2° capítulo da maratona dos 2K
(Recomendo ler enquanto ouve a música. Dá um fundo sonoro bem armônico que tem a ver com o capítulo)Boa leituraaa!
Uma vida sem uma mãe pode ser traumática e deixa marcas pelo resto da vida. Principalmente quando se é uma menina. Você vive sem uma mãe que possa lhe auxiliar nas coisas da vida, de quando se está ficando mocinha ou quando surge o primeiro paquera.
Anna sofreu exatamente assim, e sempre culpou seu pai por sua mãe ter ido embora. Muitas vezes eles já discutiram e o seu coroa saia murcho, de cabeça baixa. Era notório que seu Alex tinha um semblante triste, ele carregava em seu rosto a dor da rejeição dupla das mulheres da sua vida. A sua ex esposa que fugiu de casa por não aguentar a pobreza que viviam e foi atrás de um homem rico que a pudesse sustentar com luxo. E também da sua filha, que nunca ouviu a verdade da fulga da mãe e sempre o mal tratou com palavras duras ao sentir a falta da mãe.
Vez ou outra, em seu quarto, seu Alex orava e rogava a Deus que desse mais sabedoria a sua filha e que ela não sofresse quando a mãe tivesse a chance de lhe contar a verdade. Mas ele não poderia privá-la disso. Atrevo-me até a dizer que o sofrimento dessa pobre menina ao dizer a verdade, seria um grande plano da parte de Deus.— Eu prometo que vou visitar a senhora na prisão! – Anna dizia a sua mãe – sabe, a senhora é muito bonita.
Ela não respondia. Ela nunca respondia.— Por que a senhora não me responde? Eu tenho tantos planos pra gente! – se levantou e começou a andar no quarto, com os olhos como se enxergasse o futuro. Olhos sonhadores e coração alegre.
— A gente pode ir a praia... Podemos levar o Miguel para o shopping brincar no game station. Podemos ir ao cinema!
E então...— Cai na real, garota.
Foi a única coisa que ela ouviu. Então olhou para trás, para sua mãe que estava ali no leito.— O... q...
Cecília, sua mãe, respirou fundo e disse:— Se eu quisesse ficar com você, eu não teria abandonado você e seu irmão. Você nunca percebeu isso? Eu não quero vocês dois! Vocês não são meus filhos. Eu não sou mãe.
— Mas... – chegou mais perto dela e segurou sua mão – eu esperei tanto pela senhora, mãe. Eu... Senti tanto a sua falta – baixou a cabeça e fechou o olhos. A única coisa que sentiu foi a mão dela sendo puxada da sua de forma brusca.
— Seu pai... Ele... – olhou para ela.
Anna levantou a cabeça e Cecília pôde enxergar seus olhos cheio de dor. Aqueles olhos cheios de lágrimas que ela tinha visto poucas vezes quando bebê. O bebê tão pequeno e recém nascido que ela segurou se tornara uma linda mulher.— Seu pai é um homem bom. Eu nunca soube valorizar o seu valor. – engoliu em seco – eu sempre quis mais. Sempre quis mais dinheiro, mais joias, mais roupas, sapatos... Ele não podia me dar tudo isso. A única coisa que me deu foi você e seu irmão. Mas vocês não me davam lucro nenhum. Pelo contrário, apenas arrumei algumas celulites e estrias. Dores de cabeça e na coluna. Então, quando você ainda era pequena, eu conheci um cara. Ele me conquistou ao me prometer muitas riquezas. E eu saí de casa.
— Deve ser por isso que mal lembro de você.
“Você”, Cecília reparou a mudança de pronome. Continuou:—Sim. Mas eu voltei. Seu pai, como todo apaixonado, foi atrás de mim. Eu nunca entendi o que ele viu em mim. Sei que sou bonita, mas somos totalmente diferentes de mente. E eu voltei. Engravidei de novo. E não tive dúvidas que o Miguel era dele. Mas aí, já não pude mais aguentar. O dinheiro era contado e... Aquilo não era pra mim. Então eu saí de novo e disse para que ele não corresse atrás de mim.
