Talvez as pessoas, magicamente, tenham baixado o volume de suas vozes, no mudo. Ou andavam rápido demais, tornando-se apenas vultos. Pelo menos, era assim que Lara se sentia. Era como se no seu mundo só houvesse ela e o Leonardo, que estava ali, ocupando a cadeira a sua frente, numa mesa simples da praça de Alimentação do shopping Magic.
— Quer me falar sobre... - ele levantou os olhos para encará-la. Ela não conseguiu terminar a frase.
— Sobre minha vida amorosa? - perguntou receoso. E sorriu, olhando para o lado - ou melhor, o fim dela.
Lara sorriu para ele. Meio triste, mas se sentindo mais leve por ele estar descontraindo o clima tenso ali. Se sentiu um pouco aflita, pois a situação era dele, e ele mesmo quem estava tentando fazer ela se sentir melhor.
— Tudo começou quando eu me mudei para lá. Fui morar em BH, bem próximo do meu primo Paulo. Filho do outro casamento do tio Oscar...
A garçonete veio trazer nossos pedidos. Quando ela saiu, depois de dar uma piscadela pra ele. Lara fingiu que não viu. Ele realmente nem reparou. Apenas continuou a história.
— Eles já eram amigos. Fui apresentado por ele a ela. Dava pra notar que ele tinha interesse, mas nunca assumiu isso pra mim, sabe? Então ela começou a se aproximar de mim de forma diferente. Eu não sou como a maioria dos homens, que não reparam nessas coisas, sabe? - Lara concordou com a cabeça, rindo por dentro pelo o que acabara de acontecer sem que ele tenha visto - começamos a namorar... Tava muito apaixonado. Mas... Tinha alguns momentos que faltava o freio nela, sabe?
Ele olhou para Lara para saber se aquilo incomodava ela. Já que não, continuou:
— Ela queria avançar o sinal. Mas eu era temente demais pra permitir isso, entende? - ela fez que sim - então um dia... Eu resolvi fazer uma surpresa pra ela...
•• FLASHBACK ON ••
A noite estava fria, o céu estava estrelado e as flores que Leonardo estava carregando no braço estavam com um perfume muito suave. Sua roupa foi totalmente planejada e aprovada por sua mãe. Estava muito confiante.
Subiu na moto, com o buquê cuidadosamente dentro de uma sacola, seguiu viagem até o bairro vizinho. Uns 10 minutos de viagem. E quando desceu da moto tirou com cuidado o buquê de rosas vermelhas: a cor da paixão e pegou a caixinha de veludo também vermelha, do bolso. Abriu-o e sorriu com o brilho do anel.
Ela vai amar, ele pensou. E de repente todas as semanas trabalhando com hora extra e sem folga sem nem sequer poder ver sua amada, valeram a pena. Sentiu um frio na barriga ao dar o primeiro passo, mas levou como um bom sinal.
Dona Maria estava do lado de fora, sentada na cadeira de balanço fazendo crochê à luz do poste da rua. Ela era um amor de pessoa, ainda jovem, e tinha uma filha mais velha que Letícia. Ah, sua doce Letícia, ou, sua loirinha...
Quando dona Maria levantou a visão e avistou o jovem se aproximando, sorriu contente. Eles já tinham conversado à sós e ele recebeu a benção da sua futura sogra.
Ela não disse nada, apenas deu a mão e ele apertou confiante. E então, entrou na casa. Seguiu o corredor até o final e sobrou a direita para a escada, cada degrau era pisado com cuidado. Tudo tinha que ser surpresa. A surpreenderia em qualquer momento que ela estivesse. Mas ao chegar mais perto percebeu que ela estava com sua amiga Rita. Parou ao ouvir o seu nome na conversa das duas.
"E como vão as coisas com o Leozinho em?"
(Pausa)
"Ih... Parece que nada bem. Que cara é essa?"
"Nada. É que... - pausa - não sei..."
