[N.A.] SIM, ISSO É ATT!
Antes que me xinguem de novo.
Bem, é atípico mesmo. Mas agradeçam ao grupo unholers, as melhores garotas com quem eu já podia ter conversando. Sempre me apoiando, surtando e exigindo att. Elas me motivaram a postar hoje. As ideias brotaram e eu só fui guiando meus dedos através do teclado. Carolis, Helenas, Gabby. Cass, divamente diva. Ana, Bia, Dafne, Shy Gabear, linda. Gi, Ju Almeida (te salvei assim, não me culpe :D), Jo, Julias. Lari linda, Sarah. Maria Clara, Ana, e tantas outras que ainda não salvei e não aparece os nomes. Cada um tem um espaço especial no meu coração, mesmo que ainda não mencionadas aqui. Agradeçam totalmente a eles por essa att fora de tempo. Me esforcei mais que tudo para postar hoje, por elas.
E a Cris, claro. A garota mais criativa que eu já conheci, e que me deu uma ideia fantástica para a fic. O Chris é todo seu, linda.
Não vai ser sempre, mas vou tentar ALGUMAS VEZES postar duas vezes por semana. Nunca, sequer pensei que atingiria tantas leitoras dedicadas, que esperam por cada capítulo. Mais velhas, mais novas, de todos os estados. Só tenho a agradecer a cada uma. Sem vocês, nada disso seria possível.
Mas, chega de enrolação. Tenho certeza que tem gente surtando agora. Haha, adoro.
Esse capítulo é particularmente capcioso. Sofrido, sim. Dramático. Muita informação para poucas páginas, mas eu JURO que no próximo vou esclarecer tudo que ficou no ar, inclusive as novidades. Tenham paciência, acima de tudo. Tentei muito, muito mesmo transpassar os sentimentos do Louis, mas não é algo instantâneo. Tentem se imaginar na situação dele. Mais para frente eu deixaria tudo claro, mas agora, é bem lento, tudo bem? Espero que entendam. A passagem do tempo foi necessária, vou esclarecer tudo, prometo. Obrigada por cada comentário no wpp. É muito importante para mim, de verdade. Não há como agradecer mais.
Meu wpp: +55 14 98138-4640
Wpp da administradora do grupo de unholers, Carolis: +55 31 9389-2424
Só falamos merda sem nunca descansar.
De qualquer maneira, obrigada. Por tudo.
Nos vemos sexta, se ainda quiser ler ou estiver vivo.
Love u all, really love
P.S.: Eu odeio a escola. Ou não. Mas me cansa e me desgasta. Pois é. [/N.A.]
3º. P.O.V.
July, 2014.
4 months later.
O verão tinha chegado. Tão forte e presente que o sol do lado de fora era quase cegante. A brisa tão suave da primavera fora embora, e com ela, levara toda a esperança de uma estação fresca e das pessoas que seguiam suas vidas, usando roupas leves e caminhando pela calçada. E nenhuma delas sequer sabia. Estavam alheias a tudo e todos, vivendo conforme o vento levava, um dia de cada vez. Escutando a música da moda, vestindo a roupa mais usada, falando as gírias mais faladas, comentando das notícias mais quentes, imitando a todos. Vivendo suas vidas. E nenhuma delas sequer fazia ideia.
O Doncaster Royal Infirmary funcionava a muitos anos, e depois de tantas brigas sem fundamentos na Prefeitura, conseguiram uma reforma geral, com direito a novas ambulâncias, macas e um andar superior, para acidentes graves e cirurgias. Contratava enfermeiras concursadas e aprovadas pela Fundação de Doncaster and Bassetlaw Hospitals, uma parceria harmoniosa entre as metrópoles, que desejavam expandir a área de atendimento a prontos-socorros e emergências. Tudo corria bem.
Tinha médicos especializados. Enfermeiras dedicadas. Medicamentos a pronta entrega e que realmente geravam resultado. Máquinas avançadas para exames minuciosamente exatos. Um verdadeiro centro de pesquisas renomado e respeitado, a procura de curas para as doenças mais graves, como Aids e Câncer. Mas, nem todos esses atributos foram capazes de fazer com que Louis acordasse do coma.
