Capítulo 16

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Pedro

Estava completamente imóvel e encantado com a mulher parada próximo a mim, eu sabia que era ela. A mesma dos meus sonhos e a mesma que me guiou para fora de toda aquela escuridão obscura que eu me encontrava. Cada partícula do meu corpo dava sinal de que enfim eu estava frente a frente com ela. Podia sentir seu bom perfume exalando e tomando conta de todo o ambiente, podia ficar horas apenas me deixando ser inebriado por aquele aroma. Sua mão ainda pressionava a minha quase que de modo imperceptível, mas era o bastante para me certificar de que estava total e completamente acordado. Somente minha visão, parecia estar um pouco turva e tudo que eu me limitava a ver, não passava de imagens borradas, o que me deixou muito frustrado, já que isso impossibilitava de ver perfeitamente seu rosto.
Foi preciso apenas minha atitude de levar a mão aos olhos e esfregá-los um pouco, com a intenção de que minha vista melhorasse e então senti sua mão soltar a minha e quando me dei conta, ela estava saindo pela porta, sem ter me dado ao menos a oportunidade de uma conversa, de poder perguntar seu nome.
Aos poucos minha visão se tornou mais clara e eu pude ver cada detalhe do quarto em que estava, até que meus olhos novamente pousaram sobre a porta que se abria lentamente. Meu coração disparou, na esperança em vê-la novamente, mas quem apareceu foi minha mãe e quando a mesma me viu desperto, ficou boquiaberta.
- Oi mãe! - Sorri para ela, abrindo os braços num singelo pedido de receber seu abraço, que há tempos eu necessitava.
Rapidamente ela veio até mim, com lágrimas nos olhos e um belo sorriso no rosto. Então me envolveu em seus braços, tomando cuidado em não me apertar demais, como ela era acostumada em fazer.
- Oi meu amor! - Ela respondeu e pude sentir suas lágrimas molhando minha camisa. Em outros tempos eu a afastaria agora, mas hoje, queria jamais precisar soltá-la. Minha mãe passou por poucas e boas comigo e não consigo imaginar o quanto sofreu em me ver preso a esta cama, portanto darei a ela um dia para fazer o que bem entender - Deixe-me ver você! - Ela se afastou, somente o necessário para olhar meu rosto e estender a mão, demonstrando a intenção de tocar meus ferimentos no rosto, apenas assenti com a cabeça e a vi acariciar os pontos onde não havia lesões, mais uma vez, seus olhos se encheram d'água - Ah, meu filho eu sinto muito...  Eu...
- Ei? - A interrompi e foi minha vez de tocar seu rosto com a mão, trazendo sua atenção para mim - Tudo que aconteceu foi minha culpa, minha! E de mais ninguém! Não quero ver nem você e nem meu pai se culpando pelos meus erros, ok! - Notei que a simples menção em meu pai, a fez ficar um pouco tensa. Tanto que ela se ajeitou e secou as lágrimas, me olhando meio incrédula, como se eu tivesse acabado de soltar um palavrão daqueles - Falando nele, cadê? Onde está meu pai? - Perguntei jogando meu olhar para a porta fechada atrás de minha mãe.
- Ele... - A vi exitando e me endireitei na cama, ainda um pouco dolorido. Mas sentia dentro de mim, que algo havia acontecido, enquanto eu ainda estava inconsciente. Minha mãe respirou fundo e se levantou, dando a volta na cama e andando até a janela, cruzando os braços sob o peito.
- Mãe, o que está acontecendo? - Nesse instante o monitor demonstrava a maneira que minha pulsação havia aumentado, revelando meu nervosismo.
- Eu e o seu pai... - Ela continuava de costas para mim - Bom, depois do que ele fez... Nós vamos nos separar! - Minha mãe respondeu e se virou, me encarando nos olhos como se esperasse eu concordar com aquela decisão.
- O que? Não! - Aceitavelmente eu estava começando a me alterar. Afinal meus pais iam por um fim no casamento de quase 30 anos, por minha causa e eu jamais poderia aceitar isso.
