Capítulo 45

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Diana

Eu passei tempo demais com um segredo escondido no mais profundo do meu ser. Pensei poder conviver com ele, pensei poder deixar minha família longe disso, mas agora, que tudo está prestes a vir a tona, me encontro sufocando com tudo que tenho mantido a sete chaves dentro de mim, porém não sei o que fazer. Afinal admitir que tenho mentido para eles, os machucaria profundamente, acabaria meu casamento e eu os perderia para sempre, mas continuar mantendo isso oculto resultaria no mesmo, ou seja de uma forma ou outra eu saio perdendo.
Soco violentamente o volante, enquanto algumas lágrimas escorrem por meu rosto.
Já faziam duas horas que havia estacionado o carro no monte mais alto que havia e me dava a visão de toda a cidade e o amplo mar.
Meu celular apitava com todas as ligações perdidas e mensagens de Eduardo, e algumas de Joana. Eles estavam preocupados comigo e isso demonstrava que ainda não descobriram toda a verdade. Entretanto nem isso fazia eu me sentir melhor ou menos culpada.
Meu celular tocou e uma olhada na tela foi o suficiente para que meu tormento se intensificasse a ponto de me deixar com raiva e com o sangue fervendo.
- Me ligou? - Ele perguntou assim que atendi.
Com a mão livre apertei o volante, com toda a força que consegui.
- Minha família.. - Falei pausadamente -... Estão quase descobrindo toda a verdade!
- Eu sei! - Ouvi o quanto o tom da sua voz parecia despreocupado, como se não ligasse para isso - Vai ficar tudo bem!
- Acho que você não entendeu! - Rosnei para o telefone, tentando de algum modo fazer ele levar o assunto a sério.
- Não! Acho que VOCÊ que não entendeu! - Ele retrucou - Sei que a sua filha postiça andou bem curiosa ultimamente, mas no fim das contas ela não tem nada a não ser suposições, e ninguém vai a lugar algum com suposições!
Relaxei a mão que envolvia o volante e a passei pelos cabelos, os soltando do coque mal feito.
- Joana é uma mulher muito inteligente - Garanti, sabendo que ela não sossegaria até encontrar as respostas que procura, mesmo sem saber o quanto isso a machucaria, Joana não iria desistir facilmente - Não demorará muito até que ela junte as pontas soltas e desvende o mistério!
- Fácil! Basta cortar as pontas soltas! - Um estralo de latinha sendo aberta ecoou através da ligação e eu realmente não entendia como ele poderia estar tão calmo numa situação dessas.
- O que quer dizer com isso? - Perguntei, mas já imaginando o que sua mente sórdida havia planejado.
- Demita aquele seu funcionário imprestável que deu acesso às fichas para ela - Nesse momento eu revirei os olhos. Ele realmente acredita que tudo pode ser resolvido assim? Com uma demissão?
- Isso a instigaria a ir mais a fundo nessa história! - Disse nervosa - Com toda essa pressão em cima de mim, eu cheguei a pensar em...
- Não vai contar a verdade não é? - Ele me interrompeu e agora sua voz soava séria e preocupada.
- Não! - Respondi prontamente - Mas pensei na possibilidade de me separar e sumir, ao menos não estaria aqui para ver a cara de decepção dela e do Edu! - Cada batida do meu coração, era como uma facada no peito e me doía demais.
Do outro lado da linha pude ouví-lo bufar e imagino o motivo.
- Não entendo porquê demonstra se importa com esse babaca! - Ele cuspiu as palavras.
- Primeiro de tudo, ele não é um babaca - Defendi meu marido como uma leoa protege seu filhote - E segundo, eu o amo, portanto é óbvio que eu me importo!
- Continuo discordando - Ele ria de maneira controlada - Se você o amasse como diz, não teria se envolvido e feito tudo que fez! - E então caiu na gargalhada.
- Seu desgraçado!! - Gritei para o telefone - Só fiz o que fiz pensando no bem deles, do contrário você deixou bem claro do que era capaz de fazer! Seu manipulador barato!
- Sua voz fica tão excitante quando está brava! - Ele riu novamente e eu quis desligar, mas ele prosseguiu - Antes que continue com suas difamações, saiba que eu já dei um jeito nos seus problemas garota mimada!
- Não me chame assim! - Reclamei tendo lágrimas ardendo em meus olhos - E o que aprontou dessa vez para livrar a barra?
- Eu? Eu não fiz nada - Aquele papel de sonso que ele estava fazendo, não combinava com ele nem um pouco - Apenas mostrei a Thais que quanto mais pessoas estiverem contra Joana, melhor as chances dela ter o homem dela de volta!
- E como isso vai me ajudar?? - Perguntei não entendendo onde ele pretendia chegar.
- Enquanto a sua querida filha postiça estiver ocupada tentando a aprovação das pessoas, não terá tempo para se meter onde não foi chamada! - Ele explicou como se fosse algo muito óbvio.
- Mas por que meter a Thais nisso? - Resmunguei me sentindo ainda mais falha.
- Ela está metida nisso desde que nasceu! - Droga! Ele realmente acabou de usar um fato do passado contra mim?
- Você é um merda! - O chinguei.
- Também te amo! - Ele respondeu antes que eu desligasse na sua cara.
Expus toda a minha raiva num grito descontrolado, mas mesmo assim o buraco que crescia gradativamente em meu peito sugava tudo de bom que havia. Restando-me apenas lembranças, boas e ruins, coisas que queria esquecer e coisas das quais eu jamais me permitirei esquecer.
Depois de ter chorado tudo que meu canal lacrimal era capaz, liguei o carro acelerei para casa. Se tudo realmente estava sob controle, como ele me disse, então eu teria que continuar tentando levar minha vida normalmente. Só teria que encontrar respostas para dar a Joana e eu já sabia exatamente o que fazer, peguei a rota inter estadual, se eu tivesse sucesso, restariam poucos minutos para chegar em casa e salvar meu casamento.