Até aquele momento.
O garoto piscou os olhos lentamente e os abriu. A primeira sensação que teve fora de que haviam lhe jogado a frente de um caminhão que transportava gasolina. O caminhão explodiu e o queimou lentamente, ardendo todos os seus ossos. Depois, pegaram-no, congelaram seus restos e quebraram com um taco de beisebol. Entretanto, estava vivo. Respirava com dificuldade, sem uma máscara tampando seu nariz, mas haviam intravenosas por toda a sua extensão dorsal, passando alguns líquidos transparentes e um fluído vermelho-sangue, que ele já sabia bem o que era. Sentiu-se enjoado.
Não conseguia se mover muito bem. Cada virada de seu pescoço doía, e a luz que passava por sua córnea queimava como o inferno. Ele piscou repetidas vezes, não conseguindo levantar os braços para coçar os olhos. Estava deitado, coberto até a cintura com múltiplos panos, mas, ainda assim, sentia frio. Seu peito não estava desnudo apenas por uma fina camiseta branca, aparentemente de hospital, mas sentia que usava apenas uma cueca nas partes debaixo. Seu cabelo parecia muito grande, caindo por seus olhos, o fazendo enxergar nada mais de vários fios acastanhados e sem vida. Começou a mexer a ponta dos dedos, sentindo o movimento formigar, e passou para os pés. Estava vivo, e se movendo. Perguntou-se quanto tempo havia passado. Não encontrava sua voz em lugar algum de sua garganta, e parecia faminto, como se não comece há anos. Piscou mais algumas vezes e conseguiu soprar os fios para o lado. Avistou onde estava.
A cama era confortavelmente dura, curvada levemente para a diagonal, e múltiplos aparelhos ligados a ele apitavam ao seu lado. Seu coração batia ritmicamente, embora lento demais para seu gosto. O quarto era grande, como um quarto de hotel, mas sem frigobares ou TVs. Bem, apenas uma, no alto. Pequena, imponente, ligada no noticiário local. Não que precisasse da previsão do tempo para saber que era verão. O sol lhe cegava dali, e o ar estava mais seco que de costume.
Tornou a olhar em volta, mas seu pescoço estalou e doeu. Avistou apenas outra cama ao lado da sua, com um espaço significativo e um cortinado aberto. Havia um homem ali, deitado, dormindo. Ou em coma, não sabia. Havia aparelhos e uma mesa com bandagens. Vasilhas de prata estavam por perto, e Louis avistou uma bala solitário mergulhada em uma água suja de vermelho. Sentiu-se enjoado novamente. Sentiu pena do homem ao seu lado. Parecia que havia sido baleado, e tinha acabado de fazer uma cirurgia. Nem sabia se ele estava vivo.
Havia uma janela com cortinas abertas. E tudo estava calmo demais. Tentou se sentar, mas então, foi acometido por uma dor alucinante e tornou a se deitar, arfando. Sua perna. Suas pernas. Não conseguia movê-las, nem por um segundo, nem por um milímetro. Sabia que não estava paraplégico, uma vez que sentia a dor. A dor era uma aliada. A dor sempre indica que estamos vivos. Mas, Deus, como doía! Multiplicado por mil a dor que sentiu ao acordar. Não se lembrava muito do que acontecera. Liam e ele haviam brigado. Engoliu em seco, já sentindo o coração apertar. Ele ligou para Harry desesperadamente. Chegou ao apartamento. Pegou a cinta. A colocou. E então, vazio, escuro.
Assustou-se, de repente, com um espasmo e um soluço. Procurou pelo som, mas não teve tempo de reagir. Foi cercado por um corpo, longo e esguio, que tremia muito. Soluços passavam por todo ele, e sentia as lágrimas quentes contra seu pescoço. Suas mãos passavam por seu rosto e seu cabelo, e ele chorava alto. Um mar de fios loiros enterrou seus olhos, e Niall parecia desesperado. Tentou gritar, ou retornar o abraço, mas sentia-se fraco e dependente. Arrancou sua voz de algum lugar no fundo.
