Capítulo XVI

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Capítulo sem correção.

Alana aguardava a chegada de Yan ao hospital naquela manhã de sexta-feira. Finalmente, Duda voltaria para casa para viver uma nova vida com ela e o pai.
Logo cedo, quando tomavam café em uma das varandas, Svetlana o chamou ao escritório, alegando que seus advogados tinham marcado uma reunião de caráter urgente.
As feições de Yan mudaram de imediato ao atender o telefonema.
__ Svetlana, logo hoje, sexta, no dia em que minha filha vai dar alta?
A ruiva falava do outro lado. A voz controlada dele não impediu que a esposa notasse o quanto estava tenso, Yan levantou e se afastou da presença de Alana.
Ultimamente, a cada saída apressada dele para resolver esses assuntos, trazia de volta para ela um Yan tenso e preocupado. Às vezes, Alana tinha vontade de se inteirar mais, mostrar que se importava, porém ele desviava o assunto com algumas desculpas e ela acabava não insistindo.
Apesar de ser sua esposa, sabia qual era o objetivo de estar fazendo parte da sua vida e isso não lhe dava o direito de saber certos assuntos, principalmente dos negócios.
Svetlana, mal olhava em sua cara nas idas até a mansão. De fato, foram três visitas para levar documentos que deveriam ser assinados com mais urgência. Na última, ela monopolizou o marido um bom tempo, trancados na biblioteca. Algumas atitudes de Yan mexiam com Alana e então, ela se deu conta que aquele sentimento, que lhe apertava o estômago, vez ou outra, quando os via juntos, tratava-se de um sentimento como se a qualquer momento pudesse perdê-lo. O ciúme sempre se fazia presente quando se tratava da assistente.
Detestava ver Yan se desmanchar em sorrisos e gentilezas quando a moça dava seu ar na sala da mansão com sua inseparável pasta de documentos. Yan agia com a ruiva bonita, com o charme de conquistador e aquilo destruía Alana por dentro.
Pensou que talvez, pela demora, a reunião já tivesse acabado e eles poderiam estar juntos de uma forma mais íntima. Fechou os olhos e respirou fundo para afastar aquela sensação ruim. O barulho de uma maca sendo empurrada corredor à fora a trouxe de volta para a realidade.
Virou o rosto para olhar o anjinho de cabelos pretos, dormindo, usando um pijaminha com as figuras do Meu Pequeno Poney e seu coração transbordou de amor. A olhando assim, tão serena, podia-se notar alguns traços do filho nela. Embora o os mais marcantes fossem do pai: as sobrancelhas escuras, os olhos negros e os cabelos revoltados. Se achegou para perto da cama e passou os dedos pela face da garota. Ela e a sobrinha estavam criando um laço apertado com a convivência e isso tendia a se tornar um nó muito forte com a volta dela para casa. Eduarda não se lembrava da mãe. No bem da verdade, nunca soube o que significava o amor de uma em sua curta existência. Elen sequer a amamentou.
A cada revelação de Yan envolvendo a irmã e a sobrinha, deixava Alana ainda mais perplexa. A pequena Duda, sempre foi assistida por babás e cuidadoras nos hospitais. Essas eram as figuras femininas atuantes em sua vida e era o motivo pelo qual, ela dengosa, fazia beiço e ficava triste cada vez, que Alana a deixava sob os cuidados de uma delas.
Suspirou, deixando aquele sentimento maternal lhe aquecer o peito. Com Duda em casa, ela daria todo o amor e atenção que a sobrinha merecia.Teriam muito tempo para ficarem juntas. Por isso, toda vez que a visitava se sentia impelida a dar seu carinho e a lhe ensinar o máximo que podia, sempre respeitando sua idade de aprendizado da linguagem de sinais. Eduarda, inteligente, mostrava que tinha assimilado as lições, cada vez que tentava se comunicar com alguém que não fosse a tia.
Certo dia, Duda sinalizou para o pai, dizendo que o amava. Ele sem entender, pediu a Alana que traduzisse os gestos da filha.
