[N.A.] A Shy Gabear, por ser uma garota tão especial e maravilhosa. Não sei o que seria da minha vida sem a sua presença – mesmo que virtual. Obrigada, gata, por ser quem você é. Lembre-se que o mundo lhe pertence.
A Jo, por ter a voz mais sensual de todas. Garota, você alegra meus dias, como todas as outras. Acho que eu lhe devia um agradecimento formal. Obrigada.
Bem, adivinhem que está boazinha hoje? EXATAMENTE, EU!
Na verdade, nem tanto. Tomei uma decisão boa – para vocês, pelo menos: tentarei postar duas vezes por semana! ÊÊ (frisem o tentarei, para não haver futuras decepções. Eu escrevo fanfic gay, como alguém pode ter expectativas sobre mim?).
Eu nunca pensei que a fic alcançaria essas proporções, é magnífico jogar no search e ver os leogios, os surtos, os comentários. Cada um que vem me chamar no wpp – até fui chamada de tia de Unholy, pensem! Eu morri com esse, sério – é como uma parte do meu coração que incha para amar ainda mais meus leitores. Só tenho a oferecer o meu muito obrigada e um capítulo bom o suficiente para que supere suas expectativas.
Enfim. Enrolei aqui.
Eu estou muito, muito mesmo. Acordo as 4:30, muitos dias chego só as 19hrs, é uma coisa de louco. Mas, eu sei que vocês merecem, então, me esforçarei para dar mais atts. O meu prazo ainda será sexta, se a semana estiver muito louca, já saberão que sexta é o dia D. Mas, um capítulo sexta, outro quarto, quinta e domingo, e assim vai. Espero que gostem. Tentarei ao máximo, de verdade, por vocês.
Tirando os elogios, dedicações e essas coisas, vamos aos recados. Nenhum, sim, eu sei, eu sou retardada. O HARRY CHORANDO EM YOU AND I OLHANDO PARA O LOU FOI O ÁPICE PARA MIM, EU COMECEI A CHORAR NO MEIO DA SALA, ISSO É INACEITÁVEL. Depois dessa, qualquer pessoa que se recusar a ver larry merece o que vai acontecer nesse capítulo – hoho. Btw, amo dramas. A essa altura, devem saber disso.
Só lembrando que desde o começo, o meu objetivo não era fluffy. Haveriam sim, algumas partes bonitinhas, mas eu queria me focar nos sentimentos, na vida real, e todos sabemos que a vida só nos fode. Então, as coisas SEMPRE irão contra o Harry e o Lou. Quando tudo estiver bem, estranhem. Tentem entender todos os lados antes de julgarem, por favor, mesmo eu prevendo muitas pessoas felizes hoje.
Se atentem aos detalhes. Como eu disse, meu objetivo não era a fofura, o romance, o jeito que eu criei o Harry revela exatamente isso, essa parte mais 'grossa' e 'tô nem ai' dele. Prestem muita atenção em cada parágrafo desse capítulo, as coisas acontecerão muito rapidamente. Qualquer bobeira e perderão coisas importantes. Ou surtos importantes. Enfim, só queria dizer que O CABELO DO HARRY TÁ PERFEITO, SE ELE OUSAR TOCAR EM UM FIO QUE SEJA OU MUDAR, EU CAPO ELE. Long hair, I don't care.
Enfim, era isso. Obrigo a vocês a lerem minhas bobagens, eu sei. Amo todas vocês. Unholers, melhor grupo. Carolis, rainha pela ideia. Não poderia querer mais.
Podem ler. Não me matem, eu imploro. Sou bipolar, logo, capítulos bipolares.
Nunca se esqueçam: I love u, all of u. [/N.A.]
3º. P.O.V.
O verão continuava quente e árido no hospital. O sol no pico chegava a causar um mormaço tão grande que as janelas embaçavam. Já melhor depois que acordara e passara a se alimentar com tipos de comida sólidas, – mesmo que horrivelmente indigeríveis – Louis aproveitou o máximo que pode a presença de seus amigos, e de Harry.
E tudo aquilo durou três dias.
No primeiro dia, o garoto amanheceu com Harry em sua cama, um tanto pequena demais para os dois, o que não foi um problema, uma vez que se encontravam tão embolados que parecia ser impossível saírem dali sem um levar o outro. O cacheado tinha as pernas postas por cima das de Louis – que ainda sentia muitas dores ao mexê-las – e um dos braços apoiando o pescoço de Louis, enquanto este o agarrava desesperadamente nos braços e na nuca, com medo de que, ao acordar, tudo não tivesse passado de um sonho bom.
