Trinta e seis

2.6K 221 10
                                    

      Voltou ao quarto sentindo um certo alivio, mas também apreensão. Sentou na beirada da cama ao lado de Cintia que parecia um pouco melhor agora.

__Pronto, logo você entra na faca.

___Você é tão " meiga" Alisson.

___Desculpa Cintia, eu só estou nervosa e preocupada com você.

___É uma cirurgia complicada?

___Ao contrário, é até bem simples e rápida, mas ainda assim eu me preocupo.

___Não precisa, eu não estou preocupada, só quero que essa dor passe logo.

       Um silêncio caiu no quarto, não era tenso e nem desagradável, passava um pouco de paz para a mente acelerada de Alisson. Achou que Cintia tinha pegado no sono outra vez, mas ela chamou com a voz meio baixa.

___Preciso te dizer algo antes de ir para o centro cirúrgico. Confessar algo.

___Cintia, você não vai morrer, não precisa confessar nada.

___Eu quero. Eu sei que parece, mas eu não odeio você.

___Deve ser por isso que me evita, como se eu fosse algum tipo de doença contagiosa.

___Ah! Mas você é. Eu quis tanto te odiar, quis ao menos sentir raiva, primeiro criei uma Alisson incrível que não existia, então te vi casada com meu pai e criei uma Alisson manipuladora e interesseira, por fim acabei vendo que você não era nem uma e nem outra, era alguém comum, como eu, e isso só piorou tudo, eu te evito porque cada vez que te vejo tenho inveja do meu pai, porque cada vez que te olho queria que também me olhasse, porque mesmo sendo uma "fillhadaputaça" as vezes, eu ainda gosto de você e não consigo evitar. Você virou a porra de uma doença que eu não sei como curar.

     Alisson ficou totalmente sem palavras depois dessa declaração. Queria poder dizer algo bom, dizer todo acordo que tinha com o pai dela, mas sabia que não podia, no momento que fizesse isso e ele descobrisse seu irmão ficaria na rua e ela também, mas precisava dizer algo para Cintia também.

___Também tenho algo para te contar. Durante um bom tempo eu procurei você. Eu ia até o Jardins nos meus dias de folga e ficava andando aleatoriamente por lá, tinha a esperança de esbarrar com você, imaginava que nem se lembraria de nada, mas seria algo tipo assim, você andando na rua, passaria perto, me olharia, e pensaria, conheço ela de algum lugar e seguiria adiante mexendo no seu celular caro e novo, e eu teria a satisfação de saber que você estava bem.

___Por que não perguntou ao cara do moto táxi?

___Mas eu perguntei, ele disse que não lembrava onde você morava, mas que era uma casa grande e bonita.

      Cintia ri e faz uma careta de dor antes de falar de novo.

___Não ajudou muito,né?!

___Nem um pouco, todas as casas ali são assim. E então te encontrei de um jeito torto.

      A conversa foi interrompida com a entrada de dois enfermeiros conhecidos de Alisson, usando uniformes amarelos do centro cirúrgico no quarto. empurrando uma maca.

___Olá Alisson. A gente se vê até na sua folga.

___Oi Patricia. Sou viciada em trabalho.

___Pronto para cirurgia. Veste essa roupa aqui. Precisa de ajuda?

___Eu consigo.

       Voltou alguns minutos depois usando aquela famosa camisola azul de hospital toda aberta atrás. Subiu na maca e se deitou. Buscou Alisson com o olhar, que percebendo se aproximou.

___Você vai estar lá dentro também?

__Não vou Cintia, mas te prometo que não vou sair da porta até que tudo tenha acabado e você esteja de volta aqui no quarto. Okay? Fica tranquila.

___Okay.



Depois Daquele BeijoOnde histórias criam vida. Descubra agora