Ela sorrindo, viu os olhos escuros de Yan se encherem emocionados e como recompensa, acabou ganhando um beijo terno na boca, que valia para ela, mais do que qualquer salário que ele depositasse em sua conta bancária por serviços prestados à sobrinha.
Alana voltou sua atenção a arrumação da mala de Duda, sorrindo com as lembranças, repassando tudo o que havia acontecido naqueles últimos dias.
Tinha ido a um médico geneticista e Yan fez questão de lhe acompanhar para que pudessem tirar todas as dúvidas. Ambos fizeram os exames pedidos e só esperavam os resultados para o médico estipular os dias mais propícios, depois da cerimônia cigana, para ela engravidar. O doutor explicou que o método que usava , não garantia em 100% a gestação de um feto do sexo masculino e o fato de não suprir as expectativas de Yan, a deixou um tanto preocupada. Temia sua reação caso, engravidasse de uma menina. Mas por hora, preferiu se concentrar na volta da Eduarda para casa.
Yan se mostrava um ótimo companheiro, caminhavam todas as tardinhas à beira mar, conversavam amenidades, mas nunca entravam em assuntos sentimentais. Isso eles deixavam para expressar em forma de carícias na cama. Ele a cada dia mais carinhoso, lhe proporcionava conhecimento de seu corpo e do dele. A timidez estava dando lugar para que a mulher, que antes se achava incapaz de se deleitar num orgasmo ou de dar prazer a um homem, aflorasse. As noites eram aguardadas com ansiedade e Alana acreditava que Yan sentia o mesmo, tamanha era a fúria com que a acariciava e beijava, quando a porta do quarto se fechava atrás deles.
De dia, quando não ia ao hospital, com a ausência dele na casa, sentia sua falta. Os laços não estavam só sendo criados com a sobrinha, mas com o marido também. Apesar de toda aquela situação inusitada, estava sentindo uma felicidade nunca antes experimentada.
Seu corpo pegava fogo só em lembrar o quanto os dois eram bons no jogo erótico. E como Yan havia garantido, a noite de núpcias era esperada com ansiedade por parte dela. Estava ficando cada dia, mais difícil de controlar o desejo de se entregar completamente a ele.
Para diminuir a ansiedade e ocupar o tempo ocioso, expôs a Yan sua vontade de usar uma das salas no terceiro andar e transformá-la numa espécie de lugar para o aprendizado de Eduarda. Um espaço que fosse só delas e que encantasse a pequena.
O sorriso e a frase dele ainda dançavam em sua mente, quando disse o que queria, como se pedisse uma permissão.
Estavam dentro da banheira, cheia de espuma e ele deslizava as mãos em suas costas. Yan tinha acabado de lhe dar mais um daqueles gozos intensos, que a deixavam sempre de pernas bambas e lânguida, como se estivesse experimentado pela primeira vez, uma droga poderosa.
"Você é a dona desta casa. Pode fazer o que quiser e onde quiser. Vou providenciar um cartão para que possa comprar o que for melhor para minha filha. Acho estranho que ainda não se sinta minha esposa. Ponha na sua cabeça que você é. Tome as decisões que bem lhe agradarem, Alie! Não precisa de minha permissão para nada!"
E assim, ela agiu. Como o dinheiro agilizava muitas coisas, em menos de três dias, o espaço estava pintado de rosa, azul claro e amarelo. Uma mesa amarela e redonda, com quatro cadeiras baixas, para realizar trabalhos escolares e duas estantes coloridas, para armazenar livros, material escolar e brinquedos pedagógicos, foram colocadas lá.
Alana passou quase que um dia inteiro, comprando tudo o que achava que precisaria e uma boa parte da noite organizando tudo em potes e recipientes adequados. O espaço ainda contava com um tapete educativo em EVA e tinha virado uma sala de aula, de uma escolinha, autêntica.
Ao final, chamou o marido para que visse o resultado de tanta dedicação.
O levou pela mão corredor à fora, na manhã anterior, antes de tomarem café. Cobriu seus olhos com as mãos delicadas e o guiou até a entrada e quando chegaram no meio do ambiente, seus olhos foram desvendados.