Mas, ao despertar, sonolento e com uma fome estranha, Louis sorriu, sentindo o cheiro impregnado daqueles cachos invadir seu nariz. Ver Harry dormindo tranquilamente sob seu peito era uma cena extremamente angelical. O garoto era grande demais, mas, naquela posição, parecia quase frágil. Apoiado em seu peito, respirando com sincronia, erguendo e abaixando os ombros como um bebê. Se ver maior que ele, ao menos uma vez na vida – mesmo que intuitivamente – lhe fazia bem ao ego. E ao seu coração, que inflava estupidamente. Não suportou acordá-lo, fazê-lo seria praticamente um pecado. Imperdoável. Por fim, permaneceu quase uma hora acariciando o cabelo com leveza, contornando seus traços com o indicador, e o observando, acima de tudo. Sua mente era uma sopa de pensamentos. Era como se recusasse a assimilar os acontecimentos. Ficava tudo borrando, cada palavra ou diálogo escorrendo por entre os buracos. Não importava, de qualquer modo. Como podia sequer pensar em um mundo do lado de fora, quando, em seus braços, havia Harry dormindo tão calmamente, imerso em um universo de sonhos?
Parecia quase surreal. Em toda sua vida, Louis assumira muitas posições. Protegia quando precisava o fazer. Mas, no final de tudo, ele era apenas uma criança indefesa, da qual necessitava tão desesperadamente de proteção. Quando saiu ao redor do mundo, em buscar de algum pilar ao qual se apoiar, sentiu-se em paz como nunca antes. Seus pedaços, internos, jogados e espalhados pelo vento em um deserto interminável, foram se reacumulando lentamente, em um processo doloroso. Mas ainda assim, faltava algo. Tinha seus melhores amigos, sentia aquela presença que o guiava ao seu lado, mas ainda assim. Proteção. Nunca soube o que era aquilo, mas sempre a buscou incansavelmente, dando a quem precisasse, fingindo-se de forte, erguendo os ombros e inflando o peito. Internamente, diminuía gradativamente, encolhido nos cantos escuros que circundavam sua mente.
Quando conheceu Harry, foi como uma manta jogada sobre seus ombros gélidos. Aquecendo, guardado-o de todo o mal e o frio que pudessem lhe arrebatar. O garoto era tudo que sempre sonhou, em seus mais profundos devaneios, em uma vida utópica. Claro, com alguns detalhes adicionais, mas saiu tão maravilhosamente perfeito que nunca seria capaz de reproduzir igual. Harry era grande – em cada sentido literal e figurado da frase. Seus braços, seu peito, seu coração, todos feitos proporcionalmente as medidas pequenas de Louis, para acolhê-lo. E, pela primeira vez em toda sua existência, Louis sentiu-se verdadeiramente protegido.
Mas sentia que não era o suficiente. Não Harry, claro. Harry era sempre o suficiente. Mas sim ele, o próprio Louis. Se esforçava, entretanto, era como se não atingisse todas as expectativas. Ficava lhe devendo, a cada toque que não correspondia, a cada beijo que não entrosava, a cada declaração. Depois daquele episódio, no qual foi tão irremediavelmente fraco e covarde, sua dívida estava maior ainda. Naquela manhã, acariciar Harry, totalmente indefeso em seus braços, lhe deu, por um segundo apenas, a sensação de que também o protegia. Seus braços rodeando, com dificuldade, todo o ombro largo do cacheado, lhe aqueciam. Por um momento, eles eram iguais.
Mas então, a fantasia acabou. O médico entrou, trazendo uma prancheta e Zayn em seu encalço, que só faltou morrer de tanta fofura. Para o moreno, os amigos eram como o casal do ano do além-mar daquele universo. A química deles eram incrível, e a atração que os corpos exerciam era absurdamente encantável. Com sua habitual jaqueta e um cigarro dependurado (os médicos tentaram barrar, mas ele usou o velho truque da metáfora), ninguém naquele recinto imaginaria que o garoto problema pensava em unicórnios pululando em açúcar polvilhado ao ver os amigos dormindo agarrados – ou um deles e o outro apenas observando. Ainda assim.
Depois de algumas discussões – que terminaram com um Louis extremamente emburrado e um bico parcialmente gigante cobrindo seus lábios – conseguiram retirar Harry dos braços possessivos, mas, ainda assim, pequenos do Tomlinson, para fazer mais exames.
O médico – algo como Dr. Phil, extremamente clichê e bizarro – de Louis pareceu pular de felicidade ao vê-lo completamente lúcido (e fazendo birra). Segundo ele, o tempo absurdo que ficara em coma por conta de todas as cirurgias e pela perda excessiva de sangue poderia acarretar em quaisquer efeito colateral, mas terminou que o garoto estava melhor que nunca. Sua perna doía um pouco, mas nada ao extremo. De qualquer modo, todos evitaram veementemente falar sobre aquele ocorrido. Queria apagar aquele episódio, mesmo que o castanho quisesse se ajoelhar (se pudesse) e implorar pelo perdão de todos até a eternidade.
Alguns raios-X, exames de rotina, e Dr. Phil anunciou que, no máximo em duas semanas, poderia sair dali. Tinham que esperar os hematomas melhorarem e os músculos atrofiados voltarem ao lugar, uma vez que – dando uma espiada durante a noite – Louis descobriu buracos horrendos por toda sua pele, com uma cor amarelada doentia e parecendo buracos de indicador em bolos. Teve vontade de vomitar novamente, e o médico avisou que aquilo seria contínuo por algum tempo. Seu corpo reagia como se estivesse lutando com algum inimigo, e tentava de todo modo pô-lo para fora, então, seria comum sentir tonturas e fortes enjoos.
