Catorze

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     Aquela frestinha de sol que sempre conseguia escapar pela cortina fechada do quarto hoje parecia iluminar como se fosse um holofote assim que Cintia abriu os olhos. A cabeça doía, o estomago revirava, o corpo todo estava dolorido porque havia dormindo no chão e nem se dado ao trabalho de tirar a roupa, levantou de leve a cabeça e sentiu tudo rodar, ressaca da brava. 

     Ficou deitada mais um pouco tentando se lembrar o que tinha acontecido na noite passada e como conseguiu chegar em casa.

     Fez um esforço enorme para levantar do chão e então viu uma mulher desconhecida toda vestida de preto dormindo na cama. Puxou na memória para ver se lembrava quem  era ela, mas o branco era total. Foi nessa hora que o pai começou esmurrar a porta para entrar.

___ABRA ESSA DROGA DE PORTA CINTIA.

    Tum tum tum, cada pancada na porta era como se a cabeça estivesse sendo perfurada com um prego. A mulher deitada acorda assustada.

___O que está acontecendo?

     Cintia nem se deu ao trabalho de responder, foi logo abrir a porta para que o barulho do pai batendo parasse o mais rápido possível. Ele entrou como um furacão no quarto e estancou quando viu a mulher toda de preto, agora Cintia notava várias tatuagens espalhada pelos braços e pescoço dela.

___ QUEM É ESSA?

___Dá pra parar de gritar por favor?

      A mulher se adianta e estende a mão para Francisco.

___ Oi sou a Wanda.

    Como Francisco não retribuiu o cumprimento e ainda a encarava com cara de poucos amigos ela resolve ir embora.

___ Bem, acho que tá na minha hora né? 

     Assim que ela saiu Francisco voltou a gritar com Cintia.

___MAS QUE DROGA É ESSA?

 ___ Meu deus, para de gritar, minha cabeça vai explodir de dor.

___Está com ressaca né? Olha Cintia dessa vez você passou de todos os limites, já chega, não vou mais aturar isso aqui não.

___Ué, me de a herança que tenho direito e vou embora.

___ Você sabe bem que não vai receber nada agora, só quando tiver a idade que sua mãe estipulou. 

     Ele anda ao redor do quarto, chuta algumas coisas espalhadas que estão pelo chão, e para bem em frente dela para falar. 

___Quando você vai crescer heim? Quando vai criar vergonha na cara? A que ponto você chegou, roubar o cartão da empregada.

     Berenice tinha contado ao pai o que ela tinha feito, tinha esperança de pegar o cartão e devolver sem que ela visse e depois pagar o que tivesse gasto, mas não deu certo, sentiu uma pontada de ressentimento por Bere ter lhe denunciado.

___Eu ia pagar.

___Eu não sei se ia pagar ou não, mesmo assim foi roubo. Eu já não tenho paciência para as coisas que faz, também não posso ficar me envolvendo nos seus escândalos. Como vou conseguir ser diretor geral de um hospital católico se minha própria filha me faz passar vergonha. Você vai para um colégio interno em Londres, lá sua tia te visita quando precisar, mas aqui você não fica mais.

    As palavras do pai batiam em Cintia como socos na cara fazendo ela despertar completamente da ressaca.

___Não vou para lugar nenhum, não pode me obrigar a ir.

___Ah eu posso sim e vou.

___ Sou maior de idade.

___É sim. Sabe eu queria deixar esse detalhe para quando você quebrasse a cara, mas não resisto, aposto que você não se deu ao trabalho de ler todo o testamento da sua mãe né? Pela sua cara não leu mesmo, e nem quis que o advogado te dissesse tudo naquele dia, você só fugiu como sempre faz, então vou te explicar, se até seus 25 anos você não estiver formada seja lá em que faculdade for, não vai receber nada. Não adianta me olhar assim, regras da sua mãe que você tanto adora.

___Você está mentindo.

___Não estou, e pelo andar da carruagem você não vai se formar em nada. 

___Tudo bem pai, eu vou me esforçar, vou acabar o médio e vou para uma faculdade, não preciso ir para Londres, não quero ir, por favor.

___E você vai estudar onde?

___No meu colégio. 

      Francisco enfia a mão no bolso da calça e pega o celular, procura algo e mostra para Cintia. Ela olha um vídeo que passa na tela como se não acreditasse no que via. Reconheceu a boate, mas quase não reconheceu a si mesma ali, agarrada aos beijos como uma garota enquanto um rapaz passava a mão pelo seu corpo. Não conseguia se lembrar de nada disso.

___Onde conseguiu isso?

     Francisco dá aquele sorriso cruel que ela tanto detestava.

___Agora chegamos ao ponto. Esse vídeo caiu na internet, está se espalhando pelo Whatsapp, Facebook, e chegou até mim. Você não tem como voltar pro seu colégio. Já imaginou o inferno que vai ser? Também não pode ir para outros, porque uma hora vão te reconhecer e você sabe bem como isso vai ser ruim. Sua única alternativa é ir embora para Londres.

       Cintia podia ser revoltada e com motivos, mas ao mesmo tempo dabia que ele estava certo, ficar aqui seria um inferno.

___Tudo bem, eu vou. 

____Sabia decisão. Já encomendei sua passagem e sua tia vai fazer a matricula. Faça as malas, você parte amanhã.

       Ele se virou e saiu do quarto batendo a porta. Cintia ficou ali sentada no chão do quarto, arrasada.

Depois Daquele BeijoOnde histórias criam vida. Descubra agora