Pedro

Depois que o enterro acabou, vi todos indo embora, até que restou apenas eu e Joana. Ela permanecia ao meu lado e minha mão ainda estava em sua cintura, porém minha mente estava ao mesmo tempo em dois lugares; a sete palmos do chão e a anos atrás.
- Você está bem? - Joana me olhava cautelosa - Ah, que pergunta boba, claro que não está!
- Eu vou ficar bem! - Sorri de leve para ela e então voltei meus olhos para a lápide de meu pai a minha frente - Só preciso de uns minutos....a sós!
Por um momento ela fixou seu olhar em mim, olhando fundo nos meus olhos, como se procurasse algo em meu interior, como se quisesse escutar o que minha boca não dizia mas meu coração gritava enlouquecidamente. E então eu tive de desviar o rosto, do contrário ela conseguiria enxergar uma obscuridão que eu mantinha cativo no mais profundo do meu eu, e lutava comigo mesmo para impedir que outra vez me dominasse.
- Claro! Nos vemos em breve - Ela respondeu, após beijar minha face e se afastar.
Quando enfim me encontrava sozinho, caí de joelhos próximo a lápide e deixei as lágrimas caírem.
" Faz bem deixarem as águas curadoras rolarem!", me lembrei de uma frase que ouvi num filme uma vez e isso nunca saiu da minha mente.
- Ah pai - Falei procurando deixar sair toda aquela angústia de dentro de mim - E agora? O que eu faço? Eu estava tentando ser o homem da casa enquanto o senhor se recuperava... E olha só o que aconteceu... - Socava a grama enquanto desabafava para o vento, implorando que minhas palavras fossem carregadas e levadas até onde meu pai agora estava e que ele pudesse me ajudar mesmo depois da sua partida - Maya presa numa vida suja, grávida e totalmente sem juízo... Mamãe que estava começando a se recuperar....ah...eu sinto sua dor a quilômetros! Eu não sei como poderei mudar tudo isso se não consigo nem mesmo me manter de pé! - Permaneci ali ajoelhado e completamente exposto. Meu coração estava aberto e jorrava dor e tristeza.
Uma brisa suave começou a dançar por todo cemitério e passou por mim, trazendo um doce aroma de flores e incrivelmente trouxe paz ao meu interior e quando senti que a ferida aberta começara a se fechar e a dor se acalmava como que com um bálsamo, eu ouvi um sussurro me chamar.
Coloquei-me de pé e olhar ao redor, eu continuava completamente sozinho, então olhei para o céu e fechei os olhos.
- Pai? - O chamei.
E então esperei, sabia que podia me ouvir e eu sabia que ele tentava ser ouvido, então me livrei dos sentimentos ruins e deixei a paz daquela brisa me contagiar por inteiro.
" O amor pode curar tudo e colocar as coisas no lugar!".
O sussurro que ouvi foi o bastante para que meu interior explodisse em alegria, por ter a certeza de que nem mesmo a morte separaria eu de meu pai. Abri os olhos, com um sorriso no rosto e agradeci mentalmente, mais por ele ainda estar aqui do que pela resposta.

Um Anoitecer (Livro lll - TRILOGIA FASES DO DIA)Onde histórias criam vida. Descubra agora