Niall fez algumas visitas, duas delas acompanhado de Chris, parecendo bem mais amigável e divertido depois do reencontro vergonhoso que tiveram. Louis descobriu o máximo que podia por si só em uma cama de hospital dura, uma vez que o loiro estava evasivo e tentava a todo custo não ficar sozinho com o garoto, corando a cada simples menção de fazê-lo. Para a sorte de todos – menos de Niall, aparentemente – Chris era um cara que gostava de falar, preenchendo o tempo todo o silêncio constrangedor que se instalava quando Zayn saía para ir ao banheiro ou comprar comida, o que acontecia muito constantemente.
Depois de duas horas de um longo e divertido monólogo – enquanto Harry dormia em um sono profundo. Zayn dissera que ele ficou acordado a maior parte do tempo, zelando o sono de Louis, que estava inquieto – Louis descobriu que Chris era de Kentucky. Era mochileiro e tirava fotografias paisagistas, e quando lhe dava na telha, de modelos. Visitava muitos lugares, viajando por conta própria. Sofreu um pequeno acidente, enquanto se hospedava em Sheffield, com uma faca e escadas. Soube que Doncaster tinha uma melhor assistência médica, e um colega de quarto o levou até lá. Salvo seus ferimentos, ele estava prestes a sair em mais uma aventura quanto encontrou um loiro distraído perto da janela, tomando alguma coisa, e teve o impulso de ir falar com ele.
Logo, começaram a conversar e o garoto desistiu de ir embora. Mudou-se temporariamente para um quarto de hotel de beira de estrada com um frigobar suspeito, e permaneceu ao lado do Horan praticamente durante todo o tempo em que Louis estava em coma. Quando o garoto acordou, Chris havia ido até Sheffield, mas voltou assim que pode quando soube da novidade. Estava com um contrato assinado, que renderia algum dinheiro para permanecer ali.
Louis estava fascinado por ele, tinha que admitir. Era livre, divertido, independente e sabia o que queria, sem ligar para nada ou ninguém. Em seu pescoço, um terço budista brilhava discretamente escondido pelo peitoral largo e as camisetas quase sempre apertadas demais. Louis, com uma surpresa inegável, descobriu que não se importava com aquele detalhe. Chris era um cara legal, e Niall estava sempre sorrindo (não que já não o fizesse todo o tempo, mas, ainda assim, era mais pronunciado) ao seu lado. E não era errado.
Foi naquele momento em que, lentamente, um processo se iniciou em sua mente, na parte escura subconsciente, cercada de medo e dúvidas. Como o fogo quente, que vai, pouco a pouco, resfriando e amalgamando no subsolo, incontido, indomável. Ele ainda não descobriria tão rápido, mas seu interior começara a mudar. Irreversivelmente.
Não era errado. Não tinha que ser. Não era. Mas ele ainda não sabia disso.
E o primeiro dia passou. Louis sentia-se tão em paz quanto podia. Harry acordou próximo a tarde, apenas para perguntar, com sua voz rouca de sono, se estava tudo bem. Louis assentiu, dizendo para que voltasse a dormir e ajudasse em sua recuperação. O garoto quase andava plenamente agora. O cacheado sorriu, e se rastejou, silenciosamente, até a cama do Tomlinson, que sentiu as mãos soarem e o coração começar a bater mais rápido. Tentou – falhamente – diminuir o barulho frenético de sua respiração, ou as enfermeiras voltariam, mais raivosas e mal-amadas (Louis decidiu que as odiaria permanentemente a partir do momento que falaram dos músculos de Harry na sua frente, sem pudor nenhum, e brigaram quando ele tentou se levantar para reclamar. Velhas fofoqueiras. Ele era comprometido) que antes. Eles se enroscaram como na primeira noite, e, juntos, dormiram. Louis não teve mais pesadelos.
O segundo dia não teve muitas mudanças, mas, ainda assim, foi tranquilo. Louis sentia-se bem mais disposto que alguns dias antes, quando acordou, e se arriscou a usar o banheiro sozinho, andando – não totalmente sozinho. Zayn, Harry, Niall, Chris, Dr. Phil e uma ou duas enfermeiras novinhas que babavam no seu namorado (ele podia o chamar assim? Ninguém se importava). Foi humilhante. Mas foi um progresso. Tomou um bom banho (depois de quatro meses, parecia como um gambá em decomposição orgânica de dois anos) com a ajuda de Zayn – Harry não estava autorizado a entrar no banheiro, ordens médicas. Resultou em alguns resmungos e xingamentos, e o muçulmano ria baixo, esfregando as costas do garoto, que o acompanhava. Um clima estranho e amistoso de camaradagem se instalara entre eles.
Em sua mente, Louis aceitava bem melhor sua nova “condição”. Quase teve um ataque cardíaco quando Chris chegou, com uma pequena sacola da Tiffany's de Sheffield. Harry sorria sombria e superiormente, zombando da reação exageradamente infantil do garoto quando descobriu que ele quem mandara comprar os colares de prata, que Niall prendeu em seu pescoço, mesmo sob os protestos altos do garoto.