— Você não gosta mesmo da gente?
— Eu não nasci pra ser mãe, Anna. Eu tenho alma livre. Não posso me prender a nada. É contra a minha natureza.
— Nossa – se levantou. – eu espero nunca conhecer alguém desprezível como você.
Cecília sorriu. Aliviada.
Anna pegou a bolsa e botou no ombro.— Já entendi que não quer receber visitas. Não precisa se preocupar. Não irei.
Quando ela abriu a porta do quarto, sua mãe disse:— Por quê você não gosta do Alex?
Anna parou.— Eu ia te dar pra doação ou jogar no orfanato. Sabia que um homem não saberia cuidar bem de duas crianças. Mas ele não permitiu.
— Ele soube cuidar de mim – disse de costas – eu não perdoava ele por você ter ido embora. Mas sabe de uma coisa? – olhou pra ela poder cima do ombro – só agora eu soube que essa foi a melhor coisa que você poderia ter feito.
Abriu a porta e olhou de relance.
— Obrigada – disse. – e não precisa vir atrás de mim quando estiver morrendo. Eu lhe perdoo.
E saiu.Hoje Anna saiu daquele hospital com outros olhos. Cheios de lágrimas sim, mas também, cheio de arrendamento. Pegou logo o carro e dirigiu para casa. A mente ia longe. O pensamento estava embaralhado. Então lembrou-se que ainda era cedo. Seu pai não estava em casa. Dirigiu até o trabalho dele.
Seu pai havia se tornado um médico muito competente. Mas isso, sua mãe nunca soube. E, para ela, não tem mais diferença.
Estacionou o carro no estacionamento do hospital e assim que entrou, perguntou a moça da recepção aonde estava o Doutor Alex.— Ele está numa consulta agora, moça. Posso ajudá-la?
— Sim, eu sou a filha dele. Preciso urgentemente falar com...
— Você é a Anna? – a recepcionista disse. Ela era negra, vestindo uma roupa branca de gola azul claro, farda do hospital. Seu cabelo era alisado, mas estava preso em um coque. E ela era charmosa.
— Sim... Nos conhecemos?
— Olha, Verônica. Essa é a filha do Alex! – disse para a outra mulher que estava anotando algo numa prancheta. Ela se aproximou sorrindo.
— Você é mais bonita do que seu pai costuma falar.
Anna sentiu um nó na garganta.
— Ele fala... De mim?
— Ô menina – gargalhou – o tempo todo! Eu quase sei seu CPF – sorriu.
Verônica, a de trás, disse:— Seu pai te ama muito. Quem dera eu tivesse um pai assim. O meu me abandonou... Nunca nem vi o homem.
— Eu... Ele... – ela estava sem saber o que dizer, mas sorria. As lágrimas escorriam em seu rosto.
Viu uma porta se abrir e uma moça sair de lá de dentro. Seu pai saiu logo atrás, distraído com o botão do jaleco, veio em direção a recepção com a intenção de pedir um cafezinho.
Anna não se aguentou.— Pai!
Correu e deu um abraço nele. As lágrimas escorrendo e seu pai, finalmente soube reagir ao abraço que nunca recebera.
— Me perdoa? – soluçou – eu sou uma idiota! Me perdoa por não te amar como deveria!
Seu pai, que não era durão, chorava enquanto passava os dedos por seu cabelo.— É claro, minha princesa. Você não sabe quanto tempo esperei para ouvir você dizer isso.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Resposta Das Minhas Orações
EspiritualAdmita. Você já teve uma paixonite de alguns minutos. No ônibus, no shopping, na rua, no metrô... enfim, vários lugares. E você pensa que nunca mais reencontrará tal pessoa, certo? Agora, imagine se a reencontrasse? Seria bom, ou ruim? Difícil re...