Uma mistura de constrangimento, curiosidade e vontade de beijar outra vez a garota se passavam alternadamente pela cabeça de Cintia. A outra percebendo parte do que Cintia sentia tentou ajudar.
___Não precisa ficar sem jeito, estava de boné e você não tinha como saber que eu era mulher.
___Eu nunca beijei uma garota.
___Acabou de beijar e o mundo não acabou, fica de boa.
Cintia quis dizer que estava de boa, na verdade estava de ótima e nem sabia porque, tinha um talho na testa, a cabeça doía horrores e tinha beijado uma desconhecida e ainda assim se sentia muito de boa, devia ter sido a pancada na cabeça. Preferiu não dizer mais nada, só fechou os olhos e encostou a nuca na parede, não queria encarar aqueles olhos verdes penetrantes.
Não resistiu muito tempo nessa posição, quis puxar algum tipo de assunto. Não sabia qual. A dor de cabeça foi aumentando ainda mais, queria desesperadamente uma Aspirina.
___Está doendo muito né?
___Sim.
___Quer ligar pra alguém da sua família vir te buscar? Agora está um pouco mais calma.
Só então Cintia notou que havia perdido a bolsa naquela confusão toda.
___Meu Deus, perdi minha bolsa.
___Ah, eu até voltaria lá pra para procurar, mas você sabe, alguém já deve ter achado e sumido com ela.
Fechou os olhos mais vez e pensou que o dia não poderia ficar pior, mas ficou. Uma leve chuva começou a cair, pingos finos a principio e depois se tornando mais grossos, começando a molhar a roupa.
___Vem comigo. Disse a outra puxando Cintia para debaixo da sacada de um dos prédios.
Era um espaço muito pequeno e as duas tinha que ficar praticamente coladas uma a outra.
Ficaram em silencio ouvindo a chuva que caia aos borbotões, batendo nas latas de lixo ali do beco, os pés estavam ensopados, mas por incrível que pareça, Cintia não achava um silencio constrangedor, não aquele silencio que as vezes se sente obrigado a dizer algo só por obrigação. Olhou meio de lado para a garota, que nesse momento estava distraída vendo a chuva.
___Acha mesmo que vou precisar levar pontos?
___Acho.
___Você é médica?
___Não, mas sou enfermeira.
___Ah.
Não soube dizer mais nada, não queria dizer mais nada, a chuva começava a parar, mas Cintia queria que continuasse só para não sair de perto da menina. Sensação estranha essa de querer ficar perto de uma desconhecida.
Por fim a chuva para. Elas saem debaixo da sacada e vão até a entrada do beco. Ainda não estava 100% calmo, mas já não tinha tanta correria e nem tiros de borracha.
___Acho que agora dá para você ir, mas um táxi ou Uber não virão aqui com essa bagunça toda, vou ligar para um colega que trabalha de moto táxi. Tudo bem para você?
Cintia só acenou afirmativo com a cabeça. Agora até pensar fazia tudo doer. A outra pegou o celular e fez a ligação.
___< Oi, tá ocupado ai? Dá pra fazer corrida? Tá bom, tô aqui quase em frente o bar Cogumelo, valeu eu espero> Desligou o celular e colocou de volta na mochila.
___ Fica aqui, vou esperar ali fora, assim que o moto táxi chegar, você vai para o hospital.
___ Eu prefiro ir para casa.
___Mas você precisa ver esse corte.
___ Ainda prefiro ir para casa.
___Você quem sabe. Já volto.
Não se passaram nem 5 minutos quando a garota voltou.
___Pronto, ele já está ai. Você mora onde?
___Jardins.
___Jardins? Legal.
Talvez tenha sido impressão, mas a voz da outra pareceu gelar pelo menos uns 10 graus quando disse a ultima frase. Ajudou Cintia a subir na moto e ajeitou o capacete na cabeça dela tomando cuidado para não acertar o machucado.
___Diz para ele onde você quer ir.
___Obrigada por ter me ajudado.
___ Não foi nada, Se cuide garota dos Jardins.
O rapaz liga a moto e arranca e então depois de alguns metros rodados Cintia percebe seu erro, não havia nem perguntado o nome da garota e nem pegado algum contato. Quis voltar, mas agora era tarde.
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Depois Daquele Beijo
RomanceDurante um protesto no centro da cidade, Cintia, garota tímida e revoltada com a vida conhece Alisson, enfermeira que a ajuda com um machucado, depois disso as duas perdem contanto, mas o destino de forma cruel faz com que se reencontre algum tempo...