Harry explicou que não era romântico, ou fazia as coisas certas, então, comprara aqueles colares, para representar o compromisso que tinham – sem nem ao menos fazer a pergunta de um milhão de dólares. Provavelmente porque ambos sabiam que 1) não precisava, e 2) qual seria a resposta de Louis. O garoto praticamente morreu de infarto (uma vez que seus batimentos chegaram a 220).
O Styles se superara, com certeza. Comprara – ou mandara Chris comprar – duas pequenas gargantilhas banhadas em prata, de aço inoxidável. Ambas tinham um pequeno crucifixo, tão delicado e brilhante que Louis passaria horas o admirando, encantado. Era algo singelo, mas tão especial quanto qualquer aliança estúpida. Harry colocara o dele, escondendo sobre a camiseta, e depois, dera um beijo sobre sua testa, apoiando o queixo no alto de sua cabeça. Não foram necessárias palavras, sobretudo.
Eram, oficialmente, namorados. Sem cerimônias, ou pedidos exuberantes. Harry sussurrou um 'eu te amo' fraco em seu ouvido, e foi o suficiente. Usava uma cruz de prata em seu pescoço, mesmo depois de tudo, e foi o suficiente. Louis o amava com toda sua alma, e começara a aceitar aquilo. E foi o suficiente.
Zayn, observando tudo ao canto, faltava somente tirar um lenço de seda do bolso e secar as lágrimas antes que alguém visse. Parecia o mais emocionado de todos, e, ao terminar, os presentes no local bateram uma salva de palmas, atraindo a atenção das enfermeiras, que os expulsou mais que depressa, como gatos de rua no telhado. Era claro que, se tratando de Harry, nenhum momento exuberantemente marcante aconteceria. Mas Louis imaginou que, se fosse diferente, não seriam eles. E ele estava feliz.
Mas, como contos de fada não existem, todo o momento de flores e amores desmoronou, ruindo como um barco em naufrágio.
O terceiro dia amanheceu estranhamente tranquilo, como a brisa que antecede a tempestade. Ninguém ao menos desconfiou dos sinais. Tudo começou com Louis, que despertou preguiçosamente, as cinco da manhã. Se sentou e olhou em volta, coçando os olhos. Sentia-se cansado de dormir o tempo todo e não sair da cama, mas seu metabolismo trabalhava tanto que precisava de, no mínimo, doze horas de sono diário. Harry não estava diferente. Ainda roncava baixa e sonoramente. Louis tocou no colar, sorrindo. Fazia apenas um dia, mas sentia-se tão feliz quanto em 100 anos. Parecia, irrevogavelmente, apaixonado. Estupidamente.
– Já acordado, Louis? – Marie falou, usando seu vestido apertado demais, marcando suas gordurinhas. A senhora baixinha e velha demais era simpática, e dava chocolate a Louis escondido das outras rabugentas. Ela trazia algumas fronhas novas para trocar, e um carrinho de roupa suja.
– Não sei porque, Marie. Perdi o sono. – deu de ombros – Alguma novidade? – costumava perguntar sobre o mundo quando conversavam pela manhã. Se haviam guerras, se alguém morrera, quem ganhou o Oscar de melhor ator do ano, essas coisas. Sentia-se vivendo na pré-história, preso naquela cama incômoda, sem acesso ao mundo exterior. Mas, subitamente, percebeu que não precisava de nada daquilo. Seu mundo ainda estava dormindo na cama ao lado.
– Acho que não. Meu programa preferido de culinária foi cancelado. – fez um muxoxo chateado e Louis riu baixo – Ah sim, você teve algumas visitas.
– Eu? Visitas? – repetiu, surpreso. Em todo aquele tempo, Niall contou que somente Liam fora o ver, de madrugada, mas foi embora antes mesmo que se encontrassem.
– Sim, sim. Dois morenos. – o coração de Louis bateu mais rápido, e suas mãos esfriaram abruptamente, mesmo que o sol começasse a despontar no leste – Um era baixinho e usava uma camiseta preta. Disse que voltava mais tarde. O outro disse que iria em algum lugar e viria novamente. Era alto e forte, sabe? Conhece ele? – tagarelou, e Louis apenas ouviu pequenos trechos, imerso novamente em um mar de ansiedade e nervosismo.
– A-acho que sim. – murmurou.
– Então, garoto! – gesticulou animadamente, enquanto Louis engolia em seco, olhando de rabo de olho para Harry, ainda dormindo. Ele ficaria uma fera, ah, sim, ficaria.
Quando estavam conversando – depois de todas as lágrimas e declarações que particularmente destruíram Louis – Harry expressou sua, hm... insatisfação (qualquer palavra pior que isso para descrever o estado de Harry seria classificada como imprópria para menores) com Liam. Para ele, o garoto era o fator principal por toda a desgraça que acontecera com Louis – além dele próprio, mas o Tomlinson não o deixava se desculpar, nem por um momento. De qualquer modo, o Styles jurou ser capaz de matar o ex-amigo de Louis com as próprias mãos se o visse em sua frente.