- Pedro, entenda meu filho.. - Minha mãe começou a tentar me explicar, mas eu não podia deixar que essa idéia virasse um ato consumado.
- Não e não! - Lágrimas já escorriam pelo meu rosto e com elas, toda minha dor, não a física, mais a emocional era exposta. Todo meu lado sensível, sentimental que há anos venho ocultando por detrás de uma máscara de bad boy, estava vindo a tona e eu não podia, na verdade, não queria impedir - A senhora não sabe, o quanto irá me machucar se minhas atitudes impensadas, destruírem o casamento de vocês! Separar a nossa família, não... Não me faça carregar mais esse fardo! Por favor!
Pouco me importando, com o quanto meu corpo reclamava de dor, juntei as pernas próximo ao corpo e as abracei, enterrando meu rosto entre elas. A culpa que eu carregava em meus ombros por ter magoado meus pais por tantos anos, acabara de ficar ainda mais pesada e isso consumia todo meu ser de raiva, raiva de mim mesmo. Porém agora, diferente de antes, eu não explodia e saía descontando em tudo e em todos, eu me retraia e guardava somente para mim.
- Pedro, não precisa ficar assim! - Minha mãe se aproximou e pude sentir a cama, próximo a mim se afundar quando ela se sentou e delicadamente acariciou meus cabelos - Depois falamos disso, ok?  O que importa é que você enfim despertou! - Erguendo a cabeça pude vê-la sorrir e então com a ponta dos dedos, secou minhas lágrimas com cuidado.
- Eu só não acho justo, vocês pagarem por um erro meu! - Me endireitei na cama para que minha mãe pudesse se achegar mais para perto de mim.
- Meu filho, me esclareça algo - Ela falou e lhe dei toda atenção possível, já conseguindo me acalmar e controlar minha pulsação - Qual sentimento predomina em seu coração, em relação ao seu pai? Levando em consideração, o ato agressivo que ele teve com você!
Mais uma vez, minha mente fez uma comparação, de como eu responderia antes, e como respondo agora. Só eu sei, o tormento que passei naquela floresta, largado sozinho na escuridão e tendo que confrontar meu próprio eu. Só eu sei, o quanto me doeu ver a dor que eu causava em todas aquelas mulheres que eu usava como objeto de prazer, e ver a dor que eu causava em meus pais, decepcionados pelo filho ter se tornado um esnobe. Portanto, assim que despertei, decidi não mais viver da maneira que estava vivendo. Resolvi não mais brincar com o sentimento das pessoas e depois lançá-las na escuridão que eu vivi por um tempo, afinal ninguém merecia isso. E também parte da minha vontade de mudar, vinha daquela mulher misteriosa, que me encantou sem nem mesmo conhecê-la.
- Eu o perdôo! - Respondi certo do que estava dizendo, não eram palavras da boca para fora, era do coração - Eu por muitos anos fui uma decepção para vocês, e aquilo me fez acordar para vida!
- Você não tá falando sério!? - Minha mãe me olhava espantada.
- Sim, estou! E a senhora também devia perdoá-lo! Todos erramos. Todos merecemos uma segunda chance! - Pedi pegando em sua mão, entretanto sua cara fechada me dizia que não seria nada fácil convencê-la.
Antes que ela pudesse continuar a defender sua tese de que meu pai era um monstro por ter feito o que fez, a porta se abriu, e novamente me peguei na esperança de ser ela. Porém meus olhos viram outra mulher, e acabei ficando sem reação, quando ela me olhou e me lançou um olhar de empoderamento.

 Porém meus olhos viram outra mulher, e acabei ficando sem reação, quando ela me olhou e me lançou um olhar de empoderamento

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- Oi meu denguinho! - Thais falou ao fechar a porta detrás de si e se aproximar de mim.
Pelo jeito, terei de enfrentar mais alguns demônios para ser completamente livre, suspirei pesadamente e a encarei.

Um Anoitecer (Livro lll - TRILOGIA FASES DO DIA)Onde histórias criam vida. Descubra agora