Em silêncio, ele observou sério o local.
Alana, ansiosa, indagou:
__ E aí, o que achou? Será que Eduarda irá gostar? Fala alguma coisa, por favor! - suplicou com as mãos cruzadas em frente ao corpo.
Ele abriu um daqueles sorrisos de derrubar qualquer mulher, lhe encarando.
__Isso aqui ficou incrível! - exclamou.__ Pensou nisso tudo sozinha?!
Alana respirou aliviada. Tinha gastado uma pequena fortuna, tempo, esforço e ficaria muito decepcionada se ele não aprovasse.
__Pensei em fazer um lugar onde ela tenha prazer em aprender. O conjunto da obra faz a diferença para uma criança se interessar pelas letras, números... livros...
Yan caminhou pelo local, tocando nos objetos coloridos, nos brinquedos, na infinidade de tintas, canetas e lápis, todos arrumados metodicamente sobre as estantes. Tudo ali, na arrumação denotava seus traços perfeccionistas.
__Você é perfeita! É como se...- procurou as palavras certas.__ ...como se tudo o que toca se tornasse especial!
__Sua filha merece. - ela sorriu.__Amo trabalhar com crianças! Elas são a renovação da vida...a alegria de uma casa...Por isso, concordei em ter um filho, mesmo não sendo nos modos convencionais. Crianças ensinam lições valorosas aos adultos, sabia?
Yan juntou as sobrancelhas.
__Elas nos mostram que não vale a pena sermos orgulhosos. Já viu como se comportam quando brigam com um amiguinho? Uma delas sempre dá o braço a torcer...porque pra elas mais vale o prazer de brincar, de viver, do que o orgulho. Se um dia parasse para observá-las se surpreenderia!
Yan atravessou a sala parando a sua frente. Envolveu seu rosto com as mãos, fixando seus olhos na face faceira dela. Alana derreteu diante daquele olhar. Se fossem um casal normal, juraria que eles transmitiam amor.
__ Estou feliz, que se importe com Eduarda.
__ Ela é minha sobrinha, sua filha e...- calou-se.__e eu a amo muito já.
Alana quase deixou seu pensamento se verbalizar. Quase disse que o amava e aquela revelação, surpreendeu até ela mesma.
Mas a magia do momento foi quebrada com a comparação.
__ Se fosse sua irmã, teria gastado toda essa grana em roupas, sapatos e futilidades. Arrumaria uma babá formada em Pedagogia e pronto, tudo estaria resolvido para ela!
__ Elen sendo Elen...- sorriu sem jeito.
Tudo o que fazia, parecia lembrá-lo de que sentia muito ela não ser a irmã. Yan ainda a amava, disso Alana teve certeza...e por noites, se indagou como ele reagiria se Elen quisesse retomar sua vida com a filha e por tabela com ele. Mais uma vez, a angústia se apoderou de seu íntimo. Em se tratando de Elen e de seus encantos como mulher, não seria difícil prever que um homem apaixonado, a quisesse de volta, perdoando seus erros. Quantos casos já escutara sobre relacionamentos assim?!
Alana suspirou e olhou o relógio na cabeceira da cama da sobrinha. Já passava das dez horas.
Ainda de costas, sentiu sua nuca formigar e virou-se de imediato, dando de cara com o homem que fazia de suas noites serem a melhor parte do dia . Seu coração saltou, o vendo se aproximar.
___ Desculpa a demora. Cheguei faz uma hora, mas estava na administração resolvendo a alta de Eduarda. Como está? - beijou de leve sua boca.
Ela sorriu olhando para a cama da sobrinha.
__ Ansiosa para levá-la embora. Acho que vou deixar para dar banho nela em casa com mais tranquilidade. Eduarda agora, além de cuidados, precisa do nosso carinho e nada melhor do que alguém que a ama de verdade para fazer certas coisas com ela. E você irá me ajudar! - disse categórica.
Yan a segurou pela cintura, juntando seu corpo no dela.