Fora um diálogo tenso, depois de tudo. Louis nunca vira tanta raiva nos olhos de alguém, e definitivamente, ver aquele sentimento tão ruim cobrindo as esmeraldas brilhantes de seu amado era dolorosamente triste. Prometeu a si mesmo e a Harry que nunca, jamais, perdoaria Liam por aquilo que ele fizera. Ainda escutava as palavras ecoando em seus piores pesadelos, e por muitas vezes acordava arfante, sentindo a culpa assolar seu coração. Tocava as pernas, segurando-se para não arranhá-las, as lágrimas queimando sua pele no trajeto até suas mãos. Mas então, parava e fitava o garoto deitado na cama ao lado. Fitava seus cachos esparramados por seu rosto, os lábios rosados entreabertos. Tocava a pequena e delicada gargantilha sempre presa ao seu pescoço, e ficava bem. Não sabia porque se sentia tão em paz, mesmo que, ainda em seu interior, começara a aceitar. E a cada segundo que corria no relógio, apenas aceitava mais e mais.
Não queria admitir a ninguém – muito menos para Harry – mas não conseguia sentir raiva de Liam. Decepção, talvez. Tristeza. Pena. Era óbvio que Liam era alguém que não sabia o que era amar alguém incondicionalmente. Louis não via o corpo de Harry, ou o que ele tinha por entre as pernas (figurativamente, claro. Era impossível não fitar por horas e horas o peitoral definido, o tanquinho com gominhos tão definidos que pareciam pedras, descendo por suas tatuagens até sua divina V line, entrando no caminho do paraíso em toda sua masculinidade... er, enfim). Mais que isso, Louis amava a pessoa de Harry. Não se importava se era homem, se já fora preso e se era acusado de matar seu último namorado enquanto se picava (acusação plenamente falsa, claro). Nada disso importava, Louis o amava por dentro e por fora, sem distinções.
O amigo simplesmente tinha a mente fechada demais, e não o culpava por aquilo. Sabia de cada mínimo detalhe de Liam como conhecia a si mesmo, todo seu passado, seu presente e seus planos. Não aceitava que uma amizade tão plena e tão duradoura fosse acabar simplesmente por conta de um preconceito idiota. Mesmo que esse mesmo preconceito quase tivesse lhe custado a vida.
Sentiu-se ligeiramente confuso, entretanto, quando soube que Grace o defendera de Niall. A garota parecia ser muito correta e moralista para tal coisa. Cada um tinha seus motivos, mas parecia inimaginável Grace defendendo uma atrocidade daqueles, mesmo enquanto Louis se encontrava em coma no hospital.
De qualquer maneira, Harry era o centro de tudo – como sempre. O garoto simplesmente surtaria ao ver Liam ali, no hospital, e além de estar sob vigilância condicional, também ganharia mais uma sentença por homicídio. E isso era algo que Louis sequer imaginaria como lidar. Ficar sem Harry, sabendo que ele estava por ai, em algum lugar, já fora dolorosamente impossível, que dirá ficar sem ele sabendo que estava preso. Era simplesmente inaceitável.
– Louis? Garoto? – ouviu uma voz ao longe e piscou, focando a pequena senhora gesticulando enquanto limpava alguma coisa. Não sabia quanto tempo ficou encarando o vazio, mas por vezes era acometido pela enxurrada de pensamentos incontidos presos em sua mente. Era inevitável.
– Desculpe, Marie. Acho que estou um pouco cansado de ficar aqui. – sorriu forçado, dando de ombros.
– Eu entendo, garoto. – ela sorriu maternal – Hoje você não tem exames, então vou conversar com a Julieta da recepção, para ela falar com a Samantha, para ela falar com a sua fisioterapeuta para que você possa sair um pouco daqui. O jardim está muito bonito esses dias. – Louis sentiu o coração inflar de gratidão, e sua voz saiu embargada pela emoção.
– Muito obrigado, Marie.
– Nah, que isso. – ela fez um gesto, empurrando seu carrinho para a saída – Estou indo terminar isso daqui. Provavelmente seus amigos chegam daqui a pouco. – compartilharam de um risinho – Até mais, garoto.
– Até, Marie.
Dito e feito. Louis nem ao menos se ajeitou sobre a cama, e um furacão loiro rompeu pela porta, tagarelando, enquanto Zayn mandava-o se calar, apontando para Harry que ainda dormia, e Chris apenas observava, com os dedos entrelaçados nos de Niall, rindo contido da pequena discussão entre este e o moreno.
– Niall, pelo amor de Alá, pare de escândalo. Se Harry acordar, vou dizer que foi culpa sua. – Zayn bronqueou, e Louis riu baixo, preocupado em acordar o cacheado, que dormia tão lindamente que deveria ser pecado qualquer alma humana sequer tocar nele.
– Eu já sei, Zayn, não estou fazendo nada! – sussurrou alto (se tratando de Niall, aquilo era realmente possível) – Louis! – se esqueceu da discussão e deixou as sacolas sobre a poltrona, indo abraçar a garoto, sendo seguido por Zayn, que beijou sua cabeça ternamente e Chris, que bagunçou seu cabelo. Se sentia a criança pequena rodeada dos adultos em uma festa de família, mas não podia dizer que não gostava de receber tanto mimo e atenção.
