Um

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     Era uma manhã abafada de sábado, Cintia decidiu dar uma volta pelo centro da cidade, tinha intenção de passar na livraria e comprar um livro novo de uma autora que estava na moda, alguns colegas haviam recomendado.

     Usava um short todo rasgado, uma regata branca e sapatilha preta, tinha os cabelos presos num coque desarrumado. Era baixa, e se achava gorda apesar de estar só algumas gramas acima do peso ideal, era paranoica com essa coisa de peso, pelo fato de ter sido uma criança gordinha e sofrido com as brincadeiras de mal gosto dos colegas, os cabelos era loiros com mechas pintadas de rosa.

    Estava toda suada quando entrou na livraria, e sentiu um arrepio de frio correr o corpo todo por conta do ar condicionado ligado em potência máxima. Percorreu as prateleiras dando uma vista geral em vários livros, talvez levasse mais algum caso achasse algo interessante.

    Ouviu um estourou meio distante. Fogos de artifícios, pensou Cintia. Não se lembrava de nenhuma data comemorativa naquele dia, mas tem sempre alguém soltado isso por ai, um segundo estouro fez com desse um pulo de susto, dessa vez parecia um pouco mais perto. Maldisse em pensamento quem estava soltado esses malditos fogos.

    Encontrou o livro que procurava, não se interessou por mais nada, apesar de adorar ler, tinha um gosto meio peculiar para  leituras, adorava esoterismo, terror, e paranormalidade, mas era raro algo que prestasse com esses temas.

     Pagou o livro e saiu novamente para o calor massacrante da rua, ansiava por um Coca Cola geladinha e pensou em passar em num bar para comprar, caminhou alguns metros quando algumas pessoas passaram correndo por ela, mas uma vez aquele estouro que julgou ser fogos de artifício, foi nessa hora que percebeu horrorizada o que era o barulho, tiros.

     Estava bem no meio de uma manifestação, a  policia dava tiros com balas de borracha e jogava gás lacrimogêneo nos manifestantes, eles por sua vez revidavam com pedras e paus.

    Virou se rápido e tentou correr de volta para livraria, mas o dono já havia abaixado a porta de metal, olhou desesperada a sua volta, todas as lojas já estavam fechadas, não havia onde se esconder, viu um bar ainda com metade da porta abertas algumas pessoas entrando rápido, pensou em correr para lá, mas nesse momento sentiu uma dor forte na têmpora esquerda, ficou zonza, procurou algo em que se escorar, então alguém lhe deu um empurrão, sentiu o corpo começar a cair.

    Já se preparava para o impacto com chão quando sentiu uma mão agarrar forte seu braço, impedindo a queda eminente, em seguida foi puxada, a pessoa a arrastava pelo meio da correria, ia tropeçando, o sangue do machucado correu para um dos olhos fazendo arder e ficar tudo embaçado.

    Tentou parar, mas a pessoa puxou ainda mais forte, não sabia se sentia medo dos manifestantes ou desse estranho que a levava sabe deus para onde. Entraram em um beco, no meio de dois prédios enormes, ali fazia sombra, sentiu um alivio quando notou que tinha mais algumas pessoas se refugiando ali, foi puxada até o fundo do beco que era sem saída, quando a pessoa finalmente parou. Nesse momento, talvez porque a adrenalina houvesse passado um pouco, tudo ficou  escuro e Cintia apagou.

Depois Daquele BeijoOnde histórias criam vida. Descubra agora