele sorria de uma maneira confortável, que me transmitia uma paz tremenda - Eu me lembro! Me lembro de tudo, de quem eu sou, da minha família! - O sorriso em meu rosto, quase rasgava minha face tamanho sua imensidão. Se ele estava grande, imagine o tamanho que estava meu coração, pulsando amor e saudade. Todo meu eu ansiava estar junto deles novamente e poder beijá-los e abraçá-los. Meu filhos, Pedro e Maya e minha esposa amada, Melinda! Ah, Melinda! A mulher da minha vida.
- Você pode me mostrar a saída desse lugar? - Impossível era conter minha empolgação. Porém foi somente olhar para o homem ao meu lado e toda minha felicidade se esvaiu. A expressão em seu rosto era de dor - O...o que houve?
- Eu consigo sentir a dor deles! - E então ele pôs a mão sobre o peito e somente nesse momento vi o furo nela e recuei alguns passos.
- Você... Você é.... Jesus? - Minha respiração começou a ficar ofegante - Você disse que eu não tinha morrido! E toda aquela história sobre não partir sem se despedir... Meu Deus, agora entendo porquê está sentindo a dor deles! - Comecei a andar de um lado para o outro, desesperado e foi somente o leve toque de Jesus sobre meu ombro que eu senti subitamente a paz tomar conta do meu corpo e sem conseguir explicar, confiei nele.
- Você não está morto! - Ele repetiu e dessa vez não duvidei, permaneci o olhando em silêncio - Sim, você está certo! Eu sou Jesus e esse nosso encontro não foi em vão!
Ele segurou minha mão e me puxou para sentarmos debaixo da árvore, a mesma que mantinha o ninho acolhido entre seus galhos.
- Conversei com Meu Pai sobre você, estávamos muito preocupados... - Fiquei o ouvindo e sabia que ele falava sobre Deus - Pedi que você tivesse mais tempo, mas Papai disse que sua missão na terra já está concluída!
Mesmo ouvindo aquelas palavras, eu já não mais me descontrolava, meu coração aceitava aquilo como se fosse uma coisa normal. Acredito que a presença de Jesus me mantinha calmo e sereno.
- Então vendo que sua permanência na terra chegou ao fim, só me restou clamar que O Pai, lhe deixasse ao menos se despedir! - Jesus repousava uma mão sobre minhas costas - Ele concedeu, por isso sua memória foi restaurada!
- Eles vão sofrer tanto! - Falei levando meu olhar para o horizonte e vendo a bela paisagem a minha frente, fechei meus olhos e respirei fundo.
- Nós jamais os deixaremos! Assim como nunca deixamos você, filho meu! - Jesus me garantia e eu continuei de olhos fechados, só absorvendo suas palavras. Todo amor, carinho e proteção que eu sentia agora, sei que é tudo que minha família vai sentir depois da minha partida e isso em parte me deixava bem e fazia ser mais fácil de aceitar.
Nesse instante ouvi o som de risada de uma criança e prontamente abri os olhos, vendo uma bela menininha de vestido florido, correndo pelo campo de flores atrás de diversas borboletas que voavam por ali. A alegria dela me contagiou no mesmo instante e eu me peguei sorrindo.
- Quando você permite que eu faça morada, é assim que você se sente, mesmo diante de tantas adversidades e sofrimentos! - Jesus falou, mantendo os olhos na garotinha.
- Então ela é....? - Comecei a falar quando o vi acenar positivamente com a cabeça. Pensei em perguntar como sabia o que eu iria dizer, mas as lições da época que ia a igreja me voltaram a mente. Ele é um Deus onisciente, sabe de tudo, antes mesmo de falar Ele sonda e conhece seus pensamentos. Era o que eu sempre ouvia.
- Sim! Somos o Espírito Santo! - Jesus falou ao abrir os braços e receber um abraço apertado da garotinha, que veio em sua direção correndo.
- Nunca entendi bem isso de Trindade! - Falei sendo o mais sincero que pude.
Jesus beijou a face da garotinha com doçura e ela novamente voltou a correr.
- Somos três e mesmo assim somos um! - Ele respondeu.
- Mais... - Comecei e novamente ele respondeu antes da pergunta ser feita por completo.
- Teremos tempo! - Jesus me olhou e sorriu - Agora, sua família precisa de você!
E se aproximando, beijou o alto da minha cabeça."

Me coloquei sentado na cama, olhando ao redor a procura do belo lugar que estava, mas me deparei com o quarto escuro do hospital. Eu estava de volta.
E tendo em mente que me lembrava de tudo, meu sonho não havia sido somente um sonho qualquer, aquilo fora uma preparação e uma última chance de me despedir.
Apertei o botão, que chamava a enfermeira e não demorou muito para que a mesma abrisse a porta e a luz iluminasse o ambiente.
- Sr. Bragança! - Ela se aproximava de mim, já checando todos os aparelhos, constatando que estavam normais, me olhou sem entender a urgência - O que houve?
- Chame minha família! - E quando disse isso, ela me olhou boquiaberta e de olhos arregalados e deixou o quarto imediatamente.
Pousei a mão no coração e vi que ele estava tranquilo e não batia desenfreado. Sim, eu já havia aceito meu destino.
A porta novamente se abriu e eu cogitei a idéia de que eles já estivessem no hospital, por isso chegaram tão rapidamente. Mais me frustrei ao ver que era a enfermeira acompanhada do médico.
- Sr. Bragança, ouvi dizer que sua memória voltou! - Ele disse sorrindo e veio querendo me examinar e eu logo o empurrei. Eu precisava da minha família aqui, o quanto antes, afinal eu não sabia quanto tempo me restava.
- Eu quero minha família aqui - Comecei a me alterar - JÁ!
E vendo minha urgência em querer vê-los e contando com a experiência em perdas que o médico provavelmente tinha, ele enfim entendeu e saiu do quarto apressado, poucos minutos depois retornou e me informou que logo estariam aqui.
Me deitei novamente sob a cama e respirei aliviado, enquanto em meu coração, orava pedindo que Jesus cumprisse sua promessa em me dar tempo de me despedir, eu não poderia partir antes disso, fechei os olhos e uma lágrima solitária escorreu.

Um Anoitecer (Livro lll - TRILOGIA FASES DO DIA)Onde histórias criam vida. Descubra agora