– Como está essa manhã? – Zayn perguntou, se sentando na beirada da cama de Harry. Como era um suposto quarto de cirurgias, muitas visitas não eram permitidas, e não haviam muitos lugares para se sentar. Não que eles respeitassem aquilo, entretanto. Para Niall, estar ali e estar em um quarto de hotel era praticamente a mesma coisa. Dane-se as regras.
– Me sentindo entediado, na verdade. – deu de ombros – E um pouco enjoado de ficar parado aqui. Minha fisioterapeuta vai ver se eu posso dar uma volta lá fora. – os garotos comemoraram, até que Zayn fez 'sss'. Não rápido o suficiente, uma vez que um resmungo audível surgiu.
– Vocês não sabem falar baixo? – Harry murmurou com sua voz extremamente rouca de quando acabava de acordar. Louis ainda se arrepiava ao ouvi-la, mesmo depois de tudo. Parecia que o Styles era um centro de atração e sedução ambulante.
– Não era para ter acordado ele. – o castanho ralhou com os amigos, e depois se virou para Harry, sorrindo torto como uma garota apaixonada – Bom dia, amor. – sussurrou docemente. O garoto lhe fitou com aquele mar esverdeado de calmaria e admiração. Seu sorrio torto vinha com uma covinha perfurando sua bochecha. Misturado a cara de sono, Harry não poderia estar mais lindo.
– Bom dia, Loueh. – a maneira que pronunciava seu nome, arrastadamente e com um leve sotaque rouca, era a coisa mais melodiosa que Louis já tivera o prazer de ouvir. Mentalmente, se perguntou o porquê de ser tão bobamente apaixonado por cada pequeno detalhe de Harry – Quais são as novidades?
– Acabamos de chegar, também. – Zayn deu de ombros – Trouxemos alguns bolinhos escondidos.
– Ahn... sobre isso, pessoal... – Louis pigarreou, sentindo as mãos soarem. Sentia que era errado esconder a aparente visita de Liam, mas tinha medo de como reagiriam. Harry nem ao menos estava plenamente recuperado. Todos lhe encaravam, e ele sentiu seu estômago cair. Precisava contar. Não eram nem sete da manhã ainda, mas o sol que despontava iluminava a copa das árvores do jardim.
Louis nunca conseguiu terminar aquela frase, entretanto.
Parecia que já estava prevendo, como um sexto sentido ou algo do tipo. No intervalo de tempo em que Harry se sentou na cama, bocejando, Zayn puxou uma sacola, retirando dois bolinhos de dentro e Niall trocou uma risada com Chris, a porta do quarto foi abruptamente aberta. Era como se o universo tivesse congelado, e, em um milésimo de segundo, tudo aconteceu.
Lá estava ele. Ofegante, vermelho, e seus olhos inchados denunciavam que havia chorado recentemente. Grandes bolsões roxos abaixo de seus olhos, outrora brilhantes e gentis, agora davam um contraste triste a imagem depressiva a sua frente. Usava uma calça jeans simples e um moletom, e seu peito subia e descia descompassadamente. Suas mãos estavam vazias, fechadas em punhos com força. Ele encarava diretamente Louis. Quando seus olhos se encontravam, uma dolorosa conexão se formou ali. Parecia que estavam revivendo aquela noite, cada detalhe, cada palavra. Liam parecia sofrer mais que o próprio Louis, entretanto.
– O que você faz aqui? – uma voz ríspida, gélida e cortante como gelo se fez ouvir antes que qualquer outro pudesse se pronunciar. Louis se obrigou a olhar para Harry, assustado, sentindo o coração disparar de medo. Medo por Liam, sobretudo. Niall tinha a face estampada em incredulidade, Chris em desprezo, e Zayn em surpresa, além de outros sentimentos não-identificados.
O Tomlinson congelou. Ver Liam, depois de tanto tempo, ainda doía, mas havia algo de diferente em seus olhos. Assim como nos de Harry. Os mares esverdeados, outrora cheios de calma e um brilho alegre, agora estavam tomados por uma força descomunal, que emanava como fogo no deserto, incendiando, temível, impetuoso. Sentiu falta do garoto desprotegido que tivera em seus braços, do garoto atencioso que chamava de seu namorado. Continuava a amar cada minúscula parte daquele Harry, mas vê-lo daquela maneira, irradiando um ódio indomado, mas ainda assim, tão frio quanto o mais grosso gelo, dava medo. Ele estava com medo. De Harry.
– E-eu fi-fiquei sabendo que o-o Lo-lou tinha a-co-cordado. – gaguejou falhamente, tremendo sobre as bases. Liam sempre um garoto 'forte'. Sua massa muscular sobrepesada para a idade lhe garantia uma habilidade fenomenal no boxe. Quando tinha doze, já era campeão do peso mirim do estado. Ele era alto, truculento e tinha o rosto fechado. Qualquer pessoa que topasse com ele na rua em um dos seus piores dias, com certeza mudaria de calçada. Vê-lo ali, imponente, tremendo como um pequeno cervo diante da pantera, era assustador e, ao mesmo tempo, inacreditável.
