Vinte e oito

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     Cintia estava no quarto lendo quando ouviu o carro de seu pai chegando, ficou prestando atenção e logo depois ouviu também conversas na sala de estar, os dois tinham voltado do hospital. Pensou em descer para ver como Alisson estava, mas mudou de ideia.

    Ia voltar para leitura quando ouve o celular de Francisco tocando e ele berrando no seu tom habitual de tratar as pessoas.

___Como assim os pontos romperam? Ela levantou da cama? Mas que porra, fala sério. Eu vou pra ai e fala pra ela ficar deitada, diz que tetas novas vão cair se tentar se levantar.

      Como Cintia pensou, sempre " delicado". Ficou ouvindo os passos deles subindo pela escada, passando em frente seu quarto, por fim ele dizendo novamente.

___Eu vou rápido ver isso, logo volto, meu amor.

       Ouvir o pai chamando Alisson de " meu amor" fazia o estômago de Cíntia  sentir revirar. Esperou até ter certeza que ele já tinha ido, então foi até o quarto do casal. Abriu a porta devagar sem fazer ruído e entrou. Já tinha tanto tempo que não entrava ali, desde a morte da mãe, estava diferente, um papel de parede marrom escuro imitando tábuas de madeira cobria todas as paredes, os moveis de cor clara de antes tinham sido trocados por de cor preta, era quarto tão masculino que Cintia não consiga imaginar Alisson como dona dele também.

      Viu então Alisson deitada na cama com os olhos fechados, chegou mais perto, ia dizer algo mas mudou de ideia, era melhor deixar que ela dormisse, deu meia volta para ir embora, mas Alisson não estava dormindo.

___Oi Cintia. Vai embora sem falar comigo?

___Achei que estava dormindo. Só vim ver como você estava. Precisa de algo?

__-Eu estou bem, não precisa se culpar por nada, foi um acidente.

___ Você sabe que não foi um acidente, agradeço por não contar nada, mas isso não nos torma amigas, entendeu?

___ Entendi sim, Cintia.

     Cintia foi saindo do quarto, quando ouviu Alisson dizer algo, mas foi tão baixo que não entendeu.

___O que você disse?

___Eu disse que lembro daquele dia no centro.

___Mas você falou...

___Olha só Cintia, você estava me falando um monte bobagens, fiquei irritada e disse que não lembrava, mas lembro, te reconheci no momento em que te vi chegar de viagem, eu te juro, eu não tinha menor ideia que você era filha dele, não tem uma única foto sua na casa.

___-Teria feito alguma diferença se você soubesse?

      Alisson não diz nada. Cintia espera por uma resposta, queria que ela dissesse que sim, que teria feito toda diferença, mas ela se mantém muda.

___Como eu imaginei. Não faria diferença nenhuma. Sabe, eu criei uma imagem sua na minha cabeça, e te recriei como achei que você era, e fiquei obcecada, eu fui atrás de você no hospital onde trabalha, mas não te encontrei, tive que ir embora do Brasil por merdas que fiz, mas te procurava na internet, não houve um único dia que eu não tenho lembrado de você. Mas agora vejo que não era de você que eu lembrava, mas da imagem que criei para mim.

___-Desculpa Cintia, eu não queria que fosse assim, não posso fazer nada para mudar isso.

___Ah pode sim! Me faz um favor? Quero que você e ele se danem e sejam bem infelizes juntos, porque não consigo imaginar ninguém sendo feliz com alguém como ele.

         Cintia vira as costas para Alisson e sai do quarto, havia dito tudo que tinha vontade desde que chegou em casa, mas estranhamente isso não lhe trazia o alivio que esperava.


Depois Daquele BeijoOnde histórias criam vida. Descubra agora