24 - Um pedido de perdão

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2° capítulo da maratona dos 2K
(Recomendo ler enquanto ouve a música. Dá um fundo sonoro bem armônico que tem a ver com o capítulo)

Boa leituraaa!

Uma vida sem uma mãe pode ser traumática e deixa marcas pelo resto da vida. Principalmente quando se é uma menina. Você vive sem uma mãe que possa lhe auxiliar nas coisas da vida, de quando se está ficando mocinha ou quando surge o primeiro paquera.
Anna sofreu exatamente assim, e sempre culpou seu pai por sua mãe ter ido embora. Muitas vezes eles já discutiram e o seu coroa saia murcho, de cabeça baixa. Era notório que seu Alex tinha um semblante triste, ele carregava em seu rosto a dor da rejeição dupla das mulheres da sua vida. A sua ex esposa que fugiu de casa por não aguentar a pobreza que viviam e foi atrás de um homem rico que a pudesse sustentar com luxo. E também da sua filha, que nunca ouviu a verdade da fulga da mãe e sempre o mal tratou com palavras duras ao sentir a falta da mãe.
Vez ou outra, em seu quarto, seu Alex orava e rogava a Deus que desse mais sabedoria a sua filha e que ela não sofresse quando a mãe tivesse a chance de lhe contar a verdade. Mas ele não poderia privá-la disso. Atrevo-me até a dizer que o sofrimento dessa pobre menina ao dizer a verdade, seria um grande plano da parte de Deus.

— Eu prometo que vou visitar a senhora na prisão! – Anna dizia a sua mãe – sabe, a senhora é muito bonita.
Ela não respondia. Ela nunca respondia.

— Por que a senhora não me responde? Eu tenho tantos planos pra gente! – se levantou e começou a andar no quarto, com os olhos como se enxergasse o futuro. Olhos sonhadores e coração alegre.

— A gente pode ir a praia... Podemos levar o Miguel para o shopping brincar no game station. Podemos ir ao cinema!
E então...

— Cai na real, garota.
Foi a única coisa que ela ouviu. Então olhou para trás, para sua mãe que estava ali no leito.

— O... q...
Cecília, sua mãe, respirou fundo e disse:

— Se eu quisesse ficar com você, eu não teria abandonado você e seu irmão. Você nunca percebeu isso? Eu não quero vocês dois! Vocês não são meus filhos. Eu não sou mãe.

— Mas... – chegou mais perto dela e segurou sua mão – eu esperei tanto pela senhora, mãe. Eu... Senti tanto a sua falta – baixou a cabeça e fechou o olhos. A única coisa que sentiu foi a mão dela sendo puxada da sua de forma brusca.

— Seu pai... Ele... – olhou para ela.
Anna levantou a cabeça e Cecília pôde enxergar seus olhos cheio de dor. Aqueles olhos cheios de lágrimas que ela tinha visto poucas vezes quando bebê. O bebê tão pequeno e recém nascido que ela segurou se tornara uma linda mulher.

— Seu pai é um homem bom. Eu nunca soube valorizar o seu valor. – engoliu em seco – eu sempre quis mais. Sempre quis mais dinheiro, mais joias, mais roupas, sapatos... Ele não podia me dar tudo isso. A única coisa que me deu foi você e seu irmão. Mas vocês não me davam lucro nenhum. Pelo contrário, apenas arrumei algumas celulites e estrias. Dores de cabeça e na coluna. Então, quando você ainda era pequena, eu conheci um cara. Ele me conquistou ao me prometer muitas riquezas. E eu saí de casa.

— Deve ser por isso que mal lembro de você.
“Você”, Cecília reparou a mudança de pronome. Continuou:

—Sim. Mas eu voltei. Seu pai, como todo apaixonado, foi atrás de mim. Eu nunca entendi o que ele viu em mim. Sei que sou bonita, mas somos totalmente diferentes de mente. E eu voltei. Engravidei de novo. E não tive dúvidas que o Miguel era dele. Mas aí, já não pude mais aguentar. O dinheiro era contado e... Aquilo não era pra mim. Então eu saí de novo e disse para que ele não corresse atrás de mim.

— Você não gosta mesmo da gente?

— Eu não nasci pra ser mãe, Anna. Eu tenho alma livre. Não posso me prender a nada. É contra a minha natureza.

— Nossa – se levantou. – eu espero nunca conhecer alguém desprezível como você.
Cecília sorriu. Aliviada.
Anna pegou a bolsa e botou no ombro.

— Já entendi que não quer receber visitas. Não precisa se preocupar. Não irei.
Quando ela abriu a porta do quarto, sua mãe disse:

— Por quê você não gosta do Alex?
Anna parou.

— Eu ia te dar pra doação ou jogar no orfanato. Sabia que um homem não saberia cuidar bem de duas crianças. Mas ele não permitiu.

— Ele soube cuidar de mim – disse de costas – eu não perdoava ele por você ter ido embora. Mas sabe de uma coisa? – olhou pra ela poder cima do ombro – só agora eu soube que essa foi a melhor coisa que você poderia ter feito.

Abriu a porta e olhou de relance.

— Obrigada – disse. – e não precisa vir atrás de mim quando estiver morrendo. Eu lhe perdoo.
E saiu.

Hoje Anna saiu daquele hospital com outros olhos. Cheios de lágrimas sim, mas também, cheio de arrendamento. Pegou logo o carro e dirigiu para casa. A mente ia longe. O pensamento estava embaralhado. Então lembrou-se que ainda era cedo. Seu pai não estava em casa. Dirigiu até o trabalho dele.
Seu pai havia se tornado um médico muito competente. Mas isso, sua mãe nunca soube. E, para ela, não tem mais diferença.
Estacionou o carro no estacionamento do hospital e assim que entrou, perguntou a moça da recepção aonde estava o Doutor Alex.

— Ele está numa consulta agora, moça. Posso ajudá-la?

— Sim, eu sou a filha dele. Preciso urgentemente falar com...

— Você é a Anna? – a recepcionista disse. Ela era negra, vestindo uma roupa branca de gola azul claro, farda do hospital. Seu cabelo era alisado, mas estava preso em um coque. E ela era charmosa.

— Sim... Nos conhecemos?

— Olha, Verônica. Essa é a filha do Alex! – disse para a outra mulher que estava anotando algo numa prancheta. Ela se aproximou sorrindo.

— Você é mais bonita do que seu pai costuma falar.

Anna sentiu um nó na garganta.

— Ele fala... De mim?

— Ô menina – gargalhou – o tempo todo! Eu quase sei seu CPF – sorriu.
Verônica, a de trás, disse:

— Seu pai te ama muito. Quem dera eu tivesse um pai assim. O meu me abandonou... Nunca nem vi o homem.

— Eu... Ele... – ela estava sem saber o que dizer, mas sorria. As lágrimas escorriam em seu rosto.
Viu uma porta se abrir e uma moça sair de lá de dentro. Seu pai saiu logo atrás, distraído com o botão do jaleco, veio em direção a recepção com a intenção de pedir um cafezinho.
Anna não se aguentou.

— Pai!

Correu e deu um abraço nele. As lágrimas escorrendo e seu pai, finalmente soube reagir ao abraço que nunca recebera.

— Me perdoa? – soluçou – eu sou uma idiota! Me perdoa por não te amar como deveria!
Seu pai, que não era durão, chorava enquanto passava os dedos por seu cabelo.

— É claro, minha princesa. Você não sabe quanto tempo esperei para ouvir você dizer isso.

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