Louis começou uma prece silenciosa para um Deus que duvidava da existência. Aquelas horas a fio que passara pensando lhe fizeram começar a questionar. O amor? Nunca. Sua religião era o amor. Mas aquele Deus de vingança, de ódio, que selecionava seus filhos? Aquele Deus realmente não existia. Mas, mesmo assim, rezou. Segurou com toda sua força a pequena gargantilha, ganhada há apenas um dia atrás. Como tudo mudara tão depressa?
– Você não tinha o direito de estar aqui. – Deus sabe como Harry conseguiu forças para saltar da cama, ficando de pé em postura ereta, fitando Liam com uma fúria jamais vista por nenhum deles ali presente. Nem mesmo Zayn, ao seu lado tantos anos, conseguira acreditar na força maléfica que emanava de cada simples poro do melhor amigo. Era aterrorizante, sobretudo. Harry era como um tigre feroz, defendendo seu filhote. Liam era sua presa. E Louis, imponente como uma criança, era aquele que observava tudo com lágrimas brotando dos cantos.
– Eu vim me desculpar... – a voz do maior era inaudível, um pequeno sussurro solto na atmosfera. Harry foi avançando perigosamente, e nenhum deles seria louco o suficiente para pará-lo. Chris, talvez, tivesse pronto para entrar no meio se necessário, mas não era uma opção da qual quisesse considerar. Uma fez realmente furioso – e com motivos – Harry Styles era uma fera indomável.
– Você não deveria ter vindo. – sua voz era cortante, e estremecia até mesmo a espinha dorsal do próprio diabo. Não. Harry Styles havia virado o diabo.
– E-eu... – nada saiu de sua garganta. Liam sentia medo, arrependimento, culpa, tudo misturado. Pesava sobre si como uma bigorna, preso ao seu tornozelo, puxando-o para baixo, para o fundo de um mar de angústia, solidão e frio. Vozes sussurravam em seu ouvido, e as labaredas do reino de baixo queimavam seus dedos a cada sono maldormido.
– NÃO DEPOIS DE TUDO QUE VOCÊ FEZ! – Harry berrou de repente, saindo de sua postura fria. Ainda assim cortante, mas agora mais temível que antes. O vidro da janela vibrou com seu timbre, e o pequeno Niall, indefeso e com medo, se enconlheu atrás de Chris, que passou um dos braços sobre sua cintura. Zayn piscou, assustado. Não negaria que também estava com medo. Aquela era a primeira vez que acontecia. Não interferia, porém, como outrora. Sabia que morreria se o fizesse, e – negando ou não – Liam merecia cada punição existente – NÃO DEPOIS DE TODA A MERDA QUE VOCÊ DISSE PARA O LOUIS! – Harry sentia a força sobrenatural emanar por seus punhos, coçando para acertá-lo diretamente na mandíbula de Liam. Andou dois passos, largos, e logo estava a menos de trinta centímetros do garoto, que mal se movera. Assustado, tentou recuar, mas suas pernas não responderam.
– E-eu... – tornou a gaguejar, de mãos atadas, mas Harry foi mais rápido.
– CALA A PORRA DA BOCA, SEU DESGRAÇADO.
Tudo aconteceu rápido demais. Com um movimento rápido, frio e calculado, a mão direita de Harry voou diretamente contra o queixo de Liam, em um golpe certeiro. O estralo causado foi ouvido por todo o cômodo, sobresselando até mesmo o grito desesperado que Louis dera. “Harry!”. Inútil. O garoto sequer ouvira. Sentiu a prata queimando seu peito, o instigando a bater mais. Aquilo não era nem um milésimo da força que tinha, ou do ódio que sentia. Queria mais. Queria muito mais.
– INÚTEIS COMO VOCÊ MERECEM MORRER. – mais um soco, dessa vez do lado esquerdo. Liam cambaleou para trás alguns passos, ofegante, assustado e surpreso. Sentiu a cabeça latejar, e os primeiros resquícios de sangue escorreram pelo nariz simétrico.
Em um movimento preciso, o derrubou no chão, no meio do quarto, e subiu por cima, passando ambas as pernas por sua cintura, encaixando-o ali. Assim que Harry subiu acima de seu abdômen, Louis fechou os olhos com força, não querendo ver o que tinha certeza que se seguiria. Suas mãos começaram a tremer, e ouviu Niall soltar um choramingo. Sua mente estava nublada, e tentou pensar em infinitas imagens para se distrair.
Os sons eram mais altos.
A cada soco, um estralo. Mais altos, mais rápidos. Logo, vinham acompanhados de gemidos longínquos de dor, e o som de algo gosmento e nojento espirrando para todos os lados também se uniu a orquestra. Louis não sentiu quando as lágrimas começaram a cair de seus olhos. Metade de si queria sair daquela cama, impedir Harry de cometer uma loucura, abraçar os amigos e o namorado, e dizer que estava tudo bem. A outra metade... apenas estava ali. Não sentia pena, dó, piedade, nenhum sentimento. Apenas assistia. Impedia-se de sentir o amargo e, ao mesmo tempo, tão saboroso da vingança. Não queria. Não iria.
Os socos tornaram-se mais rápidos. Os gemidos de dor também.
