Capítulo II

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Alana abriu os olhos percebendo a penumbra da sala e se mexeu na poltrona reclinável

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Alana abriu os olhos percebendo a penumbra da sala e se mexeu na poltrona reclinável. Seu corpo doía devido a tensão. Nem mesmo tomando remédios conseguia relaxar. Suas costas reclamaram. Ela se retorceu, segurando a nuca com uma careta. 
Desanimada, acendeu a luz e a claridade ofuscou seus olhos. Ainda meio tonta devido a dose do remédio administrada, pegou sua bolsa e foi ao banheiro. 
Lavou o rosto, escovou os dentes e penteou os cabelos, os prendendo num rabo de cavalo. A lembrança da conversa com o médico veio a sua mente, enquanto passava os dedos em seu rosto, em frente ao espelho, notando as olheiras e as bolsas ao redor dos olhos escuros. Suspirou e por mais que doesse, tentaria de alguma forma aceitar o destino. Mike vegetava no leito, não havia mais nada a ser feito, a não ser pensar no que o doutor havia lhe pedido. Olhou seu celular para ver se tinha alguma mensagem e viu que já passavam das nove horas da noite. Parecia incrível, que nem mesmo a avó paterna de Mike tivesse se importado com o estado do neto.  A mãe de Alex nunca aprovou o relacionamento do filho com ela e nem mesmo o nascimento de uma criança a fez mudar de ideia. Simplesmente, ela detestava Mike por ser seu filho. Nunca entendeu o motivo da raiva da sogra. Até tentou ter um relacionamento amigável, mas foi em vão, a mulher a detestava. Abriu a porta e saiu à procura de Fran, a encontrando num dos balcões brancos, no início do corredor, lendo alguns prontuários de pacientes da pediatria.
__ Oi, Fran! - cumprimentou sem emoção e vazia. 
__ Oi, que bom que acordou! Descansou um pouco? - indagou com bondade a enfermeira.
__ Sim. Vou até a UTI ver Mike. - avisou.
A amiga largou a planilha em cima da fórmica branca do balcão e segurou suas mãos.
__ Antes disso, quero que conheça uma pessoa. Pode vir comigo?
Alana assentiu, sem expressão nenhuma na face. Estava anestesiada.
Fran se virou para a técnica que estava ao seu lado e pediu:
 __ Toma conta daqui, por favor! Qualquer coisa, me encontra no celular.
A colega positivou com a cabeça e Fran pegando Alana pela mão, a guiou pelos corredores do hospital, tomando o elevador, descendo no terceiro andar. 
__ Quero que veja o quanto seu filho pode fazer por outras crianças, Alana. 
__ É alguém que precisa de órgão, não é? - inquiriu.
__ Sim e você vai conhecer uma delas agora.
Pararam então, diante da porta, número 302,  do longo corredor branco, decorado com pinturas de personagens dos desenhos animados.
Alana entrou atrás de sua amiga e pode perceber no leito, uma menininha de cabelos escuros, cacheados, magrinha, com oxigênio no nariz, que dormia serena.
Uma moça, que estava sentada numa poltrona cinza, se levantou para recebê-las.
__ Boa noite! - cumprimentou com simpatia.
Alana caminhou como que hipnotizada, até a beirada da cama, olhando atentamente o rostinho com traços delicados. Ouviu a voz da amiga, falando ao seu ouvido.
__ Alana, esta é a Eduarda. Está há dois anos, esperando um coração compatível. - contou.
__ Ela é linda! - disse se virando e encarando Fran. __ O que ela tem?
__ Problemas no seu coraçãozinho. As chances dela sobreviver são mínimas. Aliás, hoje à tarde, o pai recebeu a notícia de que ela não conseguirá se manter por muito tempo, no máximo até o final do mês! 
Alana soltou um suspiro, seu coração apertando ainda mais e junto uma lágrima escorreu pelo rosto.
__ Deus, porque eles? Eu fico me perguntando, o que essas crianças fizeram pra merecer isso?!
__ Coisas que não têm respostas, Alana.  - Fran massageou seus ombros por trás. __Eu também, me pergunto todo dia. Está vendo como ela é magrinha? Nunca pode brincar como as outras crianças. Sempre foi tão cheia de restrições...
Com cuidado abordou novamente o assunto da doação.
__ Ela precisa de um coração... E o de Mike é totalmente compatível.
Alana limpou o nariz, sob o olhar das duas moças e manteve as mãos no rosto, pensativa. 