– Ni-niall... – foi um sussurro miseravelmente baixo, e sua voz estava mais rouca do que nunca. Como se não fosse usada por meses. Pigarreou, mas aquilo fez sua garganta doer. O garoto se afastou, seu rosto avermelhado e coberto por lágrimas.
– A-ai me-meu De-deus, me-me de-desculpe, a-aqui... – ele disse entrecortadamente, empurrando um grande copo lacrado de água em sua garganta, e Louis foi obrigado a engolir. Mas a sensação foi quase divina. Sentiu o corpo todo revigorar e sua garganta parar de raspar. Respirou fundo, sentindo-se um tanto melhor. Conseguiu virar-se para o amigo, que estava jogado sobre seu colo, chorando como uma criança. Conseguiu erguer os dedos e tocar seu braço, acariciando leve. O loiro o fitou, os olhos inchados.
Niall parecia quase pior que ele. O cabelo desgrenhado, os olhos inchados, a boca pálida e a pele mais ainda. Grandes bolsas arroxeadas sobre seus olhos azuis, outrora tão brilhantes, agora com veias avermelhadas e sem vida. Suas roupas estava meio amassadas e ele tremia e soluçava muito.
– Está tudo bem, Niall... – Louis murmurou, fraco, mas já conseguindo se fazer ouvir. Niall desabou em novas lágrimas, apertando Louis com delicadeza, murmurando palavras desconexas. Foram longos cinco minutos para que ele se acalmasse.
– Me desculpe, Lou... – fungou, limpando-se com a manga e sentando na borda da cama, parecendo odiosamente culpado – Por tudo.
– O que aconteceu? – forçou-se a perguntar, engolindo em seco. Tinha uma leve ideia, mas apenas a mínima menção fazia seus lábios tremelicarem.
– Você não se lembra de nada?! – Louis balançou a cabeça de um lado a outro, negando. Já se sentia melhor, mais acordado. Seus membros respondiam seus movimentos sem estralar – Oh, meu Deus, Louis! Foi horrível! – Niall desabou novamente.
O garoto se assustou. O que teria sido tão horrível assim? O que tinha acontecido no apartamento que ele não se lembrava? E Harry? Onde ele estaria? Já teria voltado? Estava bem? Muitas perguntas para poucas respostas. Sua cabeça começou a rodar, mas ele se manteve firme. Niall bebeu um gole de algo de tinha na mão e respirou fundo, se contendo. Ainda assim, seu lábio inferior tremia compulsivamente, e ele parecia prestes a cair no choro em qualquer instante.
– Me desculpe, é que... – respirou fundo, pegando nas mãos do mais velho. Ele estremeceu com o toque quente. Tudo nele parecia gelado como um cadáver – Foram longos quatro meses. – suspirou.
– Quatro meses?! – teria sido um berro espantado, mas Louis ainda não encontrara toda sua voz, então saiu como um sussurro sôfrego e arrastado. Niall assentiu, fungando alto. O garoto conseguiu se sentar, e ele o ajudou a se acomodar nos travesseiros. Olhou em volta sem doer nada. O piso era esmaltado e as paredes, rebocadas e brancas. A cama ao seu lado tinha um homem dormindo, com o rosto virado para o outro lado, touca no cabelo e blusas de manga. Irreconhecível, infelizmente.
