A situação havia se invertido, antes Cintia evitava se encontrar com Alisson e seu pai, agora era Alisson que a evitava a todo custo, ela nem se dava ao trabalho de disfarçar, sempre que via Cintia mesmo que de longe dava um jeito de sair de vista. Já havia passado quinze dias da morte de Diego e Cintia não tinha trocado uma única palavra com ela.
Sentia se mal, queria poder conversar e saber o que ela estava sentindo, mas respeitou o fato dela não querer contato, achou que em alguns dias isso mudaria, mas a parecia tudo sempre pior, para estragar ainda mais as coisas Alisson tinha se aproximado muito do seu pai, ele vivia fazendo tudo para anima-la, vivia trazendo flores todos os dias, doces, via sempre ele dando abraços nela, isso também ia magoando Cintia que queria poder fazer o mesmo.
Alisson havia tirado o mês de ferias, mas vivia trancada no quarto, Cintia não sabia dizer se seu pai tinha prescrito algum calmante para ela, mas supunha que ela vivia dormindo a maior parte do tempo.
Cansada dessa situação resolveu tomar uma iniciativa, foi impulsivo, estava no seu quarto com a mente torrando de tantos pensamentos e então decidiu ir até o quarto de Alisson falar com ela, não se importava que seu pai estivesse em casa, só queria falar com ela e foi o que fez.
Bateu na porta e quem abriu foi Francisco, estava usando um pijama azul e tinha cara de poucos amigos como sempre.
___O que foi Cintia?
___Quero falar com ela.
___Se ela quisesse falar com você te procuraria, agora vai dormir.
___Só saio daqui depois de falar com ela.
___Você matou o irmão dela, acha que vai querer falar com você? Então saia daqui, alias você podia pegar suas coisas e sair da casa também.
___Eu só saio daqui e da casa se ela me pedir e não você?
___Quer que eu te tire a força?
Alisson vinha saindo do banho nesse momento, cabelos molhados, short e blusinha branca, estava mais magra e tinha olheiras. Cintia sentiu uma vontade tão grande de dar um abraço e cuidar dela. Tentou entrar no quarto, mas Francisco parecia um muro protegendo a porta. Ainda assim chamou por ela.
___Por favor, Alisson só quero falar com você?
Com um olhar sem nenhuma expressão Alisson olha para ela e depois para Francisco e então vai até a porta.
__-Tudo bem. Vou com ela no quarto. Pode deitar Francisco, sei que está cansado, já volto.
___Tem certeza meu bem?
__-Sim.
As duas caminham em silêncio até o quarto de Cintia. Havia uma tensão ruim entre elas e Cintia sentia se mal por isso, queria tanto que isso passasse. Assim que entraram Cintia sentou na cama e chamou a outra para perto.
__-Senta?
__Estou bem. Por que você vai provocar seu pai? Sabe como ele é.
___Eu não fui provocar meu pai, sei sim como ele é e você também, não precisa mais ficar com ele agora que...
Se deu conta que tinha falado demais e sentiu vontade de engolir as palavras de volta, viu o rosto de Alisson se contorcer como se tivesse dor e então chegou bem perto de Cintia antes de falar.
___Foi por isso que você matou meu irmão? Para que eu pudesse me livrar do seu pai?
Aquilo doeu mais que um tapa na cara ou um soco no estômago.
___Alisson, eu não matei o Diego, foi um acidente. Se pensa isso por que não falou para policia?
A outra fica calada e vai para mais longe de Cintia.
___Olha, eu sei que estava com raiva, que talvez tenha ódio de mim por isso, mas eu nunca faria nada contra ele. Eu sou uma pamonha, sempre fui, eu nunca conseguiria matar ninguém. Era isso que queria te falar. me dói ver você mal e não poder fazer nada.
___Tudo bem. Posso ir agora?
__-Eu sei o que você está sentindo porque já passei por isso. Quando minha mão morreu ,eu achei que ia morrer junto, doeu muito, eu queria culpar alguém por tudo, eu queria sumir, eu queria espancar quem viesse falar comigo e ao contrario de você eu não tinha ninguém para me consolar ou cuidar de mim, como você deve imaginar meu pai pouco se importou com o que eu sentia ou se precisava de ajuda, eu tive que passar por toda dor sozinha. Eu sei que ele tem sido ótimo com você, mas deixa eu te ajudar também, por favor. Não se afaste de mim.
Parecia que isso que tinha dito havia tocado Alisson de alguma forma, porque ela se virou e ficou olhando para Cintia com os olhos cheios de lágrimas. Sentou na cama ao lado dela e pegou suas mãos.
__-Eu não odeio você, eu só não consigo ficar perto agora, porque toda vez que te olho a cena na cozinha volta à minha mente. Vejo vocês dois caídos, vejo o sangue, ouço as ultimas palavras que ele me disse, eu tento evitar, mas não consigo e isso me faz mal, não é raiva, eu só quero que isso passe também e não quero te tratar mal por conta do que tenho sentido, por isso te evito, me faz muito mal lembrar de tudo, então você não pode me ajudar no momento.
___Eu entendo e vou respeitar isso. Só quero que saiba que nunca tive intenção de te fazer mal.
__-Sei disso Cintia. Agora preciso ir dormir. Tenta dormir também.
Ela sai do quarto e Cintia fica ali rodando uma ideia na cabeça. Sim poderia ajudar Alisson, mesmo que ela ache que não. Foi até seu armário, pegou uma mochila e começou encher com roupas. Iria embora dai, tinha um apartamento pequeno num bairro meio afastado, ficaria lá. Alisson não ia mais precisar vê-la por um bom tempo e não sofreria com isso.
Quando acabou de arrumar tudo, escreveu um bilhete e deixou na cozinha. Tinha se prometido que nunca daria esse gostinho para seu pai, mas fazia isso por Alisson e não por ele.
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Depois Daquele Beijo
RomanceDurante um protesto no centro da cidade, Cintia, garota tímida e revoltada com a vida conhece Alisson, enfermeira que a ajuda com um machucado, depois disso as duas perdem contanto, mas o destino de forma cruel faz com que se reencontre algum tempo...