"Como assim não sabe, Letícia?"
Ela se levantou da cama, andando no quarto.
"Eu não... - olhou para cima e engoliu o choro - eu não mereço o Léo, amiga."
"Por quê diz isso? Ele é louco por você. Te ama do jeito que você é, amiga."
"Não!" - começou a chorar.
Leonardo ficou aflito, pensou em entrar no quarto, mas ficou apenas do lado da porta ouvindo.
"O que houve?" Rita perguntou preocupada e de frente com ela.
"Eu... Eu não devia. Eu... Fiz algo errado, Rita! Muito errado!" - colocou o rosto entre as mãos.
"O quê, amiga? Você pode me contar. Senta aqui e me diz o que foi."
Depois de um tempo de silêncio, Letícia quebrou o gelo.
"Eu trai o Léo."
Leonardo sentiu suas pernas fracas.
Rita, depois de tirar a mão da boca, disse:
"Mas como, por quê? Com quem, Letícia? Porque fez isso? Meu Deus do céu!"
"Eu não sei... Eu e o Paulo... Rolou e nós... Ah você sabe. O Léo nunca quis avançar e eu e Pedro avançamos e..."
Leonardo nem esperou ela terminar a frase, ficou na porta do quarto. Ela, de costas, não o viu. Apenas a Rita, então ela continuou:
"E eu tô grávida"
Leonardo sentiu que todas as suas forças se esvaziaram do seu corpo de forma que ele não conseguia mais segurar nada. E como se fosse em câmera lenta, ele baixou os braços, o buquê e a caixinha caíram no chão, com o barulho Rita o viu e colocou a mão na boca, com a cara de choro e sem imaginar nada Letícia virou de costas. E ele, que tinha ficado parado há tanto tempo como um poste fixo no chão, deu meia volta quando a garota que acabara de partir seu coração veio lhe dizendo algo que ele nem conseguia entender. Como uma atitude robótica, ele se virou, desceu as escadas, percorreu o corredor, saiu da casa, subiu na mota, colocou o capacete e foi embora. Dona Maria tinha do seu lado uma filha grávida, e que agora nem era noiva, muito menos namorava. E toda as esperanças que sua mãe tinha nela estavam indo embora estrada à frente.
As lágrimas embaçavam a visão dele, que acabou derrapando e caindo na pista, sozinho. Machucou a perna, o cotovelo, mas nenhuma dor era maior que a do seu coração despedaçado.
Naquela noite, depois de ir no hospital, Leonardo não dormiu em casa. Tudo que ele pensava era em perder sua virgindade que tanto preservou e de nada adiantou. Mas de madrugada, dormindo na cama de uma pousada por não querer responder perguntas da sua mãe, ele resolveu se levantar. Seguiu caminho até a casa de Paulo, de moto. Tocou a campainha e ele veio atender. Quando abriu o portão com cara de sono, Leonardo deu-lhe um soco, o empurrou e puxou pela gola da camisa.
"Com o ódio que tô da tua cara é melhor tu vazar enquanto não arrumo uma arma. Aproveita e vê se assume teu filho, seu réptil seboso." - as palavras foram ainda mais ofensivas.
Paulo, sem reagir nem entender perguntou do que ele estava falando. Ele apenas o olhou com fúria e disse "tá avisado".
Se virou e foi embora.
Com um buraco ao invés de um coração. O amor que existia dentro dele foi embora como areia escorre entre os dedos. Olhou para o céu e disse "Valeu mesmo Deus. Eu nunca mais piso numa igreja. Eu não quero mais saber de você! Já que eu sei que é recíproco!"
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A Resposta Das Minhas Orações
EspiritualAdmita. Você já teve uma paixonite de alguns minutos. No ônibus, no shopping, na rua, no metrô... enfim, vários lugares. E você pensa que nunca mais reencontrará tal pessoa, certo? Agora, imagine se a reencontrasse? Seria bom, ou ruim? Difícil re...