– O médico avisou que você poderia acordar a qualquer momento. – fungou alto novamente, parecendo quase aliviado – Foram dias difíceis. Principalmente as primeiras semanas. Não me deixaram vê-lo, e eu tive que tirar licença no trabalho. Avisei sua patroa que você tinha sofrido um acidente e ela ficou assustada. Disse que rezaria por você, e que eu podia contar com ela para ajudar. Uma garota loira quase teve um ataque. – Louis franziu (ou tentou) a sobrancelha. Fizzy tendo um ataque? Não parecia provável, ou possível – Mas não deixaram ninguém vê-lo. A operação foi arriscada, e você perdeu muito sangue. Quase quatro litros. – fungou novamente, limpando o canto dos olhos. Louis engoliu em seco, com medo. Retribuiu o aperto de mão do amigo, que o acariciou com o polegar distraidamente – Ninguém achou que fosse sobreviver. Fizeram múltiplas transfusões. Seu sangue é do tipo muito raro, o AB-. Graças a Deus recebe de todos os outros tipos. – o loiro mordiscou o lábio superior – Você não reagiu a nenhum incentivo dos médicos, então decretaram estado de coma induzido, por conta dos remédios. Você não acordava, e eu ficava cada vez mais desesperado. – lágrimas brotaram e caíram novamente – Desculpe-me, Louis. Nunca mais faça isso novamente, me prometa, por favor! – implorou, e o garoto se sentiu tão culpado quanto podia. Suas bochechas esquentaram quase como corar. Ele baixou os olhos.
– Niall, o que aconteceu? – o Horan entendeu a pergunta. Puxou uma cadeira dobrável e recostou, sem soltar a mão do amigo.
– Encontrei você algumas horas depois. – sua voz era baixa e sussurrada. Parecia com dor em relembrar. Louis foi acometido por algumas lembranças, já flutuando na semiconsciência – Eu e Liam tivemos a pior briga de todas. Eu... sai do apartamento. – mordeu os lábios, e Louis sentiu que podia chorar naquele momento. A culpa era tão grande que o esmagava, quase como a dor que sentiu naquele dia – Aluguei um quarto em um hotel qualquer e fui te procurar. Não estava em lugar algum que eu podia imaginar, então, supus que estava no apartamento de Harry. Procurei o endereço com alguns amigos. Quando cheguei lá, perguntei o número e o porteiro me deixou subir. Eu estava desesperado, com ódio de Liam e suas ideias estupidamente primitivas. – bufou, expressando raiva pela primeira vez que entrara – E então, quando eu entrei... – engoliu em seco, seus olhos perdendo toda a energia de segundos atrás, voltando a se encher de lágrimas. Parecia fazer muito aquilo. Louis apertou seus dedos, já sabendo o que viria a seguir, e sentiu vergonha – Lou, foi horrível. E-eu nunca vou conseguir esquecer a cena. – Louis fitou o rosto do amigo implorando para que voltasse ao coma. Ver Niall sofrendo, chorando, aterrorizado e traumatizado, era mil vezes pior que qualquer cilício preso a sua pele – Você estava no chão, no meio da sala, nu. Toda sua pele estava branca, e... e uma poça de sangue no chão. – soluçou, fechando os olhos, como se revivesse cada momento – Suas pernas estavam roxas, um roxo doentio. Eu gritei seu nome, e liguei para a emergência. Você nem ao menos me respondeu. Seu celular estava do seu lado, com muitas ligações de Zayn. – Louis sentiu a cabeça rodar com as informações – Eles o levaram as pressas, o cobrindo e imobilizando para não causar nenhum choque a coluna. Estava tudo sujo, e preso. Aquela cinta ho-horrível presa ao seu corpo, funda. – soluçou, voltando a chorar. Louis nem sequer reagiu.
A medida que Niall contava, imagens iam invadindo sua mente, uma após a outra, como tapas bem-dados em sua face. A dor, o alívio. Os espinhos penetrando cada película, cada barreira, afundando na carne macia, no músculo relaxado. Ele a apertara o quanto pode, quase dando suas voltas com a fivela, e não sentia dor. Apenas alívio. Paz. Sentiu seus pecados se expirando, a vergonha de amar Harry esvaindo com sua consciência. Se deitou, rezando baixinho, e agradecendo a seu Deus por ser um Deus tão bondoso e compreensivo.
E então ele quis chorar.