__ Farei tudo o que minha esposa quiser. - riu e no próximo segundo, a seriedade voltou ao seu semblante, o analisando.__Eu sabia que não iria me decepcionar com você.
Alana acariciou sua barba. Pensou em criar coragem e dizer que estava perdidamente apaixonada por ele.
__Yan...? - pausou, repensando, a confissão.__ Eu quero te dizer que estou muito feliz por meu filho ter salvado a vida de Eduarda...por tê-la encontrado...por me permitir ter alguém para amar novamente.
Yan fez uma careta, de contra gosto, sorrindo.
__ Só por Duda? - ele roçou as pontas de seus cabelos.__ Ou estou incluído no pacote:"Felicidade de Alana"?
Ela mordeu a boca para segurar certas palavras, sorriu e intensificou o olhar no seu.
__O meu pacote de felicidade é completo. Seria uma grande mentirosa se dissesse que não me sinto bem e segura ao seu lado. Você faz parte dele.
Ele a puxou para um abraço e aspirando fundo o perfume de seus cabelos, deixou o ar sair todo de uma vez.
___ Ah, Alie, minha querida, porque não a conheci antes?! Tudo teria sido tão mais fácil! Vou repetir a frase: "Você é especial.", como um mantra para espantar meus pesadelos quando eles vierem me atormentar. Meu filho nem sabe a sorte que terá, nascendo de você!
Yan segurou seu rosto entre as mãos e a beijou, mas foram interrompidos pelo mexer da cama.
Eduarda, sentada, como os cabelinhos desgrenhados, sorria para os dois, que se soltaram e foram para beira dela.
Alana usou Libras para se comunicar com a sobrinha. Os cumprimentos ela já havia lhe ensinado.
Passou o dedo mindinho da esquerda para a direita em frente ao corpo.
"OI!"
A sobrinha um pouco sem jeito, devolveu o sinal.
A tia continuou sinalizando e Eduarda entendeu:
"Diga Oi para o papai, Duda."
Ela balançou o minguinho, sorrindo para o pai.
Alana olhou para Yan.
__Faça exatamente como ela e acrescente este sinal. - com a mão em punho, levantou o polegar, o indicador e o minguinho.__Significa "eu te amo."__ Ela entenderá, já ensinei.
Yan obedeceu.
A garotinha sorriu, devolveu o sinal e tentou sair da cama, mas o pai a segurou no colo.
A tia explicou a ele:
__ Duda disse que também te ama. - piscou.
No fundo desejou que tudo entre ela e Yan fosse tão simples quanto ensinar Duda a mostrar aquelas palavras em LIBRAS.
Alana voltou sua atenção à menina:
"Por enquanto, não pode sair por aí. Hoje, nós vamos para casa."- sinalizou formando um teto com as mãos juntas e com o indicador mostrou os três.
A menina entendeu e repetiu o sinal, fazendo uma casinha com os dedos com ares de indagação.
"Sim, para casa. Com o papai. - bateu no buço com o indicador dobrado e mostrou Yan.
Yan estava encantado. Em tão pouco tempo, Alie tinha conseguido, estabelecer diálogos simples com a filha!
__ Parece tudo tão fácil, Alie! Como conseguiu em apenas algumas semanas fazê-la assimilar isso?
__Yan, Duda é uma criança com deficiência auditiva, não retardada! - ela riu, arrumando os lençóis da cama.__ Muito ao contrário, crianças assim, desenvolvem, em substituição a audição, outros sentidos. Percebem e captam tudo a sua volta. Desde um olhar diferente até o modo como sorri. Captam a tristeza, a preocupação... Quanto mais cedo aprenderem, menores serão suas frustrações em relação a comunicação. Em breve, você dominará Libras. Será tão natural conversar fazendo os sinais, quanto transformar as palavras em sons!

Libras é a sigla da Língua Brasileira de Sinais, uma língua de modalidade gestual-visual onde é possível se comunicar através de gestos, expressões faciais e corporais. É considerada uma língua oficial do Brasil desde 24 de Abril de 2002, através da Lei 10.436.

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