Ambas, esperavam que ao conhecer Duda, seu coração já cansado e maltratado se condoesse daquele sofrimento.
__ Não sei.. preciso falar com o doutor.
__ Alana, - a amiga arrazoou. __ Mike teve morte cerebral e eu sinto muito por isso! Sei que ele é seu bem maior, mas Eduarda também é o bem maior de alguém. Se soubesse o quanto o pai a ama! Esta menininha perdeu muito nesse pouco tempo de vida. A mãe a rejeitou seis meses depois que nasceu.
Alana arregalou os olhos, cor de jabuticaba, espantada com a revelação de tal crueldade.
__ Eu daria minha vida pelo meu filho e a outra abandonando! - constatou com amargura. ___ Como pode fazer isso?- soluçou indignada.
__ Numa outra hora te conto tudo, mas no momento, quero que pense bem. Seu Mike pode mudar o rumo de muitas vidas! 
Alana tocou de leve o rostinho de Duda, afastando a franja da testa. A menina despertou abrindo os olhinhos e sorriu com meiguice para ela, voltando a dormir.
Fran explicou:
__ Ela está sedada, não pode fazer nenhum esforço. Está assim há três dias. Yan, seu pai, vem todas as noitinhas vê-la. O resto do tempo, ela fica com as cuidadoras. 
__ Fran... a possibilidade dela voltar a ter uma vida normal é real? - indagou Alana.
__ Sim, só precisa de alguém com um bom coração, que dê essa chance a ela! Duda é a próxima da fila dos transplantes e não terá outra chance. Seu tempo está se esgotando.
Alana se afastou do leito, abraçando o próprio corpo. Sentia um frio estranho percorrer sua espinha.
__ Vou à UTI ver Mike. - suspirou.__Como faço para falar à respeito das doações. Dói perder meu único filho, mas dói também ver ela assim, sofrendo.
Fran sorriu e abraçou a amiga.
__ Com certeza Deus vai te recompensar em dobro, Alana!
__ Nem sei se acredito mais nele, Fran!Nesses últimos dias, andei perdendo minha fé!
__ Uma coisa que aprendi nessa vida, é que Deus escreve certo por linhas tortas e que o fardo que nos dá, ele nos ajuda a carregar.
Alana se virou e sorriu para a cuidadora. 
__ Amanhã, volto pela manhã, para vê-la novamente. Posso?
A moça se aproximou. 
__ Claro. Saio às oito horas, mas Sr. Yan estará aqui e será uma boa oportunidade para conversarem sobre a pequena.
Alana se despediu e saiu acompanhada pela amiga.
__ Alana, peço que não comente com o doutor e com ninguém esta visita que fizemos aqui. A regra é que, quem doa, não conheça quem receba. Estou fazendo as coisas fora das normas, porque a menininha é sobrinha do meu namorado e sei de todo o sofrimento da família.
__ Claro, fica tranquila. Agora, que a conheci, sei que vou tomar a decisão certa. Não posso ser egoísta e pensar só na minha dor. Se depender de mim esta menininha ainda será muito feliz ao lado do pai. E de certo modo, uma parte de Mike permanecerá viva. 
Fran a abraçou e seguiram até ao elevador. Alana desceu na ala da UTI, faltando poucos minutos, para acabar o horário das visitas. 
Entraria e daria um beijo nele apenas, porque já não sentia a sua presença mais.
Assim que avistou o corpinho inerte naquela cama, cheio de aparelhos, seu coração transbordou de amor e teve então, a certeza do que faria. Não era justo com ele e nem com quem necessitava dos órgãos.Com o coração dilacerado deixou o filho e desceu, mal enxergando as placas das alas médicas, devido às lágrimas. Apressada foi à procura do doutor em sua sala. Iria avisar que poderiam preparar as doações.
Enquanto caminhava, pensava em como poderia sobreviver sem Mike. Não acordaria nunca mais com o sorriso alegre e meigo do pequeno...não ouviria seu choro quando fizesse alguma manha...Não sentiria o calor do seu abraço, nem os beijos babados de sorvete de chocolate nas tardes de domingo na praia...A dor era insuportável! 
Duas horas mais tarde, depois de tudo resolvido com a equipe do Dr. Marcello, liberando a doação e todos os papéis assinados, ela saiu para comer alguma coisa fora do hospital e ir para pensão, em que estava hospedada, tentar dormir mais um pouco. O remédio que Fran lhe administrou ainda estava fazendo efeito. Agradeceu mentalmente a amiga pela medicação, porque só assim as noites se tornavam suportáveis.

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