– Desculpe. – Niall tornou a falar, limpando as lágrimas – Eles te trouxeram pra cá, e começaram uma cirurgia de emergência. Tinha que repor todo o sangue perdido. Tentaram desprender a fivela, mas estava apertada demais. Chegou a perfurar alguns ossos, e tiveram que abrir e fazer outra cirurgia, para retirar. O metal danificou e alterou a substância dos glóbulos vermelhos daquela região, lhe deixando debilitado. Você perdeu cada vez mais sangue, foi quando teve a hemorragia. – Louis engoliu em seco. Em sua mente, apenas dormia, embalado pelos braços desconhecidos de um alguém que sussurrava em seu ouvido músicas de ninar, melodias suaves – Eles te doparam e pegaram quase todo um estoque compatível. Foram nove semanas apenas repondo sangue. Depois, era só esperar você acordar. Mas você não acordou. – Niall balançou a cabeça, abrindo os olhos e eu encarando. Sua expressão era misteriosa. Ora alívio, ora raiva, ora desapontamento, ora felicidade. Tudo misturado em uma única máscara sem emoção, que não combinava com os olhos arregalados e inchados – Tiveram que começar a introduzir alimentos pela veio para que você não morresse por anemia ou falta de nutrientes. Seu corpo precisava de proteínas para produzir glóbulos e anticorpos novamente, e eles foram levando. Você teve uma melhora considerável, mas não acordava. Sua perna se recuperava mais lentamente que o habitual, pela falta de alimentos, e consequentemente, o organismo e metabolismo lentos. O médico avisou que você poderia acordar a qualquer instante, semana passada. Eu esperei. Vim te visitar todos os dias. Zayn e a garota loira também vieram. – sorriu torto pela primeira vez, e Louis sentiu o peito doer de gratidão e amor por Niall. Ele nunca seria capaz de agradecer o suficiente ou compensar tudo.
– Foi, é? – tentou sorrir, mas saiu algo como uma careta. Engoliu em seco, precisando perguntar – E-e Liam? – Niall bufou, parecendo subitamente cansado. Sabia que estava sendo ridículo, sabia que iria se magoar com aquilo. Mas eles eram irmãos. Os três. Viveram nas ruas, compartilhando da mesma história, da mesma infância. Acabaria tudo apenas com um machismo por parte do garoto? Seu preconceito ultrapassado quase doentio?
– Ele tentou vir te ver. – sussurrou – Quando eu estava dormindo. A enfermeira me disse que ele parou do lado de fora do vidro, ficou dez minutos e foi embora. Só permitiram a minha entrada e a de Zayn, porque insisti muito.
– Zayn? Por que dele? – Louis perguntou, sentindo-se pela primeira vez confuso. Zayn não era um de seus melhores amigos, como Niall. Por que estaria tão interessada em vê-lo naqueles meses? Algo não se encaixava.
E então a expressão de Niall mudou. Parecia quase em sofrimento, culpada, hesitante. Mordeu os lábios, ficando em silêncio pela primeira vez desde que entrara. E Louis estranhou. Na máquina que apitava, seu coração bateu uma falha a mais.
Algo em seu peito doía, perfurava, além da culpa, da vergonha e do arrependimento. Como uma intuição, um sexto sentido feminino. Dizia-lhe que algo acontecera, algo grave, que Niall cuidadosamente e coincidentemente esquecera de mencionar. Algo que sua expressão entregara.
Ele olhou em volta, sentindo-se mais disposto. O homem continuava a dormir. Ele parecia tão familiar... Louis estranhou. Olhou em volta. Aquele quarto não parecia o de descanso. As máquinas, os aparelhos, os instrumentos. Era quase como um quarto pós-cirúrgico. Ao lado do homem, a bala retirada permanecia intacta mergulhada em álcool, e Louis estava em coma, na UTI. Uma ala não-permitida para amigos, apenas parentes e família íntima. Naquele estranho e temido quebra-cabeças, alguma coisa não se encaixava.
