25 - Anna e Lucas, o que aconteceu?

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Era sábado, o Enem seria no dia seguinte e Lara estava pura ansiedade na loja, ao lado de Leonardo.

- Tenho dó das suas unhas.

Ela então despertou. E franziu o cenho. Só então percebeu que estava roendo as unhas com o cotovelo apoiado no balcão da loja, no caixa.
Leonardo estava a sua frente. Tinha pegado uma caixa de enfeites de natal e colocado sobre o balcão, vasculhando-a.

- Não tem como não ficar tensa - ela respondeu e se moveu para ajudá-lo com os enfeites. O balcão entre eles.

- É só uma prova, Lara. Ela não define quem você é.
Ela nunca ouviu ele falar dessa forma. Talvez até ele tenha estranhado a naturalidade que transmitiu sem esforço algum. Mas balançou a cabeça e continuou procurando algo útil na caixa.

- Que tal esses troços que parecem um... Não sei como chama - mostrou a ela os enfeites de natal.

- Pompons, querido - riu e pegou da mão dele. - acho ótimo. Tem uns bons metros. Sempre penduramos nas prateleiras.

- Certo. - ele disse. - mãos a obra.
Os dois foram andando.
Lara pediu que Júlio assumisse o caixa. Alguns meninos foram lá passar as compras que tinham feito. Parece que alguém iria acampar.

Ela não pôde deixar de notar uma menina provando um all star azul, sentada em uma das cadeiras que estavam dispostas na loja em quatro conjuntos de 3 cadeiras. Dois deles ficavam juntos, de forma oposta.
Havia um menino sentado nas cadeiras que ficavam por trás da garota, em um desses conjuntos.
Ele a observava. Lara sorriu. E seguiu em frente.

Apenas ela e Leonardo no mesmo corredor com uma caixa de enfeites de Natal próxima aos seus pés.

- Como conseguiu passar para engenharia civil? - Leonardo olhou confuso para ela - você disse ao meu pai, lembra?
Ele mudou de expressão.

- Passei no Enem.

- E quanto você tirou?

- Engenharia Civil é uma nota alta - sorriu sem graça.

- Eu sei... Por isso estou perguntando.

- Só 737... - pausa - eu acho.

Se curvou para pegar um pompom.
Lara parou.

- Vocês colam com o quê?

- Como pode dizer "só"? Caramba! Foi uma nota ótima!
Ele não sorriu.

- Eu gostava de estudar.

- Eu achei que você não...

- Estudava? - completou a frase - como pode um drogado gostar de estudar não é? Principalmente sonhar com engenharia civil.

- Não... Não é isso. É que... Você age como se não se importasse com as coisas sabe?

- Sou inconsequente?

- Um pouco. - ela riu e se arrependeu um minuto depois.

- Sabe o que mais odeio? O que mais me dá um embrulho no estômago? - perguntou com o olhar fixo no dela.

Lara sentiu medo, e não respondeu - hipocrisia.

Ela ergueu a sobrancelha. Leonardo não estava mais com enfeites na mão.
Agora estava frente a frente com Lara.

- Toda a minha vida eu fui cercado por hipocrisia. Meu pai... Meu pai era presbitero da igreja. Tem noção de quantos chifres ele levou? E ainda saiu como coitadinho da história. Mas depois dos cultos, sabe o que ele fazia? Tava lá no bar bebendo. E eu? Eu que me dane. Nunca se importou comigo.

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