23 - Um convite especial

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••• Autora narrando •••

Olá. Aposto que sentiram minha falta não é? Precisei tirar umas férias. A história desses adolescentes frita meus neurônios. E eu achando que era o Leonardo candidato a mais trabalhoso, mas vi que o Isaque preencheu bem o cargo. É... é muita coisa. Mas, vamos lá.
As meninas decidiram dar uma volta no shopping. Era semana de Enem e decidiram que nos dias que antecedessem o exame, iriam descansar a mente. Mas sabemos que não é bem assim que acontece.
O pai de Lara a liberou hoje do trabalho. Graças a Deus agora o fluxo de vendas das duas lojas situadas na grande João Pessoa deu um salto e agora ela pode intercalar de vez em quando. Nada sério, apenas um auxílio. Mas elas decidiram dar uma passadinha na Sporting Show.
- A gente poderia entregar o convite do culto do Amigo que vai ser daqui a dois domingos, não é? - Lara sugeriu, enquanto andavam - sabe, eu tava me lembrando daquele acordo que a gente fez na casa de praia de tentar ganhar a vida do Leonardo para Jesus, mas não movemos muita coisa. Acho que precisamos entrar em ação.
- Ah, com certeza - Megan concordou sorrindo.
Elas avistaram a loja. Lara tirou o convite do bolso, para a surpresa das meninas.
- Já era seu plano não é? - Anna brincou - você é a persistência em pessoa.
Elas teriam entrado direto na loja se não tivessem congelado juntas e ao mesmo tempo ficado sem reação ao ver a Jaqueline praticamente deitada para cima de Leonardo, se não fosse o balcão do caixa.
Ela sorria, mascava um chiclete e enrolava uma mecha de seus cabelos loiros no dedo. Ele não olhava para ela. Mas as meninas se entreolharam e surgiu a dúvida se iam ou não.

◆◇◆◇◆◇◆

Tudo estava escuro. E de longe eu podia sentir um mal cheiro de sujeira, cigarro e álcool. Me pergunto como alguém pode chegar nesse estado. E é difícil chegar à resposta, a não ser quando é você próprio que vive. Então é melhor ficar sem saber.
Hoje, aquele que chamam como filho do pastor Samuel está ali, jogado na calçada de uma boate. Desacordado. Chutado pra fora por ter causado confusão lá dentro. E agora, todos que passam, olham de lado, desprezam e humilham em seus corações. Alguns sentem pena e jogam umas moedas. Mas, aquele jovem que era tão bonito e vaidoso, agora vive assim. Seus músculos estavam sumindo desde as semanas que que fugiu de casa, desde que Megan rompeu o namoro e ele fugiu de casa.
Se sentir um idiota ainda é cedo pra ele.

◆◇◆◇◆◇◆

Enquanto isso, no supermercado...
Dona Flor, no corredor dos enlatados, não sabia qual atum escolher. Desde que ouvira falar que serve para memória, pensou em comprar para Lara, porque ô cabeça a dela, viu!
- Flor! - ouviu de repente atrás de si.
Olhou para trás e exclamou com surpresa:
- Hannah! Oi, querida! - deram um abraço e tocaram os rostos fazendo som de beijinho.
- Vai levar atum hoje? - sorriu.
- Ah, sim - risos - dizem que faz bem pra memória - ela ergueu as sobrancelhas mostrando interesse pelo o que viria a seguir - é para a Lara. Sabe como são os adolescentes de hoje em dia.
- Ah, é? - botou a mão na boca em surpresa. - vou levar quatro. - esticou o braço para pegar. Melhor: seis. Por causa do Leonardo.
Elas riram, mas realmente levaram o atum.
Saíram do corredor levando seus carrinhos um ao lado da outra.
- Ah propósito, gostaria de agradecer a vocês por contratarem o Leonardo. Eu estou percebendo uma grande tranquilidade nele, sabe? Acho que está fazendo bem.
Flor sorriu sem saber o que responder. Mas sorriu com ternura.
- O pai e a madrasta dele acham que ele não tem jeito, sabe? - Flor ouvia com atenção - ele já sofreu muito na vida, você deve saber da história e...
- Não sei, não - disse rindo.
- Ah - hesitou - é muito longa. Mas, desde criança ele já sofreu na mão da Elisa. Os pais se separaram porque a mãe botou chifre, ele se revoltou com a mãe. De modo que ela não quis mais saber dele. Teve que ir morar com o pai e a madrasta, que sinceramente, tratava ele muito mal. - entraram no corredor de materiais de limpeza - eles discutiam muito. E o pai sempre dava razão a madrasta dele, a Elisa. Quando ele começou a usar drogas que os amigos da escola ofereciam, ele ficou muito diferente. E mais agressivo. Até com os meninos sabe? Lara não é da época, mas Anna e Lucas sim. Eles nunca gostaram dele. - pegou um pacote de sabão em pó e duas águas sanitárias.
- Essa Lara já tinha comentado comigo.
- Pois é. Então o pai chutou ele pra fora de casa depois que os filhos dele com a nova esposa estavam grandinhos.
- Coitado! E pra onde ele foi? - pegou algumas coisas da prateleira também.
- Morar com a mãe. Que já tinha outro filho também. As brigas não cessaram, mas... ele deu uma melhorada e depois se afundou nas drogas de novo. E veio para cá. O objetivo do pai dele é levar ele pra uma reabilitação. Aqui em João pessoa não tem, mas em Campina Grande sim.
- Ah... espero que não seja necessário né. Mulher é uma coisa tão perigosa. É capaz de cegar o amor de um pai pelo próprio filho.
- Demais minha filha, aquela mulher ali é ruim viu. Sabe aquele povo que anda com a saia até os pés mas a língua é maior que a saia? Pronto. É ela! Nem a Megan gosta dela. Ela gosta de quase todo mundo, mas dela, não.
Chegaram ao caixa e dona Hannah foi a primeira a passar. E logo depois Flor. Cada uma tomou seus carros e foram para casa.
Foi muito bom pra Flor saber mais sobre o mais novo empregado de uma das lojas do seu esposo.
Por outro lado, sentiu muita dó daquele jovem. Tão novo e tão sofrido...