E Harry? Onde estaria? Se Zayn havia voltado, ele também! Por que Niall não lhe dissera que ele o havia visitado também? Onde estaria? Estaria muito decepcionado que não suportara ir vê-lo ali, ou apenas ocupado em outro lugar? Havia vindo junto com Zayn? A máquina acelerou a transmissão dos bips, e Niall o olhou assustado e atento a cada movimento. Engoliu em seco, o canto dos olhos transbordando novamente.
– Oh, Lou... – murmurou, se jogando em sua barriga. Os soluços voltaram, mais leves, e ele sentia tremer. Levantou suas mãos até o cabelo de Niall, acariciando levemente. O loiro se levantou, agradecendo e tomando seus dedos – Me desculpe, me desculpe... – gemeu várias vezes, os olhos culpados. Louis se assustava cada vez mais.
– Niall, o que aconteceu? – sua voz tentou se fazer firme. Ele precisava saber onde estava Harry. Niall abriu a boca para responder.
– Lou, ele sofreu... – parou no meio com o abrir da porta. O coração de Louis já batia desenfreadamente. Sua mente, tão sempre imaginativa, criava finais para aquela frase, e cada uma era pior que a outra. Sentiu o peito se apertar tão forte que parou de respirar. Largou o aperto de Niall, se forças. O garoto lhe fitou, angustiado.
Louis se forçou a virar para o lado, para ver quem entrara. A porta ainda aberta exibia, do lado de fora, um cartaz com PROIBIDA A ENTRADA SEM AUTORIZAÇÃO. Mais uma peça que não se encaixava. Dela, entravam dois homens. Zayn, e um moreno estranho.
Louis esqueceu por um instante da sua aflição para se permitir ficar confuso. Aquele estranho era lindo (não tanto quanto Harry, mas convenhamos). Louis engoliu em seco, olhando detalhadamente, analisando. O que mais chamava a atenção, no começo, era sua altura e estatura. Ele era alto, algo em torno do 1,80, e truculento. Braços grandes, ombros largos e bombados. Algo próximo de um surfista. Mesmo aparentando o corpo de um viking, ele era muito gracioso. Seu cabelo era grande e ondulado, caindo em ondas por seu ombro, em um negro tão brilhante como um céu escuro sem estrelas. Seus olhos eram esverdeados, mas não como o verde-esmeralda de Harry. Era algo claro, quase como um azulado. Usava uma camiseta preta apertada, que definia todos os seus músculos, e uma calça jeans caída. Um casaco jogado por cima, dobrado até o cotovelo. Ele trazia dois copos de café, e se aproximou de Niall, dando-lhe um beijo no alto da testa, e Louis conseguiu franzir a testa e erguer uma sobrancelha. O Horan se esqueceu que estava desesperadamente aliviado e triste para corar e pegar um dos copos, deixando o seu no chão. O estranho fitou Louis surpreso, e abriu um belo sorriso. Havia um piercing no canto inferior esquerdo, e de seu peitoral se via três pontas, que poderia ser estrelas. O antebraço era fechado por belas tatuagens pretas e brancas. O Tomlinson sentiu falta de Harry.
– Que bom que acordou, Louis. – sua voz era suave e firme. Sentou-se ao lado de Niall, que entrelaçou suas mãos. Louis ergueu a outra sobrancelha, completamente atônito – Sou Christian Burton. Mas me chame de Chris. – tirariam aquela história a limpo depois. Seu coração vacilou mais uma vez e ele fitou Zayn, do outro lado do quarto.
O garoto usava sua tão típica jaqueta de couro. A nostalgia encheu Louis. Um cigarro dependurado nos lábios jazia apagado, por não ser permitido fumar nas dependências do hospital. Uma calça preta e uma sacola que pareciam trazer roupas. Quando se olharam, o azul conectou no castanho, e Zayn sorriu, quase rasgando seu rosto, aliviado. O cigarro caiu. Seus olhos tinham um novo brilho.