A cada soco, uma careta, e Niall gritava desesperadamente por ajuda. Deveriam ter se passado cinco ou dez minutos, se arrastando, enquanto Harry descarregava todo o ódio reprimido no saco de pancadas humano. Todo o ódio reprimido. De todos aqueles anos. As imagens borradas da cela fedorenta e cheia de resquícios suspeitos brotou em seus olhos, e tudo que ele via era vermelho. A raiva. O ódio. A dor. Louis soluçava ao fundo. Zayn também fechou os olhos, esperando pelo pior, o coração apertado.
Todos observavam a sessão de socos que Harry executava. Quem seria o louco que entraria no meio daqueles punhos poderosos e certeiros? Certamente ninguém daquela sala. Louis guiava-se pelos sons, e de acordo com os gritos do loiro. A cada grito mais alto, sabia o que estava acontecendo. Não seria capaz de fitar o rosto do amigo, provavelmente deformado, o sangue espirrando no chão. O sangue vermelho. O sangue de Liam. O Filho do Homem havia pagado os pecados do mundo com sangue. O Payne agora pagava os seus com a mesma moeda. Não deixava de ser uma situação irônica, sobretudo.
– Nunca – soco – mais – soco – toque – soco – no – soco – meu – soco – namorado – dois socos.
Louis arfou, espiando por frestas. Não se via nada além das costas largas e arqueados por cima de um corpo quase imóvel por baixo. O coração do garoto apertou, como se revivesse a sensação de cada espinho metálico perfurando-o, cortando, rasgando.
– Na-namorado? – Liam arfou, engasgando com o sangue na garganta, e Harry urrou, erguendo-se sobre os joelhos, levantando um deles e descendo com força sobre o estômago do garoto, que ofegou ainda mais, arqueando-se e caindo, semiconsciente.
– DESGRAÇADO. – socos e mais socos. Louis não encontrava sua voz em lugar algum, para sequer gritar. As lágrimas que o inundavam percorriam toda sua bochecha, caindo e molhando a coberta sobre seu colo. Niall estava aos prantos, berrando e tentando, desesperadamente, se livrar do aperto protetor que Chris lhe dava. Zayn também chorava, quieto, encolhido.
Louis nunca vira Harry daquela maneira, tão possesso. Ele parecia saber exatamente o que fazer, onde acertar, qual a força a ser aplicada. Ele era um lutador. Mas havia algo em sua posição, que emanava de seus braços, a cada vez que subiam ao ar e desciam. O Tomlinson nunca vira algo parecido. Tanta raiva agrupada em uma só pessoa. Estava com medo. Medo de Harry, medo por Harry. Não queria sentir aquilo, mas era inevitável. Parte de si gritava, loucamente, que era tudo por ele. Tudo que ele desejava – internamente – fazer para Liam, Harry estava ali, como seu anjo vingador. Um anjo negro, com sua espada flamejante. Um anjo mal, entretanto. Ainda seu anjo. Para sempre seu anjo. Mas aquela era uma parte de Harry que Louis jamais sonhara que pudesse existir.
A porta foi aberta abruptamente, e gritos se misturaram, um tentando atingir um tom mais alto que o outro. Louis apenas viu jalecos brancos se misturando em um leque de cores e confusões, tentando, a todo custo, retirar Harry de cima de Liam, ainda acordado, mas quase cedendo. Seu rosto estava irreconhecível, e o sangue espirrado por todos os lados pingava dos dedos do cacheado, que gritava e tentava se soltar, tomado por uma força sobre-humana e um instinto assassino. E então, seus olhos encontraram a ambos. Liam perdia perdão pelas fendas semiabertas que ainda conseguia manter, os olhos acastanhados agora cobertos de roxo, preto e vermelho. E então, os olhos de Harry.
Eles estavam ferozes. Como os de uma besta. Havia um fogo que escureceu suas íris, as deixando pretas como a noite rubra. Quando o preto mergulhou no azul, agora molhado e desesperado, sua expressão pareceu suavizar. Caiu em si, abrindo a boca de maneira atônita, o olhar confuso e extremamente culpado. Olhou para todos os lados, fitando os rostos dos amigos, que o encaravam com medo. Estavam com medo dele. Com medo.
Caiu em si. Parou de lutar, deixando ser levado pelos enfermeiros. Não desviou, nem por um momento, os olhos de Louis, que lutava para respirar. Ele o queria em seus braços, queriam acariciar o cabelo um do outro, dizer que estava tudo bem, que tudo ficaria bem. Mas ambos sabiam que nada ficaria bem.
Os olhos já quase esverdeados e de uma culpa abrasadora foram a última coisa que Louis viu antes de se entregar a escuridão. Enquanto isso, sua besta, feroz e angelical, era levada, a força, tomada dele, de seus braços. E tudo aquilo doeu mais que mil espinhos atravessando sua carne.
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Unholy (Larry Stylinson AU Religious!Louis)
Romansa“Desde criança, aprendi que não existe compaixão. Não existe esperança, não existe o perdão. O que é meio irônico, considerando o que me tornei hoje. Mas, logo cedo, fui criado em um ambiente cheio de terror, medo e descrença. Nunca conheci meus pai...