◆◇◆◇◆◇◆

- Vai, Lara, deixa de ser medrosa! - Anna cutucou.
- Eu mesma não! - deu meia volta e as meninas não se moveram.
Mas a loira estava de saída. E lá vinha ela com seus salto alto, rebolando pelo shopping. Passou pelas meninas, que fingiam estar conversando distraidamente para não ter que cumprimentar ela. Mas foi em vão.
- Megan! Querida, quanto tempo - deu um beijinho de rosto colado de um lado e de outro.
Anna e Lara se olharam por estranharem ela precisar se empinar pra fazer isso.
- Oi, Jaqueline.
- Ow querida - fez biquinho - eu sinto tanto pelo Isaque. - fez carinha de triste - se eu soubesse que a Vivian tava se envolvendo com ele, já teria deixado de falar faz tempo. Mas nem se preocupe, tá? Já disse a ela que não somos mais BFFs - sorriu - agora vou indo. Bye - deu tchauzinho com os dedos e saiu.
Megan revirou os olhos e fingiu ânsia de vômito.
- Como seu primo aguenta? - Anna disse bufando - vamos meninas.
Leonardo já estava esperando por elas. Difícil não escutar quando a Jaqueline fala. Ela sempre quer chamar atenção.
- E aí? - Lara disse levantando a mão, que ele por sua vez, bateu.
- E aí, minha parceira - sorriu.
Megan e Anna se olharam. Eu podia muito bem interpretar aquele olhar como "desde quando eles são assim?"
- A Jaqueline veio comprar o quê aqui numa loja de esportes? - Anna perguntou, tentando entrar num clima descontraído - não me diga que a piriguete vai começar a andar de skate - abriu a boca fingindo espanto.
- Não seja boba, Anna. - Megan respondeu - ela deve ter vindo pra comprar um capacete né. - eles olharam para ela - porque ela não tem nada na cabeça gente, pode se machucar por aí.
A gargalhada foi certa.
- Mas e aí? Veio conferir se eu estou fazendo tudo certinho? - Leonardo disse com gentileza.
- Não - riu - vim te entregar um convite. Estou de folga hoje.
- Nada melhor do que curtir uma folga no lugar onde se trabalha não é mesmo?
As meninas riram. Nem sabiam que ele tinha senso de humor.
- Hahaha muito engraçado. - pausa - eu gosto daqui sabe? Lembro até do dia da inauguração. - olhou pra ele de espreita.
Ele não disse nada. Então ela continuou.
- Toma - entregou o envelope em branco. - espero que você vá. É desse domingo o outro.
Ele sorriu. - Vou pensar.
Então elas se despediram e saíram. Ele ficou olhando para elas, enquanto andavam. Lembrou-se quando fazia parte de um trio de amigos também, quando era da igreja. Mas as lembranças boas não apareceram. Apenas as mágoas de quando...
- Boa noite. Vocês tem luvas de proteção? - disse uma adolescente falando com ele no balcão.
- Ah, sim - sorriu - é no terceiro corredor. - indicou para a mocinha. - Peraí. Júlio! - gritou para outro funcionário que o ouviu bem e veio em prontidão, ajuda ela aqui a achar o corredor de luvas.
- Obrigada - ela disse e seguiu o rapaz.
Leonardo continuou preso em seus pensamentos, na dúvida se deveria ir ou não.

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1° capítulo da maratona
(Imagem do convite produzida por mim e meramente ilustrativa tá, gente?! Assim como o endereço que eu misturei o nome de duas avenidas kkk. O nome do bairro é real)

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