– É um alívio te ver acordado, dude. – Zayn disse, deixando a sacola na poltrona e indo até perto do trio – E ai, Chris. – cumprimentou como velhos colegas, e o estranho Chris correspondeu, sério. Parecia ser do tipo de Zayn. Do tipo encrenca – Já contou a ele, Niall? – o loiro suspirou, balançando a cabeça de um lado a outro. Zayn franziu os lábios e Louis sentiu a cabeça girar novamente. Iria mesmo vomitar a qualquer momento.
– Ia contar agora. – murmurou.
– Contar o que? Pessoal? – o mais velho se vez presente, a voz subindo duas oitavas. Considerando o estado em que estava, aquilo era tão fino quanto um pardal. Zayn suspirou, recostando na poltrona.
– Harry foi baleado. – pronunciou tão calmamente que Louis achou que fosse uma brincadeira. Niall exclamou um 'ZAYN!' assustado e Chris parecia dividido entre rolar os olhos e prender o riso. Depois de cinco segundos, ninguém negou.
E o mundo de Louis caiu.
Era como se cada som existente, sua respiração, as batidas de seu coração, as máquinas ligadas, tudo tivesse desaparecido. Era um eco infinito, que ecoava em seu ouvido, tão silenciosamente alto que enlouquecida. As palavras era como facas de dois gumos, cortando o horizonte. Cortando-o em múltiplos pedaços, que foram espalhados ao vento. Estava tão absorto em seu próprio universo que não restava espaço para surtar. As mínimas possibilidades de Harry ter se machucado já eram mais que o suficiente para o fazer querer morrer, lenta e dolorosamente. Seria torturado, se preciso. Mas imaginar Harry sofrendo, se ferindo, nunca.
Era impossível. Não, era uma brincadeira de Zayn, mesmo que o garoto moreno parecesse do tipo que não brincava com aquele tipo de coisa. Mesmo tentando negar, como um choque que sua mente se esforçava a esquecer, as peças do quebra-cabeça voltavam a se formar. E tudo fazia sentido. Absolutamente tudo, cada detalhe. Com um choque, lentamente, tal como a menina do filme, ele virou um grau de cada vez, até o lado. A bala embebida em álcool. A cama ao seu lado. O quarto de cirurgias. O homem dormindo.
Não. Não, não, não, não, não.
Mas a familiaridade era incrível. O tamanho. O jeito que dormir. O peito largo que subia e descia. Aquela toca, ele já a vira em algum lugar, em algum momento. Zayn e a sacola de roupas.
Ele não achava que também era possível, considerando a quantidade de sais e líquidos que retinha em seu corpo naquele momento, mas seus olhos começaram a umedecer. Não tardou para as lágrimas escorrerem. Todos lhe encaravam, angustiados. Zayn parecia sofrer mais que todos. Chris o olhava com pena e Niall parecia a beira de um colapso.
– Harry?... – murmurou. A máquina apitava freneticamente, mesmo que ele não sentisse o coração bater, naquela altura. Ainda iria acordar, ver que tudo era um sonho. Uma brincadeira de péssimo gosto. Mas tudo que ouvia era o som de seu próprio silêncio.
– Louis, procure se controlar se quiser saber o que aconteceu. Ele. Está. Bem. Não me faça chamar os médicos. – Zayn tinha um estranho poder calmante. Louis assentiu, sentindo o peito doer ao soluçar, mas ficou em silêncio. Tremia incontrolavelmente – Tudo bem?
– S-sim. – gaguejou, nem se dando o trabalho de limpar as lágrimas que caíam. Não sabia porque não estava surtando, chorando, berrando. Talvez a dor. Talvez a culpa, a saudade. Talvez a incredulidade. Talvez o seu silêncio ensurdecedor.
– Pois bem. Nós fomos para o Peru. – Zayn começou a contar, cruzando as pernas e suspirando, massageando as têmporas. Louis o fitou, ainda mais atônito. Niall parecia apenas cansado, e Chris, indiferente, puxando um cigarro do bolso e acendendo, parecendo não ligar para as regras. Louis sequer notou – Estávamos cumprindo uma missão. Um favor para o nosso amigo. Ele estava correndo perigo e Harry queria ajudar a acabar com os caras que o ameaçavam. – algo com um restante de sanidade no interior de Louis pensou 'É a cara de Harry' – Foi tudo bem. Tinha um plano. Ele não podia falar com você, é claro. Eu o proibi. Os caras podiam te rastrear, e te usar para atingir Harry. Não queria você envolvido em tudo isso. Ele parecia o demônio, claro. Seu bom humor era quase tão grande quanto sua paciência. – soltou uma risadinha, e Louis derreteu-se em amor e compreensão. Das tantas vezes que pensou estar atrapalhando, que Harry não o queria mais, e ele somente o estava protegendo. Como havia sido ingênuo! – Havíamos terminado o serviço perfeitamente, e ele tinha um amigo com helicóptero. Queria vir direto para cá. Antes de subir, ele pegou o celular e ouviu o que parecia ser uma ligação sua. – Louis prendeu a respiração, sentindo-se queimar lentamente – Um dos caras não estava morto. Pegou uma arma e atirou contra ele. Atingiu seu estômago, mais precisamente. Por dois milímetros que não entra direto na costela. Teria sido um estrago feio. Irreparável. – fora o estômago de Louis que se revirou ao imaginar a cena, tão detalhadamente que chegava a ser doentio. O sangue espirrando. A borboleta. Seu rosto inexpressivo, talvez angustiado pela mensagem de Louis. Tudo se reproduzindo em um tape acelerado em sua mente. – Eu o trouxe diretamente para cá. Ele fez a cirurgia. Foram algumas semanas para encontrar o local, abrir, retirar, costurar. Foi preciso muita morfina para fazê-lo parar de resmungar de dor. – mais uma risadinha, acompanhado de Chris. Niall suspirou. Louis apenas assentiu, mal ouvindo as palavras de Zayn. Viajava em um universo paralelo, digerindo tudo aqui. A máquina aumentava os bips e diminuiu inconstantemente – Ele exigiu ficar no seu quarto. Não disse uma palavra para ninguém sobre você. Aparentemente, uma das fofoqueiras desse hospital lhe disseram o que aconteceu, por cima. Ele permaneceu impassível, esperando você acordar. Apenas dormia, comia e tomava medicamentos para a dor. Ele é forte. É o meu garotão. – Zayn sorriu, mesmo que os olhos tivessem um brilho de desaprovação.
Louis borbulhava em emoções, uma sobresselando a outra, mais forte que a outra. Era um mar, e estava se afogando nele mesmo. Não encontrava o ar para respirar. Queria morrer. Harry estava ali, do seu lado. Tão perto, mas tão distante. Dormindo. Calmo, sereno. Louis sentia a vergonha jorrar de cada célula que tinha. Seu coração era um ritmo inconstante de emoções. Afundou em seu próprio universo, se perguntando se, algum dia, Harry Styles já fora real naquele mundo.
Arrependimento. Culpa. Tristeza. Alegria. Alívio.
Não sabia mais o que sentir. Não sabia mais o que dizer. Sentia os três pares de olhos lhe fitarem, atentos, e os ruídos ecoavam longe. Sua mente gritava HARRY para todos os lados. Seus olhos verdes, tão lindos e vivos, se projetavam a sua frente com uma força esmagadora. Para todos os lados. Em todas as partes. Quando como se ele estivesse ali, de pé, sorrindo ironicamente para o garoto. Dando seu sorriso. Como se lembrava dele, há tanto tempo atrás. Parecia com milênios. A dor era igual.
E então, no silêncio rouco, a voz se fez ouvir. Clara, rouquejada, firme:
– Louis?
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Unholy (Larry Stylinson AU Religious!Louis)
Romance“Desde criança, aprendi que não existe compaixão. Não existe esperança, não existe o perdão. O que é meio irônico, considerando o que me tornei hoje. Mas, logo cedo, fui criado em um ambiente cheio de terror, medo e descrença. Nunca conheci meus pai...